Estudo da Carta de Paulo aos Romanos

A Justificação pela Fé ao Alcance de Todos

Expedito Batista Filho – Bacharel em Teologia pelo SETECEB e Pastor da Igreja Cristã Evangélica de Fortaleza





ÍNDICE

1a PARTE:

I. INTRODUÇÃO.................................................................................4

2a PARTE:

II. A SÍNDROME DA HUMANIDADE DECAÍDA.................................6

2.1.Manifestação da ira de Deus

2.2.Manifestação de Deus aos homens os torna indesculpáveis

2.3.Modos insolentes do homem sem Deus

2.4.Medida cheia de iniqüidade

2.5.Moralistas egocêntricos

2.6.Mestres da lei, porém condenados

2.7.Mundialmente mortos, universalmente condenados

3a PARTE:

III. A SALVAÇÃO DE DEUS EM CRISTO.........................................12

3.1.A fonte da salvação – Cristo Jesus

3.2.A função da salvação – Cura universal

3.3.A finalidade da salvação – Alcançar os que desejam viver por fé

3.4.A frutificação da salvação – Permanente e abundante

4a PARTE:

IV. A SANTIFICAÇÃO DO HOMEM EM CRISTO.............................20

4.1.Santificação – União com Cristo

4.2.Santificação – Unidos a Cristo e libertos do legalismo

4.3.Santificação – Unidos a Cristo e santificados pelo Espírito Santo

4.4.Santificação – Unidos a Cristo e assistidos pelo Espírito Santo

5a PARTE:

V. A SOBERANIA DE DEUS EM CRISTO.......................................33

5.1.Exórdio da Soberania de Deus

5.2.Eleição Soberana de Deus em relação a igreja

5.3.Eleição Soberana de Deus em relação a Israel

6a PARTE:

VI. A SUPERIORIDADE DO SERVIÇO CRISTÃO............................49

6.1.O Serviço cristão inteligente

6.2.O Serviço cristão e os dons do Espírito Santo

6.3.O Serviço inteligente e as virtudes cristãs

6.4.O Serviço cristão e o segredo da paz interior

6.5.O Serviço cristão e a submissão às autoridades

6.6.O Serviço cristão e a interação pessoal

6.7.O Serviço cristão e o ministério pessoal de Paulo

7a PARTE:

VII.CONCLUSÃO...............................................................................61

7.1.Carta de recomendação

7.2.Cumprimentos finais

7.3.Conselhos finais

7.4.Cumprimentos de alguns amigos de Paulo aos crentes em Roma

7.5.Cântico de louvor e adoração

I. INTRODUÇÃO

O Evangelho de Jesus Cristo ao alcance de todos os povos é a proposta principal da epístola de Paulo escrita à comunidade Cristã de Roma, e que representa um documento central e essencial à fé Cristã. Foi através dela que os mais destacados reformadores do século XVI, tais como John Huss, Martinho Lutero, João Calvino, Jerônimo Savanarola, entre outros, encontraram a corroboração e a base de sua argumentação teológica para a fundamentação de suas convicções, da necessidade de mudança na teologia da igreja estabelecida, no sentido de torná-la mais fiel às suas origens. Foi por esta singela razão que o próprio Lutero a denominou O livro Mestre do Novo Testamento, e o mais puro evangelho, digno e merecedor de que o Cristão não só o conheça de cor, palavra por palavra, como também com ele se ocupe diariamente, na qualidade de pão diário para a alma.

A carta expõe aos seus leitores a essência do evangelho de Deus em Cristo. Uma mensagem que orienta o Cristão a não mais viver à sombra do legalismo judaico e sim à luz da justificação pela fé - Ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei, segundo o pensamento de Paulo em Romanos 3: 20. A graça divina torna-se o cerne da doutrina de Paulo nesta carta. Foi acertadamente apresentada em primeiro lugar na ordem das epístolas por ser a expressão mais completa no Novo Testamento sobre as verdades do Cristianismo. Verdades essas que mudaram as vidas de grandes homens, transformando-os em servos abnegados e incansáveis na obra do Mestre. As declarações apresentadas na obra de Paulo, sem dúvida alguma, representam o que de mais profundo existe para que o homem de Deus tenha uma vida piedosa e, sobretudo, autêntica.

Paulo encontrava-se na cidade de Corinto, hospedado em casa de Gaio (Romanos 16:23), em sua terceira viagem missionária, quando a epístola aos romanos foi escrita. Ele ditava inspirado, sob a orientação do Espírito Santo, tendo Tércio como seu amanuense. Paulo vislumbrava com ansiedade e ardor missionário a possibilidade de visitar Roma, a capital imperial e centro governamental daquela época, para daí então efetuar sua mais ambicionada viagem - desejava levar o evangelho de Jesus Cristo à Espanha, o limite do mundo civilizado – e Roma representava para ele a principal base missionária e o melhor ponto de apoio na concretização de seus objetivos, além dos quais Paulo desejava lançar bases sólidas para as doutrinas da fé cristã na comunidade de Roma. A carta de Paulo aos romanos significa para a teologia cristã de nossos dias a mesma essência, valor e autoridade que representou aos crentes nos primórdios da igreja. Por esta razão não podemos deixar de estudar com firmeza e propósitos de coração, as riquezas dos detalhes desta carta. Cada um dos tópicos foi cuidadosamente selecionado para que sejamos bem instruídos e edificados acerca dos propósitos divinos para a nossa salvação, santificação e serviço cristão.

·

Tema: A simplicidade do evangelho ao alcance de todos

(Romanos 1:1 – 17)

Os caminhos do Evangelho de Deus são conhecidos, quando tomamos consciência do significado da pessoa de Jesus Cristo, dos valores por Ele ensinados e da vida oferecida em favor de todos os homens mediante o sacrifício na cruz do Calvário. Foi com este sentimento que Paulo, ministro das verdades de Deus e vocacionado para ser mensageiro aos gentios das insondáveis riquezas do Todo Poderoso escreveu esta epístola aos romanos com a finalidade de solidificar a fé e a comunhão em Cristo Jesus. O evangelho de Deus em Cristo é apresentado de maneira sintética logo nos primeiros versículos da epístola aos Romanos - “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus”. Na seqüência Paulo esboça o mesmo pensamento do tema: Evangelho de seu filho (Rom 1:9); Anunciar o evangelho (Rom 1:15), e ainda nos versos 16 e 17 do capitulo um “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê...” (Romanos 1: 16). Paulo considerava–se devedor do evangelho de Cristo tanto a gregos como a bárbaros. Os gregos eram tidos como os intelectuais da época. A despeito do conhecimento e de sua vasta cultura, não conheciam a grandeza e o poder do evangelho de Jesus Cristo para a salvação da alma, corpo e espírito. Já os bárbaros eram os ignorantes da época (verso 14). É por este motivo que Paulo estava pronto para anunciar o Evangelho não somente aos gregos e bárbaros, mas também aos judeus e gentios, que representavam o universo cultural de seus dias. A epístola aos romanos foi escrita por volta do ano 56 da era Cristã, por ocasião da terceira viagem missionária de Paulo na cidade de Corinto, na Grécia.

· Versículo chave:

“Pois não me envergonho do Evangelho porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Romanos 1:16).

II. A SÍNDROME DA HUMANIDADE DECAÍDA (ROMANOS 1:18-3:20)

“E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes” (Rom 1:28).

A primeira divisão da epístola de Paulo aos romanos começa por apresentar a real situação do mundo perante Deus. Um quadro que retrata a pecaminosidade e as tendências doentias do homem sem o temor a Deus. Este estado contrário aos princípios divinos é apresentado por Paulo, manifestando a indignação de Deus:

2.1. Manifestação da ira de Deus:

“A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Rom 1:18).

· A ira de Deus: É um sentimento consciente, inerente de Deus, cuja santidade é absoluta e cuja natureza não abriga o pecado. O termo ira no original grego orgh (orguê) é usado para exprimir a indignação de Deus contra o pecado. A ira de Deus é santa: -"Ó Deus, por que nos rejeitaste para sempre? Por que se acende a tua ira contra o rebanho do teu pasto?” (Salmo 74:1).

· A ira de Deus é disciplinadora: Tem por objetivo a educação do homem no âmbito social, espiritual e psicológico, com a finalidade de preservar a pureza na sociedade e, em particular, na igreja. (Salmo 6:1; 38:1).

· A ira de Deus é amorosa: Deus disciplina porque ama –"Não tornarás a vivificar-nos, para que o teu povo se regozije em ti?” (Salmo 85:6); “ Dirás naquele dia: Graças te dou, ó Senhor; porque, ainda que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me confortaste.” (Isaías 12:1).

· A manifestação futura da ira de Deus: Destaca o aspecto escatológico do Grande e Terrível Dia do Senhor – O dia da grande ira de Deus, um dia de vingança! – “O Senhor, à tua direita, quebrantará reis no dia da sua ira. Julgará entre as nações; enchê-las-á de cadáveres; quebrantará os cabeças por toda a terra". (Salmo 110:5,6) “...e esperardes dos céus a seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira vindoura.”(1 Tessalonicenses 1:10).

· A ira de Deus é justa dikaioV (díkaios) Proveniente de um caráter justo (Romanos 1:18; 5:9; 9:22; Efésios 5:6; Colossenses 3:6; 1 Tessalonicenses 2:16; Hebreus 3:11; 4:3). Deus tem o tempo certo para manifestar sua indignação a todos aqueles que desobedecem as suas leis. Não cabe ao homem determinar vingança ao seu semelhante dentro da ordem de sobrevivência no campo dos relacionamentos e das incompatibilidades. Deus ama a todos e sabe como agir!

2.2. Manifestação de Deus aos homens os torna indesculpáveis: (Romanos 1:19, 20).

Deus revela-se aos homens através de seus atributos. Eles são:

· Seus atributos invisíveis: Deus é Eterno (Salmo 90:2); Infinito (Salmo 145:3); e Imutável (Tiago 1:17; Salmo 102:27; Malaquias 3:6). Deus é invisível, mas se revela pessoalmente ao homem através de Jesus Cristo, a encarnação e manifestação do Todo Poderoso – “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas” (Hebreus 1:3).

· Seu eterno poder: (Salmo 21:13; 66:7; 93:1). O poder de Deus é revelado no Evangelho de Jesus Cristo mediante a ação de Deus em todos os tempos para a salvação graciosa de todos os povos – “porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou” ( Romanos 1:19 ). Na pessoa e no ministério de Jesus Cristo os homens puderam contemplar a manifestação e as realizações do poder visível de Deus – “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens” (João 1:4).

· Sua própria divindade: (Salmo 19:1-4) –“Claramente se reconhecem desde o princípio.” Isto é, são facilmente percebidos. A manifestação de Deus é evidente aos homens desde o princípio da criação. A terra e os céus, bem como tudo que Deus criou, seus atributos visíveis e invisíveis revelam a existência de Deus e seu grande e eterno poder. Assim a humanidade não poderá desculpar-se quando comparecer diante de Deus por ocasião do Juízo Final.

2.3. Modos insolentes do homem sem Deus (Romanos 1:21-23)

· Não glorificam a Deus.

· Não lhe dão graças.

· Nulos em seus próprios raciocínios.

· Não possuem mente sã.

· Não reconhecem o valor da verdadeira adoração, são por isso idólatras.

2.4. Medida cheia de iniqüidade (Romanos 1:24-32)

· Pecado de idolatria:Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente, amém!”. (Romanos 1:25).

· Pecado de homossexualidade feminina: “Porque até as suas mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas, por outro contrário à natureza” (Romanos 1:24-26). A ilha grega de Lesbos era o reduto da homossexualidade feminina da Grécia antiga, daí o termo “lesbianismo” referir-se hoje em dia à prática da inversão sexual – tais criaturas mergulharam na licenciosidade de seus desejos carnais, a fim de praticarem toda sorte de aberrações sexuais, contrárias à natureza.

· Pecado de homossexualidade masculina: “Semelhantemente os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição de seu erro" (Romanos 1:27).

“Semelhantemente...” omoiwV (rómoiós) define que o versículo anterior está tratando especialmente da inversão feminina, e não de qualquer outra perversão sexual, como se poderia deduzir da expressão “mudaram o modo natural de suas relações íntimas, por outro contrário à natureza...” O termo “semelhantemente” justapõe os dois versículos no mesmo tema.

“Se inflamaram...” exekauqhsan (aoristo passivo do verbo ekkaios) significa literalmente “atear fogo”; “ser consumido”. É o que acontece com o prazer libertino, que é contrário à vontade divina. “Semelhantemente os homens arseneV (ársenes) mutuamente se inflamaram... cometendo torpeza aschmosunen (askheimossunen), homens com homens, e recebendo em si mesmos a merecida punição de seus erros” (romanos 1:27).

“Por isso Deus entregou tais homens à imundícia...” O que significa dizer que Deus permitiu que os mesmos sofressem em seus próprios corpos as conseqüências de seus pecados. O texto não declara que Deus aceita ou consente tais pecados.

· Pecado contra o próximo:

“Cheios de toda injustiça...” Esta frase abre um leque de pecados que a humanidade sem o temor a Deus tem praticado contra o seu semelhante. Por que motivo? “Por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes” (Romanos 1:29).

“Disposição mental reprovável...” adokimon noun (adókimon noûn). A expressão significa “uma mente reprovada, que não passa no teste” Vejamos na seqüência o significado das palavras dos versículos 29 a 31:

“Injustiça” - adikia (adikia) Indica os vários tipos de danos que o ser humano pode causar ao seu próximo.

“Malícia” - kakia (kakia) Tendência maligna de um indivíduo que procura pensar apenas o pior em relação ao seu semelhante. Uma espécie de má vontade que desperta atitudes de sagacidade.

“Avareza” - pleonexia (pleonexia) Apego ao dinheiro, falta de generosidade, mesquinhez. Desejo ganancioso para possuir bens materiais. Ambição cobiçosa desmedida para com as riquezas.

“Maldade” - ponhria (ponería) Representa o espírito de perversidade, crueldade e malvadeza contra o próximo.

“Inveja” - fqonou (fthonou) Paulo usa o termo mestouV (mestous) “cheios” indicando assim a completa imersão da mente humana no pecado de inveja. Descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus para ser crucificado (Mateus 15:10).

“Homicídio” - fonou (fónou) Ou “assassinato” , que é o ato de tirar a vida do semelhante. Resultado de uma atitude de desprezo para com a vida humana.

“Contenda” - eriV (éris) Questões pessoais que produzem discussões e que resultam em agressão física.

“Dolo” - dolou (dólou) Revela o espírito enganador da humanidade. Tem um sentido totalmente negativo. Jesus elogiou a Natanael, porque nele não havia dolo, esperteza ou espírito de falsidade (João 1:47).

“Malignidade” - kakohqeiaV (kakoetheias) O termo aparece uma única vez neste versículo e trata de um sentimento pernicioso, sendo uma perversão do espírito e da alma do homem, pelo maligno. É Satanás que leva o ser humano a deleitar-se na maldade.

“Difamadores” - yiquristaV (psithyristás) Língua ferina, serpente venenosa... São aquelas difamações que as pessoas sem o temor de Deus fazem em segredo (cochichadores), em outro sentido, expressa a atitude do homem que destila seu veneno contra o próximo, ou com intenções negativas em relação ao próximo.

“Caluniadores” katalalouV (katalalous) São aqueles que fazem murmurações, críticas e difamações, abertamente; em outras palavras, são fofoqueiros.

“Insolentes” - ubristaV (ybristás) Este termo denota uma mistura de crueldade e orgulho; representa a insolência orgulhosa e o desprezo por outras pessoas, que revela-se na crueldade do sádico prazer de contentamento diante do sofrimento alheio.

“Soberbos” - uperhfanouV (hyperefánous) Pessoas que se conduzem com arrogância e orgulho, insultando e humilhando os incapazes e indefesos.

“Presunçosos”alazonaV (alazónas) Atitude de vanglória, egoísmo, jactância; o termo originou a palavra “alazão” aplicado a determinada raça de cavalo em referência a seu porte garboso, altivo, orgulhoso.

“Inventores de males”efeuretaV kakon (efeuretás kakôn) Revela o espírito do homem que é intelectual e espiritualmente oposto aos princípios da Palavra de Deus; fala da insensibilidade moral e espiritual do homem sem o conhecimento de Deus. O termo pode ser ainda empregado para se referir a alguém que age com infidelidade, um quebrador de pactos e alianças.

“Pérfidos”asuvetouV (asýnetous) Indivíduos que se dão a enganar a boa fé do próximo, ou seja, pessoas que agem com falsidade e espírito de engano, traindo a confiança alheia.

“Sem afeição natural” - astorgouV (astórgous) Aqueles que não se importam com o bem-estar do semelhante. Fala da desumanidade que impera na raça humana. Nos dias de Paulo esse quadro era bem vivo e real, pois se via com freqüência todo tipo de atrocidades sendo cometidas contra pessoas inocentes e indefesas.

“Sem misericórdia”anelehmonaV (aneleémonas) A palavra misericórdia significa “ter compaixão de” ; representa o sentimento que se derrama em amor para com aqueles que necessitam de ajuda. Uma pessoa “sem misericórdia” é aquela que se encontra longe do caminho de praticar tais bondades. A propósito, conta-se que Nerus Publius, imperador romano, ainda na infância se divertia torturando insetos, arrancando-lhes as asas, as pernas, etc., obtendo disto, prazer.

· Pecado contra Deus (Romanos 1:30)

“Aborrecidos de Deus” – qeostugeiV (theostugueis) Termo utilizado somente aqui neste versículo, representando a face diabólica daqueles homens que são odiadores de Deus, sem afeição natural.

“Impiedade” (18 a) Fracasso religioso.

“Perversão” (18 b) Fracasso moral...Injustiça.

· Pecado contra os pais (Romanos 1:30):

“ Desobedientes aos pais”. Veja o que declara Efésios: 6:1-4.

“Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. Neste caso, qual é a sentença de Deus para os que tais coisas praticam? A resposta é muito clara: a morte eterna! “Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem”

2.5. Moralistas egocêntricos (Romanos 2:1-16)

Nesta divisão da epístola, Paulo trata especificamente sobre aqueles que se consideram detentores das verdades moralizadoras.Tais são conhecidos como auto-suficientes e egocêntricos, semelhantes a alguns dos fariseus, segundo as palavras de Jesus no evangelho de Lucas 18:11.Tais falsos moralistas são julgados por Deus, porquanto suas vidas não representam aquilo que declaram ser. Deus tem outros critérios de julgamento, bem diferentes dos arrogantes. Vejamos alguns desses critérios divinos de julgamento:

· Julga segundo a verdade (Romanos 2:2-4).

· Julga com certeza absoluta (Romanos 2:5).

· Julga com eqüidade (Romanos 2:6-8).

· Julga sem fazer distinção (Romanos 2:9-11)

· Julga de conformidade com o evangelho (Romanos 2:12-16).

2.6. Mestres da lei, porém condenados (Romanos 2:17-3:8)

Os judeus, apesar de conhecedores da lei de Moisés, de se auto-intitularem professores da lei, são, pela própria lei, condenada. Os princípios de justiça divina são igualmente aplicáveis aos judeus, sem levar em consideração os privilégios por eles gozados, nem suas pretensões pessoais. Paulo declara que a religião verdadeira é aquela que emana do mais íntimo do coração que teme a Deus e obedece a sua palavra com sinceridade e verdade, ao contrário da que se fundamenta no puro ritualismo formal (Romanos 2:28-29).

· Os cinco motivos de vanglória dos judeus:

ü Têm por sobrenome judeu (Romanos 2:17a).

ü Repousam na lei de Moisés (Romanos 17 b).

ü Gloriam-se em Deus (Romanos 2:17 c).

ü Aprovam as coisas excelentes (Romanos 2:18 a).

ü São instruídos na lei (Romanos 2:18 b).

· As cinco vantagens dos judeus: “Estão persuadidos de que são...”

ü Guias de cegos (Romanos 2:19 a).

ü Luz dos que se encontram em trevas (Romanos 2:19 b).

ü Instrutores de ignorantes (Romanos 2:20 a).

ü Mestres de crianças (Romanos 2:20 b).

ü Tendo na lei a forma de sabedoria e da verdade (Romanos 2:20 c).

· As cinco verdades não vividas pelos judeus:

ü Não praticam aquilo que ensinam (Romanos 2:21 a).

ü Não vivem aquilo que pregam (Romanos 2:21 b).

ü Exortam sobre o adultério e são adúlteros (Romanos 2:22 a).

ü Abominam os ídolos e são ladrões dos templos (Romanos 2:22).

ü Gloriam-se na lei, e são transgressores da lei (Romanos 2:23).

· As cinco verdades de valor da teologia de Paulo:

ü A circuncisão sem lei não tem valor algum (Romanos 2:25).

ü O incircunciso que observa a lei é considerado circuncidado (Romanos 2:26).

ü A religião do formalismo pode ser julgada pela incircuncisão (Romanos 2:27).

ü A aparência exterior nada representa para Deus (Romanos 2:28).

ü A verdadeira circuncisão é interior (Romanos 2:29).

· As vantagens do judeu aumentam, ainda mais, a sua condenação:

Este argumento de Paulo é demonstrado através de um diálogo aberto, evidenciando os privilégios do judeu e sua inevitável condenação (Romanos 3:1-8). Segundo Scofield “para provar a culpa do mundo sem o temor de nosso Deus, Paulo apresenta o testemunho da revelação divina de três formas distintas:

ü Contra o pagão, o testemunho da criação (Romanos 1:19-20)

ü Contra o moralista, o testemunho da consciência (Romanos 2:15).

ü Contra o judeu, o testemunho das Escrituras (Romanos 3:2)”.

2.7. Mundialmente mortos universalmente condenados:

“Como está escrito: Não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus” (Romanos 3:9-20).

· Os Judeus e os gregos estão debaixo do pecado:

ü Falso patrimônio religioso - O judeu e sua cultura religiosa (Romanos 3:9 a)

ü Falsa sabedoria intelectual – O grego e seu vasto conhecimento que envolve ecletismo religioso e vãs filosofias (Romanos 3:9b).

· O mundo inteiro está debaixo do pecado:

ü A universalidade do pecado (Romanos 3:10-12).

ü A totalidade do pecado na vida humana (Romanos 3:13-15).

ü A história humana sob a penalidade do pecado (Romanos 3:16 -18).

· O veredicto final:

“Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que se cale toda boca e todo o mundo fique sujeito ao juízo de Deus; porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado" (Romanos 3:19-20).

III. A SALVAÇÃO DE DEUS EM CRISTO (ROMANOS 3:21-5:1-21)

“Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores (Romanos 5:8).

O segundo tema principal da epístola aos romanos, revela ao homem que a solução para o seu estado de pecaminosidade é a salvação em Cristo. Ele é a única alternativa de justificação para o homem perdido no pecado. Se o homem não apegar-se às promessas e verdades da palavra do Senhor, torna-se impossível alcançar a nova vida em Cristo.

3.1. A fonte da salvação - Cristo Jesus (Romanos 3:21-28):

O tema principal – A salvação em Cristo (Nova Vida!).

O ensino principal – A justificação em Cristo (Nova posição!).

Para que esta fonte possa jorrar e as bênçãos decorrentes da justificação venham a fluir manifesta-se o tribunal divino, que julga e justifica retamente.

· O reto juiz (Romanos 3:21, 22,25 b, 26) – É aquele que exige a ação da verdadeira justiça... Quem é o juiz que julga retamente? Deus, o Todo Poderoso e guardião de nossas almas. Dele procede a decisão para julgar.

“Justiça” - dikaiosunh (dikaiosúnê) O adjetivo“justo” dikaios (díkaios) revela

o caráter de quem decide com eqüidade em favor da humanidade. A obra expiatória de Cristo torna possível o ato de justificação em favor do homem, pois Deus clama dos céus por justiça, e esta encontra sua resposta na pessoa de Jesus Cristo.

· O réu acusado (Romanos 3:19-23) – É aquele que transgride a lei sem justa causa, por isso é processado pela ordem judicial divina. O gênero humano é o maior infrator da lei desde o princípio.

“Justificação” - dikaiosiV (dikaiósis) Significa “vindicação” ou “absolvição” - Declarar justo o pecador de sua culpa. Somente Deus tem autoridade absoluta para declarar absolvição ao homem (Romanos 3:26). Este ato de reconhecimento só será viabilizado mediante a redenção em Cristo Jesus.

· O reto advogado (Romanos 3:24; 1 João 2:1) – É aquele que se apresenta como redentor do réu. O reto advogado defende com base no amor, que é sem igual. O redentor usa dois meios para efetuar a absolvição do réu sentenciado. Seus métodos não são humanos, nem tão pouco são obras da lei (Romanos 3: 27-28). Os meios possíveis são:

“Redenção” - lutrwsin (lútrôsin) – Significa literalmente “conceder redenção ou livramento” (Lucas 1:68) e “livramento na forma intensiva” apolutrwsiV (apolútrosis). O preço pago para que fosse possível a libertação do réu resultou em derramamento de sangue, compensação exigida pela redenção e propiciação de nossos pecados.

“ Propiciação” - ilasterion (hulasteríon) Romanos 3:25; 1 João 2:2 - Ato de ser favorável, mediante a expiação dos pecados. Deus é propício ao homem por meio da graça e do perdão.

3.2. A função da salvação (Cura universal):

“Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:23; 3:29-31).

· A salvação dos judeus (Romanos 3:29 a) – “É, porventura, Deus somente dos judeus?” De maneira alguma! A vontade de Deus é que todos sejam salvos.

· A salvação dos gentios (Romanos 3:29 b, 30) – “Não o é também dos gentios? Sim, também dos gentios!” O mundo é dividido nestas duas grandes culturas. Uma tornou-se grande, inumerável, como a areia do mar, pelo fato de ser a nação escolhida de Deus. A outra, o alvo do amor de Deus para a formação da igreja, que, nos primórdios da fé cristã, veio pela união de judeus e gentios – “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus...” (1a Pedro 2:9 a).

ü O alcance da doença do pecado é universal.

ü O alcance do remédio contra o pecado também é universal.

ü O alívio da conseqüente enfermidade do pecado encontra-se na pessoa de Jesus Cristo.

Nota: A função da justificação pela fé não é anular a lei de Deus, mas, sobretudo confirmá-la no coração humano (Romanos 3:31).

3.3. A finalidade da salvação (Alcançar os que desejam viver por fé):

· O Testemunho de Abraão (Romanos 4:1-5, 9-25).

Abraão é notavelmente reconhecido em toda a história do Velho Testamento como um homem justo e de boas obras. Entretanto não foi justificado por aquilo que realizou.

ü Sua justificação se deu unicamente pela fé (Romanos 4:4, 9).

ü Sua justificação não dependeu de esforço humano (Romanos 4:5).

ü Sua justificação não dependeu do sinal visível da circuncisão (Romanos 4:9-12).

Nota 1 A grande misericórdia de Deus que se revelou aos homens através dos tempos, demonstra que Ele sempre esteve preocupado com o homem e sua história. Abraão não foi o único a experimentar a bondade e a misericórdia de Deus, mas todos quantos se aproximaram dele encontraram refúgio e salvação.

Nota 2 A circuncisão, sinal visível da aliança de Deus com o povo de Israel, não conferiu nenhuma bem-aventurança, mas simplesmente confirmou a justificação pela fé, já consumada em sua vida. Pois não é pela prática da circuncisão nem pela observância da lei de Moisés que o homem é justificado diante de Deus. Sua justificação resultou em bênçãos (Romanos 4:13-25).O resultado da justificação habilita-nos para uma herança incorruptível com valores superiores.

A herança prometida (Romanos 4:13, 14). Abraão recebeu a promessa de ser herdeiro do mundo. Porque não foi pela lei que veio a Abraão, ou à sua descendência, a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo, mas pela justiça da fé" (Romanos 4:13).

A herança foi prometida mediante a fé (Romanos 4: 16 a) “... a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência...”

A herança foi conferida aos herdeiros legais. Quem são os falsos herdeiros? Aqueles que tentam herdar através das obras da lei (Romanos 4:14). Quem são os verdadeiros herdeiros? Aqueles que são descendentes de Abraão segundo a fé. A exemplo disto temos o caso de Sara, (Romanos 4:16, 18-22) e que tem sua confirmação nos redimidos em todos os tempos (Romanos 4.16,17, 23-25).

· O Testemunho de Davi (Romanos 4:6-8):

Abraão foi reconhecido em toda a sua história como o “amigo de Deus” e Davi, um homem “segundo o coração de Deus”. Quais foram as declarações que Davi fez em relação à justificação em Cristo?

Bem aventurado é o homem que é justificado por Deus - “Aquele a quem Deus atribui justiça independente de obras”. (Romanos 4:6; Salmo 32:1-2; Romanos 10:10). E bem aventurados são aqueles cujos pecados são perdoados por Deus - Suas iniqüidades são perdoadas e seus pecados são cobertos. (Romanos 4:7; Coríntios 2:10 Romanos 3:23; Levítico 16:6; Êxodo 29:33). Bem aventurado o homem a quem Deus não atribui culpa - “Aquele a quem o Senhor jamais imputará pecado” (Romanos 4:8).

3.4. A frutificação da salvação (Permanente e abundante):

“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1).

A salvação em Cristo, mediante o ato de justificação, tem uma suficiência universal, isto é, provisão potencial em favor de toda a humanidade. Todavia, sua eficiência é limitada aos que são justificados pela fé. Quais os resultados da justificação pela fé?

· Produz paz com Deus (Romanos 5:1)

O estado de desespero em que se encontra a humanidade, seus conflitos,

crises, pecaminosidade e frustrações, levaram Deus a providenciar por intermédio de Jesus Cristo o caminho pelo qual o homem pode ter paz interior. “Justificados, pois...”

“Temos paz com Deus” - A nossa paz com Deus é a certeza de que nossos pecados foram expiados. A obra redentora de Cristo produz reconciliação entre Deus e o homem, pondo fim na inimizade (Romanos 5:10, 11).

“Por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” - Jesus Cristo, o justo, é o único mediador entre Deus e os homens. Ele nos habilita para que tenhamos acesso ao Pai. “... por meio de Jesus Cristo...” ( Romanos 5:1 ) - “Portanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos” ( 1 Timóteo 2:5,6 ).

· Produz privilégios (Romanos 5:2-5)

Uma das vantagens da justificação é a garantia que temos do acesso gratuito à presença de Deus.

Um novo e vivo caminho (Romanos 5:2) “... acesso pela fé, a esta graça na qual estamos firmes...”

Podemos apresentar diariamente nossas vidas e problemas a Deus, Senhor e salvador nosso e gozamos os favores de Deus através de Cristo Jesus. Ele é o bem maior da nossa existência e autor de todas as coisas boas que nos acontecem.

Um gozo tremendo (Romanos 5:2 b) A satisfação da comunhão com Deus é sentida quando se experimenta a presença da glória de Deus, representada pelo brilho da face de Cristo. As Escrituras declaram-nos que na manifestação futura de Cristo presenciaremos a glória de Deus vestida na pessoa de Jesus em sua totalidade. Uma esperança para todos nós!

Uma vida vitoriosa (Romanos 5:3-5) A nossa nova posição em Cristo capacita-nos para uma vida vitoriosa sobre as aflições na vida presente. Não temos que temer nada, pois o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Romanos 3:5).

· Produz posição de destaque para os salvos:

Nosso estado anterior – O que éramos?

“Éramos fracos” (Romanos 5:6). Vivíamos nas práticas impiedosas de nossos atos carnais.

“Sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8) Sem vida espiritual “... mortos nos delitos e pecados...” (Efésios 2:1-3).

“Porque, se nós, quando inimigos...” (Romanos 5:10) Não tínhamos nenhuma comunhão com Deus.

Nosso estado presente. O que somos agora?

“Justificados pelo seu sangue” – A justificação mediante a fé tem como confirmação o sacrifício através do derramamento do sangue (Romanos 5:9);

“Fomos reconciliados com Deus” - Cristo assumiu voluntariamente os nossos pecados perante o Criador para nos livrar da ira de Deus (Romanos 5:7-10).

· Posições divergentes entre Cristo e Adão:

Adão (Cabeça federal da raça humana - Romanos 5:12-14).

Criado para ser perfeito – Deus criou o primeiro homem, perfeito, e o destacou como coroa de toda a Sua obra criadora – “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou...” (Gênesis 1:26-27).

Caiu em pecado voluntariamente – “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos 5:12). Quando Adão desobedeceu à ordem divina, comendo do fruto proibido, pecou contra Deus e perdeu a sua condição de inocência. Ele mesmo e sua mulher sofreram em primeira instância as conseqüências terríveis do pecado. Perdeu sua legítima identidade, sua comunhão com Deus, ofuscando assim a imagem e semelhança de Deus em sua vida (Gênesis 1:26) o que culminou com a decadência moral de toda a humanidade – O pecado de Adão espalhou-se para todos os segmentos da sociedade que formava o mundo antigo das primeiras civilizações, ocasionando desequilíbrio social, ruína moral e espiritual, de modo que todos os seres viventes começaram a envelhecer e a morrer – “... porque todos pecaram” (Romanos 8:22-23).

Nota : (Romanos 5:13-14) De fato, não havia nenhum mandamento em forma de ordenanças até o regime da lei. A lei só foi entregue por Deus a Moisés e a todo o povo de Israel no monte Sinai, aproximadamente 2.513 anos depois da queda de Adão e sua conseqüente expulsão do jardim.

E agora? Se não há lei os pecados ficam impunes? De maneira alguma! Porque todos pecaram, não à semelhança do pecado de Adão, mas como resultado da transgressão de nossos primeiros pais e por causa da licenciosidade de sua própria natureza pecaminosa. A culpa, sem restrição nenhuma, é de todos!

Cristo (Cabeça federal da raça eleita - Romanos 5:15-21). Nestes versículos, Paulo apresenta os contrastes entre o primeiro Adão e o segundo Adão, que é Jesus Cristo em pessoa e obra. ( 1 Coríntios 15:21, 22,45-49).

Culpa e graça - O primeiro Adão mortificou todos os homens em seus delitos e pecados – “... pela ofensa de um só...” ; “...somente um pecou...” (Romanos 5:14,15,17). O segundo Adão vivifica, mediante sua morte, todo aquele que o aceita pela fé – “...o dom gratuito...” ; “...muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Cristo Jesus...” (Romanos 5:15-17).

Condenação e justificação – O primeiro Adão, em sua desobediência a Deus, trouxe como conseqüência o julgamento para a condenação de todos os homens e a inevitável morte espiritual – “... uma só ofensa...” ; “...pela desobediência de um só homem...” As duas palavras usadas por Paulo destacam muito bem a decadência moral, social e espiritual de toda a raça humana.

“Pecado” amartia (hamartia) Que significa literalmente “errar o alvo”

“Ofensa” paraptwma (paráptôma) A palavra aparece sete vezes somente neste parágrafo e significa basicamente “perder o caminho” - O desequilíbrio social; “faltar com a verdade” – O desequilíbrio ético; “falhar no dever” – O desequilíbrio moral. Isto se deu na vida de Adão e se perpetuou por toda a raça humana.O segundo Adão, em seu caráter perfeito e justo, torna-se justificador daqueles que são pertencentes a Ele por direito de herança, mediante a salvação que sua morte vicária proporcionou –“...pela graça para a justificação...” (Romanos 5:16) ; “...a abundância da graça e o dom da justiça...” (Romanos 5:17); “... um só ato de justiça...” (Romanos 5:18); “...por meio da obediência de um só...” (Romanos 5:19). Assim: O primeiro Adão trouxe culpa e morte. O segundo Adão, justiça e vida (Romanos 5: 20-21). A graça de Deus e a vida em Cristo resgatam a maior esperança para a humanidade perdida. Paulo coloca em destaque esta verdade usando uma frase maravilhosa – “Mas onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus”. Amém e amém!

Os caminhos de Deus aos justos (Romanos 5:12-21)

Suas origens:

ü O dom de Deus (Romanos 5:15-16).

ü A graça de Jesus (Romanos 5:15-18, 20,21).

ü A obediência de Cristo Jesus (Romanos 5:19).

Seus favorecidos:

ü Alcançam uma real justiça (Romanos 5:17,18,21).

ü Alcançam o ato da justificação (Romanos 5:16,18). A justificação é o resultado da real justiça divina.

ü Alcançam a posição de justos (Romanos 5:19). O salvo recebe a declaração de justo mediante a justificação em Cristo.

ü Alcançam a vida (Romanos 5:17,18,21). A vida eterna é o resultado da obra redentora de Cristo Jesus, onde são incluídos os favores acima citados.

“E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer, mas este, porque permanece para sempre, tem o seu sacerdócio perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, porquanto vive sempre para interceder por eles.Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime que os céus; que não necessita, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez por todas, quando se ofereceu a si mesmo.Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens que têm fraquezas, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, para sempre aperfeiçoado.” (Hebreus 7:23-28).

Os caminhos do homem injusto (Romanos 5:12-21)

“Há caminho, que parece direito ao homem, mas afinal é caminho de morte” (Provérbios 16:25)

Suas origens: (O homem na trilha do engano!)

ü A desobediência à ordem divina – Uma tendência verificada no homem desde os primórdios da criação. Deus estabeleceu uma ordem para o homem e sua mulher (Gênesis 2:16-17), porque os considerou capazes de obedecê-la. Ele os criou homem e mulher para que provassem da doce obediência aos seus princípios, que resultaria na participação ativa de suas bênçãos e do prazer de viver a longa vida para a qual foram destinados. Entretanto, o homem escolheu, por sua livre e espontânea volição, seu caminho de desobediência.

ü A desobediência por vontade própria (Gênesis 3:6; Romanos 5:19). Adão, sendo o cabeça da raça humana, errou o alvo principal para o qual fora criado, não por imposição ou determinação divinas, mas por vontade própria, no uso espontâneo de seu livre arbítrio. Deus, como supremo criador, planejou que o homem gozasse o prazer de viver livre e absoluto sobre a terra...Viver e viver! Nunca, porém, morrer eternamente.

Suas conseqüências (O homem perante o tribunal divino)

A palavra tribunal vem do grego bhma (bêma), que significa o lugar do julgamento (Romanos 14:10; 2 Coríntios 5:10; Filipenses 2:10-11; Isaías 45:23).

ü Julgamento ou juízo krima (kríma) Juízo de uma ofensa para condenação (Romanos 5:16-18).

ü Condenação katakrima (katákrima) O veredicto ou castigo divino pela ofensa praticada (Romanos 5:16,18).

ü Morte qanatoV (thánatós) É o salário do pecado.“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram. Porque antes da lei já estava o pecado no mundo, mas onde não há lei o pecado não é levado em conta. No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão o qual é figura daquele que havia de vir. Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, abundou para com muitos. Também não é assim o dom como a ofensa, que veio por um só que pecou; porque o juízo veio, na verdade, de uma só ofensa para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida. Porque, assim como pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos pecadores, assim também pela obediência de um muitos serão constituídos justos. Sobreveio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor.” (Romanos 5:12-21).

IV. A SANTIFICAÇÃO DO HOMEM EM CRISTO (Romanos 6: 1-8:1-39)

Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação, e por fim a vida eterna” (Romanos 6:22).

Salvação – Nova vida! A salvação é obra exclusiva de Cristo Jesus.

Santificação – Novo caráter! A santificação é obra do Espírito Santo que em nós habita. Paulo, escrevendo aos Filipenses, nos capítulos 1 e 2 de sua carta, desafia-os para que desenvolvam a salvação como receita vitalizante para o progresso do Evangelho – “...desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor...”

(Filipenses 2:12 b). Aqui Paulo apresenta o princípio mais prático da santificação, que é o processo da salvação.

A santificação é abordada nas Escrituras como sendo o mais profundo desejo do coração de Deus para o salvo (1Tessalonicenses 4:3). A santificação não é uma opção de vida, é, todavia, a única alternativa para se ter uma vida vitoriosa no cotidiano da experiência cristã. O crente é salvo para ser santo, e esta santificação deve começar logo no princípio de sua vida cristã, e perdurar num processo crescente até a vinda do Senhor Jesus Cristo (1 Tessalonicenses 3:13), quando atingiremos a fase final da perfeição em Cristo.

Os ensinamentos expositivos dos capítulos 6, 7 e 8 de Romanos oferecem-nos o alicerce para um viver santo mediante a união com Cristo em sua morte e ressurreição.

SANTIFICAÇÃO agiasmoV (haguiasmós), que significa a s-e-p-a-r-a-ç-ã-o do mal para um viver de retidão na presença de Deus. O termo “Santo” postula valores éticos, como expressão da santidade de Deus. A expressão hebraica Adonai Kadosh (O Senhor é Santo) denota o contraste entre o santo e o profano. Para facilitar nosso entendimento, mais uma vez dividiremos o tópico em subtítulos.

4.1. Santificação – União com Cristo (Romanos 6:1-13)

“Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (Romanos 6:4)

A união com Cristo é fruto do abandono constante, sem reservas, do velho homem sem o conhecimento e temor a Deus, para um viver interior abundante. Quando alguém se torna cristão, passa a experimentar uma transformação radical ao ponto de desejar reproduzir o caráter de Cristo em sua vida. São conseqüências desta nova experiência de vida:

· Uma luta enérgica contra o pecado. No contexto de Romanos 5:20,21-6:1-2, Paulo conduz seus leitores a um sério questionamento.

Paulo pergunta: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?”. E o mesmo Paulo responde: “De modo nenhum!” ( Romanos 6:1,2 ). Esta resposta de Paulo anula todo e qualquer pensamento libertino; toda e qualquer tendência para o mal. O pecado foi e será para sempre o causador da desgraça humana, entretanto, todas as vezes que o homem tomar consciência de seus pecados e se dispor a confessá-los, Cristo Jesus está sempre pronto para cobri-los com o seu sangue a fim de perdoá-lo de todo pecado. O pecado é um engano, promete plena satisfação e destrói a alegria humana; o pecado é pernicioso, promete grandeza e alimenta o homem com falsa esperança; o pecado é ardiloso, insinua o prazer e despreza com a recompensa do sofrimento; o pecado é tendencioso, promete o bem e paga com o mal; o pecado é ganancioso, promete riquezas, e deixa na miséria; o pecado é destruidor, promete vida e causa a morte “porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” ( Romanos 6:23 ).

· Uma identificação genuína com Cristo. Para Deus mostrar sua misericórdia não há necessidade alguma da prática do pecado, como estímulo à graça de Deus. A graça de Deus opera no salvo independentemente da obra satânica do pecado, pois do poder do pecado fomos libertos para uma vida de profunda identificação com Cristo, e não para um viver contrário aos padrões de Deus (Romanos 6:3-4).

Fomos batizados em Cristo (Romanos 6:3). Batizados na sua morte! O teólogo F.F. Bruce acredita que fomos incorporados em Cristo, quando nos tornamos membros do seu corpo, a igreja – Bruce argumenta: “...e assim, por vossa união com ele pela fé, compartilhastes daquelas experiências que historicamente lhe pertenciam, sua crucificação e sepultamento, sua ressurreição e exaltação” - “Fostes incorporados nele, vos tornastes membros do seu corpo” (1 Coríntios 12:13)

Fomos sepultados com ele (Romanos 6:4). Na morte pelo batismo! Esta é uma afirmação que diz respeito à doutrina bíblica do batismo nas águas, batismo por imersão. O sepultamento de Cristo foi prova máxima de sua inequívoca morte física. O batismo nas águas simboliza o sepultamento do velho homem e todas as suas paixões carnais para uma nova vida de identificação com Cristo. Assim como Cristo tornou-se vitorioso sobre o pecado e sobre a morte, ressuscitando dentre os mortos, andemos nós em novidade de vida.

Fomos unidos com ele (Romanos 6:5). Na semelhança de sua morte! Mediante a morte de Cristo é possível se ter uma experiência de vida transformada, fazendo morrer a velha natureza para um novo caráter, com procedimentos fundamentados em padrões divinos. Na semelhança de sua ressurreição! Sendo Cristo as “primícias dos que dormem” , haveremos de ressuscitar em glória para uma semente incorruptível. Os que dormem em Cristo ressuscitarão primeiro e os que ficarem vivos, até o dia de Cristo, serão trasladados. (1 Coríntios 15:20; 1 Tessalonicenses 4:13).

· Uma consciência absoluta da nova posição em Cristo. Paulo chama a atenção do novo homem em Cristo para uma vida conscienciosa fundamentada no profundo conhecimento dos novos valores para um viver santo. Um policiamento cuidadoso contra os perigos e concorrências que cercam a identidade do novo homem. Na concepção de Paulo o salvo tem a consciência da legitimidade desta nova fonte de valores – “Sabendo isto...” (Romanos 6:6); “sabedores que...“ (Romanos 6:9); “assim também considerai-vos...” (Romanos 6:11); “não sabeis que...?” (Romanos 6:16).

A palavra de Deus, a obra de Cristo e a instrumentalidade dos servos de Deus, não foram postas à disposição do salvo, apenas como fonte de pesquisa, mas sobretudo como arma ao seu alcance a fim de que ele possa honrar e defender a sua nova posição obtida pelos méritos de Cristo Jesus.

Servos do pecado? De modo nenhum! “Sabendo isto, que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado” (Romanos 6:6).

“O velho homem” – Já foi crucificado com Cristo! A declaração aqui apresentada tem relação com a nossa nova natureza, antes escravizada pelo pecado, agora, porém, crucificada com Cristo. (Efésios 4:22; Colossenses 3:9). O conceito do velho homem está basicamente relacionado com o pecado original de Adão e a transferência de sua natureza corrupta para todos os homens, em todos os âmbitos da sociedade do mundo antigo até os dias de hoje.

“O corpo do pecado” – Já foi destituído, ou seja, tornou-se impotente e toda a sua instrumentalidade para a obscenidade ficou sem efeito algum (Romanos 6:12-13); a não ser quando o novo homem em Cristo permite a ação dos antigos valores em sua vida, e esta não é a vontade de Deus para o salvo (1 Tessalonicenses 4:3; 1 João 2:1-2). Para que possamos resistir às tendências do corpo do pecado, que às vezes nos sobrevêm por meio da velha natureza, faz-se necessário dependermos de Deus e da força de seu Espírito, mediante a obra de santificação que assiste o salvo desde o momento de sua conversão.

Nota: No tocante à vida vitoriosa, o salvo deve reconhecer que o velho homem, além de ter sido crucificado com Cristo, deve ser despojado dia a dia com suas paixões e desejos estimulados pelo pai da mentira e do engano, para renovar-se no Espírito a fim de que seja revestido do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade (Efésios 4:22-24).

Servos de Cristo? Com prazer e determinação. A posição de servos de Deus é garantida pela perfeição da obra de Cristo Jesus – “Assim também, considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus” (Romanos 6:11).

Observe o quadro na página seguinte:

SERVOS DO PECADO PARA A

MORTE

(Nunca jamais)

SERVOS DE DEUS PARA A

VIDA

(Para sempre)

· O salvo não é mais servo do pecado (Romanos 6:6).

· O salvo deve considerar-se morto para o pecado (Romanos 6:11).

· O salvo não deve mais submeter-se ao senhorio do pecado (Romanos 6:12).

· O salvo não deve mais ser usado como instrumento do pecado (Romanos 6:13).

· O salvo não é mais dominado pelo pecado (Romanos 6:14).

* Nova posição – Justificado está do pecado (Romanos 6:7).

* Nova vida – A base da nova vida é Cristo (Romanos 6:8-11).

* Novo senhorio – Os membros do corpo devem ser oferecidos como instrumentos de justiça (Romanos 6:13,18).

* Nova doutrina – Obediência de coração à doutrina da verdade (Romanos 6:17).

* Novo procedimento – Com base na justiça divina (Romanos 6:20).

LEI

GRAÇA

· O salvo não está debaixo da lei (Romanos 6:14-15).

* O salvo está debaixo da graça (Romanos 6:14 b e 15 b).

OUTRORA

AGORA

· Escravos do pecado (Romanos 6:17,19).

· Isentos de justiça (Romanos 6:20).

* Libertos do pecado (Romanos 6:18,22)

* Instrumentos de justiça (Romanos 6:20)

MORTE

· O salário do pecado é a morte (Romanos 6:23).

VIDA

* Dom de Deus em Cristo Jesus (Romanos 6:23)





































4.2. Santificação – Unidos a Cristo e libertos do legalismo (Rom. 7:1-25)

“Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, e deste modo frutifiquemos para Deus” (Romanos 7:4).

A união com Cristo, simbolizada na morte pelo batismo, é fruto da transformação ocorrida no salvo mediante o novo nascimento – “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” (João 3:5). A água a qual Jesus se refere aqui é a palavra de Deus. Paulo faz a mesma referência a esta água que tem o poder regenerador e santificador (Efésios 5:26). A Palavra é a substância regeneradora, e o Espírito Santo é o agente santificador, que convence o homem da necessidade de conversão (João 16:8), e o santifica a fim de que este homem viva e frutifique para Deus em novidade de vida (Romanos 7: 4,6).

O salvo está, portanto, liberto da lei no que diz respeito às implicações cerimoniais e legalistas e unido a um novo senhorio. Paulo exemplifica esta verdade absoluta, fazendo de sua argumentação uma analogia da desobrigação matrimonial com a desobrigação à lei, e em seguida, para elucidar seu pensamento, apresenta sua própria autobiografia.

· Analogia de Paulo – Lei conjugal e desobrigação conjugal comparadas à subserviência à lei e submissão a Deus. A obrigação conjugal é desfeita com a morte do marido – Paulo apresenta o casamento como ilustração. Numa paráfrase, “façamos uma comparação: Ora... a mulher casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele viver...” (Romanos 7:2). Temos aqui, sem sombra de dúvidas, um princípio nos termos da lei. A lei divina, em todos os sentidos, favorece a unidade conjugal que deve ser absoluta e indissolúvel - “Se, contudo... o marido morrer, a esposa ficará desobrigada da lei conjugal” (Romanos 7:2 b). A morte de um dos cônjuges põe fim, de uma vez para sempre, na lei matrimonial. Paulo destaca a morte do marido para legitimar sua analogia (Romanos 7:3).

A obrigação da subserviência à lei é desfeita pela morte de Cristo Jesus – Para situar melhor o contexto do pensamento de Paulo, lembremos que o apóstolo falava aos seus irmãos em Cristo recém-convertidos à fé cristã, mas que viviam ainda arraigados ao legalismo judaico. Neste parágrafo usa por duas vezes a expressão que caracteriza seu zelo pastoral e seu amor cristão em relação à família da fé – “Porventura ignorais, irmãos...?” (Romanos 7:1); “Assim, meus irmãos...” (Romanos 7 : 4). Ele emprega toda sua experiência apostólica para evidenciar algo muito mais profundo e necessário para o novo viver em Cristo.Quando uma pessoa morre (refiro-me à morte física) a lei não tem mais sobre ela nenhum poder, desobrigada está de qualquer julgamento legal. Em se tratando do novo senhorio de Cristo sobre o salvo, equivale dizer que sua morte vicária desfaz completamente o jugo de servidão da lei sobre o homem. No pensamento de Paulo a lei judaica era uma espécie de marido ou senhor absoluto sobre os seus seguidores; porém, a morte de Cristo e o morrer com Cristo, resultam em total libertação do legalismo verificado na lei farisaica.

A insistência de Paulo em se pronunciar repetidas vezes contra o legalismo judaico infiltrado no meio dos cristãos, não diz respeito a uma simples questão religiosa, e sim a um princípio de vida cristã desvinculado de todo e qualquer fanatismo religioso. Não há mais lugar na vida do salvo para práticas religiosas dissociadas da pessoa de Cristo. O brilho da vida do salvo não se restringe a um amontoado de códigos e exigências, mas ao poder da palavra e do Espírito mediante a santidade em Cristo Jesus – “morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo...” (Romanos 7:4), “...para que não venhamos mais frutificar para a morte” (Romanos 7:5). O fruto de nossa existência pertence agora a um outro senhor, ao qual servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra.

· Autobiografia de Paulo (Romanos 7: 7-25). Nesta seção Paulo passa a descrever sua própria experiência outrora vivida, no sentido mais restrito da palavra, dentro dos princípios farisaicos aos quais fazia parte com extremo zelo e dedicação - “Se bem que eu poderia até confiar na carne. Se algum outro julga poder confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei fui fariseu; quanto ao zelo, persegui a igreja; quanto à justiça que há na lei, fui irrepreensível.” (Filipenses 3:4-6).

Sua frustração religiosa - (Romanos 7:7-11) - Paulo, conhecido como Saulo em sua religião anterior, foi um cidadão extremamente obstinado, fanático e zeloso, ao ponto de aceitar como forma de vida preceitos religiosos obsoletos, dedicando-se a eles até as últimas conseqüências – “...quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo que há na lei, perseguidor da igreja...” (Filipenses 3:5 b e 6 a). Paulo supostamente acreditava viver segundo a lei, mas na verdade representava para Deus um fora da lei. Pois quanto ao zelo (falso zelo) era um perseguidor da igreja e de Jesus Cristo – “...Saulo! Saulo! Por que me persegues?” (Atos 9:4). A ele foi dada a incumbência de manietar os cristãos e encerrá-los em cárceres, arrastá-los aos tribunais e condená-los à morte sem justa causa. Por isso ele afirma – “Outrora, sem a lei eu vivia...” (Romanos 7:9). Isto conseqüentemente gerou sua morte espiritual ao ser ele julgado pela verdadeira lei de Deus (Romanos 7:7-11).

A lei conscientiza, porém não moraliza – Paulo não sugere a idéia de que as leis de Deus sejam más (Romanos 7:7), porém afirma que a lei em si mesma não tem a função de moralizar, e sim de apontar o caminho da graça de Deus. A lei é uma espécie de aio ou guia para conduzir o homem a Cristo Jesus – “de maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo...” (Gálatas 3:24).

A lei é santa, porém não santifica – O Espírito Santo é quem santifica o salvo, fazendo dele um referencial de vida, levando-o a produzir o fruto do Espírito:Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito. Não nos tornemos vangloriosos, provocando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros.” (Gálatas 5:22-26); (Romanos 7: 12-13).

A lei é espiritual, porém o homem é carnal – Portanto, todas as vezes que a velha natureza tende a tripudiar sobre a pessoa do novo homem em Cristo, as conseqüências são inevitáveis, levando-o a frustrações e derrotas espirituais. O próprio Paulo experimentou em sua carne os efeitos danosos da influência da velha natureza sobre o novo homem. Ele diz: Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.” (Romanos 7:14). Deus nos tem chamado para uma vida vitoriosa, processo natural da santificação pela lei do Espírito santo.

Sua nova experiência religiosa. Antes da conversão de Paulo ao Cristianismo, sua luta fora movida por um objetivo puramente pessoal e por uma questão estritamente religiosa. Agora, porém, em sua nova vida em Cristo, sua luta espiritual passa a ser contra as hostes opostas à natureza divina: O que ele preferia versus o que detestava (Romanos 7:15-16); O bem versus o mal (Romanos 7:17-20); A lei da mente versus a lei dos membros do corpo (Romanos 7:21-23). As duas naturezas, carnal e espiritual, se confrontam cotidianamente. No entanto, se lançarmos mão das armas espirituais e dos princípios básicos da fé cristã, seremos vitoriosos e o mal não se estabelecerá em nossa conduta. O que Paulo descreve nos versículos 15 a 25 trata-se de sua própria experiência em face às tendências da velha natureza. Ele reconhece a existência de duas naturezas militando em sua vida cristã – o velho Paulo e sua natureza corrompida contra o novo Paulo e sua natureza espiritual.

O Paulo carnal. Vejam como ele fica embaraçado quando tenta explicar sua luta interior – “Porque nem mesmo compreendo meu próprio modo de agir... ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa” (Romanos 7:15-16). O Paulo carnal é aquele que age na força do ego e suas complexidades espirituais. O pronome eu aparece nesse contexto para destacar o lado carnal da personalidade de Paulo e de todos nós (Romanos 7:14, 18, 20); “...de maneira que eu, de mim mesmo, com a mente sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne da lei do pecado”. (Romanos 7:25 b ). No capítulo 7 Paulo torna óbvio o valor da lei de maneira interessante. Vejamos, a palavra no original grego traduzida por “boa” (verso 16) não é a mesma palavra geralmente traduzida por “bom”, como encontrada no verso 12. Neste versículo Paulo evidencia o propósito benéfico da lei, que vem da palavra grega agaqh (agathê). Em Romanos 7:16 Paulo apresenta um outro enfoque – a beleza e a nobreza moral da lei, que vem do original grego kaloV (kalós). O instinto moral do íntimo concorda com a beleza e nobreza moral da lei, a qual igualmente condena a ação indesejada, mas que apesar de tudo é realizada.

O Paulo espiritual Paulo, de maneira alguma, estava obrigado a viver segundo a carne, pois a nova vida em Cristo lhe garantia vitória sobre a velha natureza – “desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7:24). É relevante observar que Paulo não diz o que, mas quem me livrará? A resposta surge com um sabor de vitória – “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Romanos 7:25). Jesus Cristo garantiu a vitória espiritual, de Paulo e de todos quantos vivam por fé, quando da sua morte na cruz do calvário. Ele é o autor absoluto de todas as nossas vitórias. Amém!

4.3. Santificação – Unidos a Cristo e santificados pelo Espírito Santo (Romanos 8:1-27) -“Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte” (Romanos 8:2).

Santificação é a ação de Deus através do Espírito Santo na vida do salvo, dando-lhe condições plenas para que no decurso de sua vida cristã venha a desenvolver com ardor e dedicação a salvação plena. Os três estágios da santificação são:

· Santificação inicial – (1 Tessalonicenses 4:7; Hebreus 10:14) fala da nossa posição e postura perante Deus no princípio da vida cristã.

· Santificação seqüencial - (Filipenses 2:12; 2 Coríntios 7:1; Filipenses 3:15-16) fala do processo ou desenvolvimento pleno da salvação.

· Santificação final (1 Coríntios 15:44, 51-53; Efésios 5:27; Filipenses 3: 12-14, 21) fala da perfeição final mediante a glorificação – “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:13).

Cap. 6 – Santificação – União com Cristo e nossa posição inicial – Começa a partir da experiência em aceitar e confessar voluntariamente a Cristo como Senhor e salvador – “A saber:se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10:9).

Cap 7 – Santificação – União com Cristo e libertação do legalismo da lei – Toda e qualquer participação humana numa tentativa em querer santificar-se, quer seja por obras da lei quer por esforços próprios não tem valor algum diante de Deus. A santificação por motivação humana não leva absolutamente a nada, mas provoca apenas frustrações de ordem espiritual e psicológica.

Cap 8 - Santificação – União com Cristo e santificação pelo Espírito Santo – A participação integral do Espírito Santo é condição sine qua non para a santificação e aperfeiçoamento espiritual. No capítulo 8 a pessoa do Espírito Santo aparece dezenove vezes. Em textos anteriores é mencionado apenas uma única vez (Romanos 5:5).

ü A origem da santificação (Divina)

ü A obra da santificação (Espírito Santo)

ü O objeto da santificação (O salvo).

· Para uma vida de liberdade integral: (Romanos 8:1-3)

“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1).

Cap. 5:1 “Justificados, pois, mediante a fé...” – fala da nossa posição perante Deus.

Cap. 8:1 “Agora, pois, já nenhuma condenação há...” – fala de nossas garantias como salvos.

“Agora, pois, já nenhuma condenação há...” No grego katakrima (katákrima). O que esta declaração nos traz à luz não é o julgamento do réu, mas a sentença condenatória. Não há mais nenhuma sentença contra o salvo; não há mais risco de insegurança para com a salvação, que é sobretudo segura e eterna.

ü Sentença – “Nenhuma condenação” (Romanos 8:1 a)

ü Segurados – “Os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1 b)

ü Segurador – “O Filho de Deus” (Romanos 8:3)

ü Sancionador– “O Espírito da vida” (Romanos 8:2).

· Para uma vida vitoriosa no poder do Espírito Santo (Romanos 8:4-13)

“Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que porventura seja do vosso querer” (Gálatas 5:17).

Vitória sobre a natureza carnal (Carne versus Espírito) - Os que se inclinam para a carne (Padrão de vida negativo)

Padrão negativo 1 – Carnais por natureza “cogitam das coisas da carne” (Romanos 8:5).

Padrão negativo 2 - Espiritualmente mortos “...o pendor da carne dá para a morte...” (Romanos 8:6 a).

Padrão negativo 3 – Inimigos de Deus – “...o pendor da carne é inimizade contra Deus” (Romanos 8:7); “... não agradam a Deus” (Romanos 8:8).

O termo “carne” no grego sarx (sarx), basicamente significa a “natureza humana decaída e corrupta” herdada de nossos primeiros pais, Ada e Eva. “Inclinação” fronhma (frónema), “ato ou efeito de inclinar-se, ter disposição, tendências ou propensão para compreender, sentir, pensar e aceitar” as coisas da carne (Colossenses 3:2-3; 1 Coríntios 13:11). As inclinações que o salvo não deve cultivar para com a natureza carnal é contrário à disposição mental reprovável de Romanos 1:28, que literalmente fala de uma mente degenerada por completo. No capítulo 8 Paulo refere-se ao domínio de nossas tendências para que se conquiste uma vida vitoriosa no poder do Espírito Santo -“Pois os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser; e os que estão na carne não podem agradar a Deus.Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça.” (Romanos 8:5-10).

Vitória mediante o viver no Espírito (Espírito versus Carne) - Os que se inclinam para o Espírito são guiados pelo Espírito (Padrão de vida positivo)

Padrão positivo 1 - (Romanos 8:4, 5 b). O salvo deve dar lugar em seu viver aos valores espiritualmente aceitos por Deus. No confronto das duas naturezas, velha e nova, o andar no Espírito garante a vitória absoluta sobre as obras da carne.

Padrão positivo 2 - (Romanos 8:6b, 10). O salvo tem como fruto de sua nova vida em Cristo a paz interior. “Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.”

Padrão positivo 3 - “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vós” (Romanos 8:9). Somos favorecidos por esta garantia no momento em que declaramos que Jesus Cristo é o Senhor e salvador de nossas vidas.

Padrão positivo 4 – Somos transformados para a vida em Cristo a fim de que o Espírito Santo habite em nosso corpo mortal e nos dê a garantia da vivificação. Os que se inclinam para o Espírito são filhos de Deus.

ü Autor da vida eterna - Jesus Cristo (Romanos 8:1).

ü Agente da vida eterna – Espírito Santo (Romanos 8:2).

ü Alvo da vida eterna – O homem (Romanos 8:3-4).

ü Absoluta segurança – nenhuma condenação (Romanos 8:1).

Vitória ou derrota espiritual (Romanos 8:12-13)

A vitória espiritual do salvo tem a ver com a natureza renovada pelo Espírito Santo, desobrigada da carne para uma vida abundante e vitoriosa, que frutifica para a justiça e glória do Deus Eterno – “Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida por causa da justiça.” (Romanos 8:10).

A derrota espiritual, é a conseqüência da natureza corrompida do homem, que o faz escravo das paixões e desejos, conduzindo-o a caminhos de perdição e morte – “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.” (Romanos 8:8).

· Para um vivo relacionamento de filho legítimo (Romanos 8:14-17)

As sagradas Escrituras revelam-nos que, “vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.” (Gálatas 4:4-5)

ü Posição – Filho legítimo (Romanos 8:15-16). Na regeneração o salvo recebe a natureza de filho de Deus através do processo de adoção, no qual é reconhecido como filho legítimo, ou seja, é colocado na posição de filho gerado legitimamente pela Palavra, no poder do Espírito Santo.

ü Proteção – Cuidado paternal (Romanos 8:14). Somos identificados como filhos de Deus mediante o selo do Espírito Santo que nos dá a garantia de proteção, provisão e sustentação da vida, para um relacionamento agradável e permanente com Deus - “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai!” (Romanos 8:15).

ü Privilégio – Herança eterna (Romanos 8:17). Quando ingressamos na família de Deus nos tornamos membros deste grande corpo, mediante o espírito de adoção, que é uma disposição para aceitar as dificuldades presentes tendo em vista a herança eterna, reservada e testificada pelo Espírito Santo a favor dos filhos de Deus (Romanos 8:16). – A palavra usada para “filhos” no versículo 16 vem do Grego teknia (teknia), que quer dizer “crianças”, e não uioi (huioi), que é traduzido por “filhos”, como é apresentada no versículo 14. No entanto, é perfeitamente aceitável o uso dos dois substantivos para enfatizar a mesma verdade. Segundo F.F. Bruce, em Gálatas 3:23-4:7 “Paulo, na verdade, faz distinção entre o período da infância, quando seus leitores estavam sob a tutela da lei, e a obtenção de seu estado de responsabilidade como filhos uioi (huioi) de Deus, agora que foram introduzidos no evangelho. Mas o estado anterior dessas pessoas é classificado pelo termo vepioi (nepioi) “bebês” e não teknia (teknia) “crianças”. Portanto, não há motivo algum para o questionamento das duas palavras usadas por Paulo em Romanos 8:14-17. Os salvos, como filhos de Deus, são de fato herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo de uma herança autêntica e, sobretudo, eterna. Esta é a nossa real expectativa para que, à semelhança de Cristo Jesus sejamos glorificados para o louvor de nosso Deus e Pai (Romanos 8:17)

· Para uma viva esperança na glória futura (Romanos 8:18-25)

“Porque na esperança fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? (Romanos 8:24)

A nossa ardente expectativa fundamenta-se na esperança de que um dia seremos totalmente transformados. Quando esta realidade se manifestar em nossas vidas já não mais existirá sofrimentos, angústias, perseguições ou qualquer outra aflição, pois as nossas limitações estão sendo reduzidas de glória em glória mediante o processo de santificação – “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Coríntios 3:18), para uma viva e completa glorificação a ser revelada em nós (Romanos 8:18).

ü Redenção dos filhos de Deus (Romanos 8:18,19,23-25).

Paulo emprega a palavra redenção, do Grego apolutrwsin (apolytrossin) para expressar a idéia do resgate final, onde o nosso corpo mortal será transformado em corpo glorificado, à semelhança do corpo ressurreto de Jesus Cristo. (1 Tessalonicenses 4:13-18). Os que dormem em Cristo ressuscitarão e os que estiverem vivos até a trasladação da igreja serão transformados num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta (1 Coríntios 15:51-53). “...semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória..” (1 Coríntios 15:42-44).

ü Restauração completa de toda a criação de Deus (Natureza - Romanos 8:19-22). Levando em consideração que as conseqüências do pecado foram universais, afetou todas as áreas das coisas que foram criadas por Deus (João 1:3; Colossenses 1:15-16). Por isso a criação, reino animal irracional, seres humanos, reino vegetal e reino mineral a um só tempo geme e suporta angústias até agora, aguardando a redenção (Gênesis 3:17-19; Romanos 8:20-22).

No entanto, para que a redenção de todas as coisas criadas por Deus venha a acontecer, é necessário que se cumpram literalmente as profecias reveladas nas Escrituras sagradas. O clímax destas profecias está intimamente relacionado à parousia da igreja, isto é, o eminente arrebatamento daqueles que confessaram a Jesus como Senhor e salvador de suas vidas – “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus” (Romanos 8:19). A ordem dos acontecimentos a ser aguardada por nós é a seguinte:

O arrebatamento da igreja (Os vivos e os que dormem em Cristo serão trasladados para o encontro do Senhor Jesus nos ares).

As bodas do cordeiro (União de Cristo e sua igreja para a experiência maior da vida cristã – no céu).

A grande tribulação (Período de sete anos de intenso sofrimento – na terra).

A volta gloriosa de Jesus com sua igreja em glória – do céu para a terra.

O julgamento das nações (Ao final da grande tribulação)

A implantação do reino milenar (Restauração dos salvos da grande tribulação – “... e reviveram e reinaram com Cristo durante mil anos.” (Apocalipse 20:4).

Recriação de toda a natureza (Isaías 11:1-10).

Reinado de Cristo e sua igreja sobre as nações da terra.

4.4. Santificação – Unidos a Cristo e assistidos pelo Espírito Santo

(Romanos 8:26-27).

“Também o Espírito, semelhantemente nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8:26).

Este é um dos ministérios do Espírito Santo em favor dos salvos. Além de convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8), ensinar (João 14:26), santificar (Romanos 15:16), é também de sua competência o consolo dos fracos e dos oprimidos (Romanos 8:26; João 14:16-17), bem como ajudar-nos a orar, pois não sabemos orar como convém.

· Seu ministério como consolador – “...nos assiste em nossa fraqueza...” O termo “consolador” vem do grego paraklhtoV (parákletos), que significa “alguém chamado para ficar ao lado e ajudar”. Portanto, um ministério de ajudador, conselheiro, orientador e consolador. A participação do Espírito Santo em nossas vidas está também relacionada à assistência em nossas fraquezas espirituais, enfermidades físicas e psicológicas. É evidente que o Espírito Santo nos foi dado para nos assistir em todas as circunstâncias de nossas vidas, na saúde e na doença, na bonança e na escassez e em todas as áreas dos relacionamentos humanos.

· Seu ministério como intercessor – “...o mesmo Espírito intercede por nós...” (Romanos 8:26).

Com intensidade – “sobremaneira” Uma expressão que demonstra a extraordinária preocupação de Deus com as nossas necessidades. Devemos assim fazer a nossa parte e não apenas esperarmos pelas bênçãos de Deus. O ensino prático que o Espírito Santo deixa para os salvos é que, à luz do seu exemplo, devemos cultivar em nossa experiência cristã o ministério de intercessão em favor uns dos outros e constante comunhão com o nosso Deus.

Com lamentações – “gemidos inexprimíveis” – O ensino de Paulo nesta frase evidencia-nos que em nossa limitação humana não somos claros e objetivos em nossas orações e às vezes também não gozamos de uma íntima comunhão com Deus. Por isso, em nossas fraquezas o Espírito Santo intercede por nós com gemidos inexprimíveis. A intercessão é totalmente compreendida por Deus, pois Ele conhece a mente do Espírito Santo - “E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito Santo, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos” (Romanos 8:27).

V. A SOBERANIA DE DEUS EM CRISTO - (Romanos 8:28-39 – 11:1-36)

“Com está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nele crer não será confundido” (Romanos 9:33)

5.1. Exórdio da Soberania de Deus (Romanos 8:28)

“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.”

O eterno Deus, em sua soberania e graça, coopera conjuntamente em todas as coisas para o bem de seus filhos, daqueles que aguardam pela fé as promessas e a redenção final do corpo para a glorificação e herança eterna a ser revelada.

5.2. Eleição soberana de Deus em relação à igreja:

“Portanto, aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito dentre muitos irmãos” (Romanos 8:29).

Estamos diante de uma verdade questionada e argumentada por eruditos e pais da igreja, reformadores e teólogos contemporâneos. Esta verdade tem sido tema de estudo e discussão durante o decorrer da formação histórica e doutrinária da igreja. Todavia, é preciso levar em consideração que a beleza do estudo da soberana eleição de Deus em Cristo deve ser entendida e fundamentada à luz das verdades bíblicas e não meramente por particular interpretação.

Para nossa metodologia e melhor compreensão, desejo dividir o assunto da eleição da seguinte maneira: Eleição da igreja; comunidade cristã formada por Jesus Cristo e Eleição de Israel, nação historicamente estabelecida por Deus com a finalidade de manifestar a glória de Deus e suas verdades morais, mediante suas promessas infalíveis. Numa distribuição e exposição correta da hermenêutica, pretendo conscientizar aqueles que tiverem acesso a este comentário de que a minha pretensão é apresentar uma exegese fundamentada na doutrina bíblica à luz das verdades e das intenções de Deus para o seu povo - “portanto, aos que de antemão conheceu, também os predestinou.” (Romanos 8:29). A doutrina da eleição do homem por Deus em Cristo Jesus está diretamente vinculada à sua presciência vestida na pessoa do Senhor Jesus por meio da graça estabelecida no Gólgota – “Recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição” (1 Tessalonicenses 1:3-4).

· O conhecimento de Deus:

O conhecimento divino tem como alicerce a graça de Deus em Cristo, isto é, quando o Eterno se predispõe a manifestar o seu conhecimento para com aqueles que criou, interpõe entre Ele, o Criador, e o homem, a criatura, sua misericórdia e graça, que se materializa na pessoa do Filho, expressão exata do ser de Deus e encarnação da própria vontade do Eterno. Por conseguinte, Deus potencializa o conhecimento que tem de todas as coisas estabelecidas por Ele com uma destinação superior, na força da expressão do seu amor. Pois Deus é amor, e este amor é um de seus atributos absolutos. “O conhecimento de Deus é um sentimento capaz de fazer vibrar o coração do homem”, disse J. I. Packer, e, em seu eterno conhecimento, Deus traz à existência as verdades por Ele previamente estabelecidas, que são consumadas por meio de Cristo Jesus na plenitude dos tempos – “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8).

O conhecimento de Deus tem a ver com a sua presciência, que por sua vez abre caminho para a eleição. No entanto, para que a eleição, segundo o plano de Deus, seja justa e não seletiva, ou pré-condenatória, e Deus não seja entendido como injusto numa eleição pré-classificatória, as Escrituras declaram que a eleição do homem, idealizada por Deus, vem a lume mediante a vontade e graça de Jesus Cristo, que favorece o homem através da fé – “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele.” (Efésios 1:4). Consulte ainda os seguintes textos: 2 Tessalonicenses 2:13; 1 Pedro 1:10.

· A predestinação em Cristo:

Predestinação é um termo grego proorisein (proórisein) que põe em destaque a determinação idealizada por Deus de conduzir os justos à vida eterna por meio de Jesus Cristo – “Predestinou para serem conformes a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.(Romanos 8:29). Deus determina na eternidade o que vai acontecer no tempo por intermédio de Cristo Jesus. A ação da mente é divina materializada na pessoa do Filho de Deus – “...e em amor nos predestinou para ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade...” (Efésios 1:4,5). Logo, a predestinação é uma porta franca e graciosa que se abre propositalmente para a salvação do homem perdido, e a oportunidade é oferecida por meio de Jesus Cristo. A salvação é uma dádiva universal, ou seja, sua suficiência é para todos, mas sua eficiência é para os que ouvem a palavra de Deus, crêem no Senhor Jesus e o recebem como Senhor e salvador - “...a fim de sermos para o louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, e tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, até o resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.” (Efésios 1:12-14).

A doutrina da predestinação para a salvação nos ensina a singular verdade de que a eleição para a condenação do homem perde a sua força nas Escrituras quando o amor de Deus é visto como base da predestinação. De maneira alguma há injustiça por parte de Deus, pois não é da vontade dEle que um só homem pereça sem que seja beneficiado com a mensagem de esperança e fé do evangelho da graça – “Porque o Filho do homem veio salvar o que estava perdido (Mateus 18:11). “Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos (Mateus 18:14). Esta vontade soberana de Deus tem a sua consumação na chamada do homem para a salvação.

· A chamada para a salvação:

“E aos que predestinou, a estes também chamou...” (Romanos 8:30 a; Efésios 1:3-14).

O chamado de Deus ao homem para a salvação está proporcionalmente direcionado à eleição em Cristo. A eleição é uma escolha soberana estabelecida por Deus, mediante o Filho, para a salvação dos que aceitam seu sacrifício como oferta pelo pecado (Hebreus 2:3,10; Tito 2:11). Mais uma vez, verificamos que o tema da tão grande salvação, é apresentado como uma oportunidade franqueada a todos os homens e associada aos méritos de Jesus Cristo na cruz do calvário. A salvação torna-se legal pela justificação – “...e aos que chamou, a estes também justificou...” (Romanos 5:1-12; 8:30). A salvação tem como alvo absoluto a glorificação do homem – “...e aos que justificou, a estes também glorificou.” (Romanos 8:18-27,30).

· Considerações parciais:

ü A eleição tem por base o conhecimento eterno de Deus (Romanos 8:29).

ü A eleição para a salvação descarta totalmente a participação do homem e de suas obras (Efésios 2:8-10).

ü A eleição foi planejada antes da fundação do mundo e consumada em Cristo Jesus na plenitude dos tempos (Efésios 1:4-14).

ü A eleição revela ao homem a graça de Deus em Cristo Jesus e nunca a reprovação ou condenação do homem (João 3:16; Romanos 5:5-8; Colossenses 3:12-17; 2 Pedro 1:3-4).

ü A eleição tem como finalidade atrair os homens ao amor de Deus em Cristo Jesus (Mateus 11:28-30).

ü A eleição tem por objetivo nos conduzir à santificação para o aperfeiçoamento do homem interior, até que todos que aceitam Jesus como Senhor e Salvador cheguem à estatura do varão perfeito mediante o processo da santificação e obediência a Deus (1 Coríntios 1:30-31; 2 Coríntios 3:18; 2 Tessalonicenses 2:13).

ü A eleição tem como alvo final a glorificação dos filhos de Deus, à semelhança de Cristo Jesus, para a redenção eterna (Romanos 8: 18-25, 30; Efésios 4:12-13, 15; 2 Tessalonicenses 2:14; 1 João 3:2).

· A segurança dos salvos:

“Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8:31).

O soberano Deus é o nosso juiz – Nele temos todas as garantias e favorecimentos que nos dão total segurança de que, salvos em Jesus Cristo, somos protegidos do mal para uma vida abundante e vitoriosa (Romanos 8:31-34). A pergunta no versículo 31 – “...se Deus é por nós, quem será contra nós?...” principia uma série de outras perguntas e respostas que asseguram aos salvos a total proteção de Deus no decorrer da vida cristã – “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?” Ninguém, pois Deus é nosso juiz. “Quem nos condenará? Ninguém, pois Cristo Jesus é nosso advogado, ou melhor, foi Ele quem morreu, ressuscitou e vivo está à direita de Deus e intercede em nosso favor (Romanos 8:32,34; 1 João 2:1-2). “Quem nos separará do amor de Cristo?” nada, absolutamente nada. As dificuldades, os sofrimentos, as perseguições, a fome, a pobreza, o perigo, e até mesmo a morte, não poderão nos separar do amor de Cristo, Senhor e guardião de nossas vidas (Romanos 8:35,38,39).

O soberano Deus é a nossa vitória (Romanos 8:36,37) “Como está escrito” no versículo 36. Paulo lança mão da palavra escrita sob o domínio e autoridade da inspiração bíblica para evidenciar a realidade da experiência cristã, em face aos sofrimentos decorrentes da mesma – “Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro”, uma citação do salmo 44:22. Não obstante a isto somos assegurados por Deus de que a vitória é nossa – “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Romanos 8:37). Esta é, sem sombra de dúvidas, a melhor resposta para toda e qualquer insegurança que porventura nos assalte. Vale a pena buscar segurança e proteção em Deus.

5.3. A eleição soberana de Deus em relação à Israel:

“Mas relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo” (Romanos 9:27).

A nação de Israel foi escolhida por Deus em Abraão para ser uma bênção e uma potência missionária para todas as nações e famílias da terra – “De ti farei uma grande nação, e te abençoarei e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:2,3). Deus escolheu soberanamente a nação de Israel prometendo-lhe grandeza, prosperidade e bênçãos sem medida. Deus exigiu apenas que a nação eleita em Abraão tivesse uma participação fundamental na tarefa de evidenciar ao mundo os verdadeiros valores de Deus e seus padrões morais – “Sê tu uma bênção!”. Jamais devia correr o risco de falhar em seu dever como nação. Devia, entretanto, honrar, obedecer e confiar inteiramente nas santas promessas de Deus, porque com certeza a sua fidelidade, amor e proteção os acompanharia como nação e povo escolhido por toda a eternidade.

Deus nunca falhou em suas promessas e propósitos, e jamais falhará. Infelizmente, o mesmo não aconteceu com Israel, historicamente conhecida como nação e povo do Eterno Deus, a nação de Israel não foi capaz de cumprir sua responsabilidade e missão dada por Deus. Ao contrário, apresentou-se como um povo de coração rebelde e contumaz, restando apenas a esperança do cumprimento de todas as promessas de Deus em seu favor. O trono de Davi continua desocupado, e as profecias finais relativas a Israel ainda não se cumpriram. Nos capítulos 9 a 11 de Romanos, Paulo passa a rememorar com tristeza e dor no coração a trágica rejeição de Israel para com Deus. Vejamos a idéia central de cada capítulo:

Cap. 9 – A incredulidade de Israel e a soberania de Deus.

Cap. 10 – A incredulidade de Israel e a salvação para todos os povos.

Cap. 11 – A incredulidade de Israel e o remanescente fiel.

· A incredulidade de Israel e a Soberania de Deus: Romanos 9:1-33). O passado de Israel revela-nos que a soberania de Deus não pode ser questionada pelo homem – “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?” (Romanos 9:20).

A profunda tristeza de Paulo em face à incredulidade de Israel (Romanos 9:1-5).

ü Sua dor e solicitude (versos 1-3).

ü Sua verdade sobre Israel (versos 4-5).

Israel havia sido alvo de tantos privilégios e valores divinos mas por sua incredulidade e desvio distanciou-se do fruto da gloriosa bênção de Deus. Paulo destaca estes privilégios:

Adoção – Deus sempre se identificou como Pai e os chamou de filhos numa relação íntima e familiar (Êxodo 4:22).

Glória – O sinal misterioso da presença de Deus shekinah, foi uma demonstração da graça e proteção para os filhos de Israel (Salmo 147:20).

Alianças – Os judeus foram os únicos privilegiados quanto às alianças de Deus no passado. Abraão, o grande patriarca, e Moisés, o extraordinário líder, são demonstrações do chamado e do cumprimento de todas as promessas de Deus (2 Samuel 7:13).

Lei – A lei foi dada por Deus por intermédio de Moisés a um povo, cuja destinação e valores deviam ser a manifestação da glória de Deus às demais nações da terra, mediante testemunho e vida reta perante o Todo Poderoso, pela obediência e fé nas promessas do Eterno.

Culto – A instituição das cerimônias religiosas, com a finalidade de produzir adoração verdadeira do povo ao Deus único, através do acesso ao templo e do ministério dos sacerdotes, tem por objetivo a união e o fortalecimento da nação perante Deus e a valorização do culto monoteísta. Enquanto as outras nações serviam a deuses pagãos, a nação eleita de Israel deveria servir ao Deus único e verdadeiro, criador dos céus e da terra.

Promessas – As bênçãos de Deus aos patriarcas, profetas e ao restante do povo têm por base as promessas feitas a Abraão e todos aqueles que se destinaram à obediência a Deus e uma vida de fé. A partir destes objetivos previamente estabelecidos por Deus, tomando por base as promessas feitas a Abraão, estas bênçãos deveriam alcançar os demais povos da terra e o cumprimento da promessa do reino messiânico e seu estabelecimento literal para todos os povos da terra - “O cetro não se arredará de Judá nem o bastão de entre os seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos” (Gênesis 49:10).

Patriarcas – Os grandes pais da nação judaica, Abraão, Isaque e Jacó, foram escolhidos para dar seqüência aos planos de Deus na formação de uma grande nação.

Cristo Jesus – O libertador que trouxe salvação para todos os povos. O maior privilégio de todos, pois ele é Deus bendito para todo o sempre, mediante graça e benevolência, estende o favor de Deus aos carentes e necessitados – “...Deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!” (Romanos 9:5).

A posteridade natural não representa o verdadeiro Israel de Deus (Romanos 9:6-18).

Paulo passa a explicar que a rejeição de Israel ao Deus Eterno e verdadeiro, não põe em dúvida as promessas das Escrituras e a fidelidade do Todo Poderoso. Paulo faz uma apologia contra a acusação de que Deus tenha sido infiel.

A fidelidade de Deus e a infidelidade de Israel: Nunca foi propósito de Deus que todos os descendentes de Abraão fossem agraciados com suas promessas. Os descendentes incluídos nas promessas foram os da fé, na qual viveram Abraão e aqueles que descenderam dele em obediência perante Deus. Os filhos espirituais foram os escolhidos e não os carnais. Isto é uma demonstração da grande misericórdia e fidelidade de Deus (Romanos 9:6,7,14-6). Prova absoluta – O nascimento de Ismael e Isaque, e o nascimento de Esaú e Jacó (Romanos 9:8-13). O fator principal da escolha não foi o nascimento de nenhum deles, mas a promessa de Deus. Por exemplo, o que aconteceu em relação a Abraão, em que a promessa foi feita antes da concepção de Isaque – Assim, a criança nasceu por causa da promessa, e não a promessa fora dada porque a criança nasceu (Romanos 9:8-9).

ü A fidelidade de Deus e sua escolha soberana (Romanos 9:10-13).

Quando Deus escolheu soberanamente Israel como nação, a destinação não dependeu de méritos pessoais de quem quer que seja. Esaú e Jacó, nascidos do mesmo pai e da mesma mãe, não tinham praticado bem ou mal, para que a escolha viesse a ser direcionada a Jacó. O fato de Esaú ter sido rejeitado não muda de forma alguma os propósitos e a fidelidade de Deus em relação ao destino histórico das nações (Romanos 9:10-12).

Prova Absoluta – “Como está escrito: amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú”. O termo bíblico “aborreci” é usado aqui para demonstrar que os propósitos de Deus têm absoluta primazia. “aborreci” no sentido comparativo (Lucas 14:26; Mateus 10:37)

ü A fidelidade de Deus e sua misericórdia (Romanos 9:14-18).

Nestes versículos Paulo procura conciliar a absoluta soberania de Deus em relação à sua misericórdia e o livre arbítrio do homem. Paulo aceita o fato da soberania de Deus, mas não descarta a realidade em que se encontra o seu povo. No caso específico da nação de Israel, o remanescente fiel será salvo. Não há injustiça em Deus – “Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!” (Romanos 9:14). No contexto de Romanos 9:15 em conexão com Êxodo 33:19 a misericórdia de Deus em relação a Moisés e o remanescente fiel se apresenta indubitável. Logo, não há de que reclamar o fato da justa e soberana punição de Deus ter sido aplicada aos que transgrediram a lei, o culto e a santidade daquele que é eterno. A disciplina e a misericórdia de Deus têm o mesmo objetivo: Ele disciplina porque ama e age com misericórdia porque é longânimo.

Na situação anterior Deus usou de misericórdia em um contexto puramente justo. Na segunda ilustração a soberania de Deus é destacada como fator principal da história humana. Deus descarta completamente que haja por parte do homem algum tipo de interferência em sua maneira de agir e proceder em relação ao homem. No caso de faraó – “Logo, ele tem misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz” (Romanos 9:18). O endurecer de seu coração, por vontade de Deus não visou sua condenação, pois já vivia neste estado miserável, mas teve por finalidade a redenção de Israel de seu cativeiro no Egito para a liberdade e cumprimento das promessas de uma terra que manaria leite e mel.

ü A provocação humana é injusta (Romanos 9:19-24).

Quando o homem questiona e reclama da atitude e propósitos de Deus, o faz sem nenhum motivo, simplesmente por ser esta uma característica de sua natureza, desenvolvida a partir da queda – “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?” (Romanos 9:20). A resposta de Paulo para aqueles que põem em dúvida a soberania de Deus é totalmente esclarecedora, pois Deus jamais, em nenhuma circunstância voltou atrás em suas promessas e propósitos. Sua vontade é irresistível e os que a tentam confundir tornam-se imerecedores da confiança de Deus. À luz de Romanos 9:20, o questionamento do homem passa a ser presunçoso e puramente egoísta. Quando Deus criou o homem, o criou perfeito. O homem corrompeu-se no uso espontâneo de seu livre arbítrio. Não foram os propósitos da criação inteiramente positivos? Certamente que sim! A queda do homem foi o ponto de origem de sua perdição. Não criou Deus o homem para o louvor de sua glória? É evidente que sim! Logo, a pergunta que apresenta a insatisfação da criatura em relação ao Criador – “Por que me fizeste assim?” (Romanos 9:20), não tem nenhuma razão em si mesma. Ora, tendo Deus criado o homem perfeito, como pode este ignorar sua origem, condenando a Deus por sua própria e voluntária escolha de vida? O descontentamento do homem em relação a Deus apresenta muito mais a natureza e a situação em que vive do que qualquer injustiça que porventura pudesse coexistir com a natureza e propósitos de Deus para com o homem.

ü O oleiro e o barro: Paulo usa uma expressão amplamente conhecida na cultura hebraica e difundida nas Escrituras do Velho Testamento. Eram palavras usadas pelos profetas no contexto de relacionamento do povo de Israel para com o Deus eterno (Isaías 29:16; 30:14; 41:25; 64:8; Jeremias 18:2,3,4,6; 19:1,11; Lamentações 4:2; Zacarias 11:13). A figura do oleiro no Velho testamento representa, em algumas situações, o próprio Deus. O oleiro é sempre o mesmo, não muda, ao passo que o barro não continuará sendo o mesmo por toda a existência, mas deve ser moldado até atingir o ponto e gosto de seu possuidor. As palavras “barro” e “oleiro” nunca foram usadas para indicar o relacionamento de Deus com a igreja. Somente em três passagens do Novo Testamento encontram-se as palavras “barro e oleiro”. – O campo do oleiro que fora comprado pelos principais sacerdotes com o dinheiro que Judas recebeu em troca de sua traição (Mateus 27:7,10); ainda em relação aos vencedores que receberão autoridade conferida por Cristo para reger as nações como se estas fossem objetos de barro keramikoV (kerámikos), e por último em Romanos 9:20-23. O oleiro e o barro à luz de Romanos, apresenta o questionamento da criatura em relação ao Criador. O homem acusa o Criador – “Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: por que me fizeste assim?” . O objeto plasma (plasma) é aquilo que é moldado e artesanalmente trabalhado para o uso de seu possuidor. Quem o moldou? plasanti (plasanti) verbo no modo particípio no tempo aoristo, indicando que o moldador e modelador é “aquele que cria”. O questionamento – “Por que me fizeste assim?” Fizeste epoiesaV (epoiêssas) modo indicativo, tempo aoristo, voz ativa indica uma ação completa e ativa sem levar em consideração o fator tempo. Logo, tendo Deus criado o homem em seu estado perfeito, não pode nem deve este murmurar ou questionar seu estado presente. A atitude do homem deveria ser contrária ao seu questionamento. Voltando-se o homem para Deus, este certamente o receberá, como na analogia do filho pródigo. Usando o sentido comparativo do barro e do oleiro, Paulo, que geralmente apresentava-se como um pensador claro, sempre usando alguma ilustração quando seu pensamento lhe parecia algo obscuro, faz a analogia de um oleiro qualquer e uma massa que, sendo misturada, é transformada em um objeto para o uso de seu possuidor – “ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Romanos 9:21). O verbo “fazer” poiesai (poiessai) é usado aqui apenas para explanar a autoridade do oleiro kerameuV (kerameus) sobre a massa do barro furamatoV (fyrámatos), sem o conceito de tempo e sem nenhuma ligação com o princípio da escolha soberana de Deus para a salvação do homem. O oleiro e a massa neste versículo representam uma simples ilustração.

ü A Paciência de Deus (Romanos 9:22). Vasos de ira – “Que diremos, pois, se Deus querendo mostrar sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição”. O erro da maioria dos exegetas consiste em apresentar “os vasos de ira” como símbolos dos seres humanos criados por Deus para a perdição. Como já vimos, Deus criou o homem perfeito (Gênesis 1:26-27). O texto não declara que os vasos de ira foram preparados por Deus de antemão, como é o caso dos vasos de misericórdia no versículo 23. O particípio perfeito katertismena (katertismena) indica-nos que os vasos se corromperam pelos próprios pecados. O tempo perfeito enfatiza o estado ou condição em que se encontram depois da desobediência a Deus.

ü O propósito de Deus em relação a Israel: “A fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para a glória preparou de antemão” (Romanos 9:23). Esta é a vontade soberana de Deus para todos os homens. A oportunidade foi franqueada em primeiro lugar à nação de Israel. A Abraão e sua descendência por parte de Isaque e Jacó (Romanos 9:4-5). Os demais povos da terra recebem a mensagem da salvação e a garantia nela prevista mediante a promessa feita ao patriarca Abraão: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:3). O capítulo 9:23 expressa claramente que o desejo de Deus na escolha de Israel como nação tem a ver com o propósito em fazer desta nação um testemunho de suas leis e princípios para a humanidade. O particípio grego “preparados de antemão” prohtoimasen (proetoimasen), encontra-se no tempo aoristo, ou seja, o tempo que Deus determinou para que a nação de Israel e todos aqueles a quem ele chamar, judeus e gentios, fossem uma bênção para todas as nações da terra. O agente da voz passiva do particípio grego citado é o próprio Deus.

ü Os vasos de misericórdia: “Preparados de antemão” demonstra que o propósito de Deus é um plano que se deu soberanamente antes da fundação do mundo “...desse a conhecer” no grego, gnwrish (gnorise), aoristo subjuntivo. O modo é usado para expressar o propósito imutável do Deus eterno.

ü Os propósitos de Deus em relação a Israel e gentios: “Os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? (Romanos 9:24). É uma interrogação. A resposta é positiva. Sim. Esta afirmação está relacionada à igreja ekalesen (ekálesen). Trata-se da chamada para a salvação daqueles que se encontram envolvidos com o sistema do mundo e que são convocados para a presença de Deus.

ü As predições sobre a incredulidade de Israel e a misericórdia para com os gentios (Romanos 9:25-33). Os profetas de Israel foram chamados por Deus para um ministério esclarecedor e que convocava o povo na velha aliança para a obediência irrestrita a Deus, pois profetizaram e registraram não apenas o futuro histórico das nações, mas, sobretudo evidenciaram que os propósitos das misericórdias e graça divina para a salvação de todos os homens não é apenas um sentimento pessoal de Deus para um indivíduo ou nação em particular. Deus ama a todos sem fazer acepção de pessoas (Romanos 2:11). Judeus e gentios têm o mesmo lugar no coração de Deus e ele usa de misericórdia para com todos, sem distinção, pois ele deseja que todos sejam chamados seus filhos, mediante o sacrifício de Jesus – “E no lugar em que se lhes disse: Vós não sois meu povo; ali mesmo serão chamados filhos do Deus vivo” (Romanos 9:26).

ü As predições de Oséias em relação aos gentios (Romanos 925-26). “Assim como também diz em Oséias: chamarei povo meu ao que não era meu povo; e, amada, à que não era amada”.

ü As predições de Isaías em relação aos Judeus e gentios (Romanos 9:27-33). “Mas relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo” (Romanos 9:27). Com relação aos gentios, Paulo mostra que a justificação através de Cristo Jesus, alcança todos os povos da terra mediante a pregação do Evangelho e pelo convencimento do Espírito Santo de Deus – “Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justificação vieram a alcançá-la, todavia a que decorre da fé” ( Romanos 9:30 ).

· A incredulidade de Israel e a salvação para todos (Romanos 10:1-21):

O mesmo sentimento que Paulo demonstrou em relação a Israel nos primeiros versículos do capítulo nono é evidenciado também no início do capítulo décimo. Paulo, mesmo tendo a consciência de que a incredulidade de Israel o afastou de Deus e que a misericórdia do Todo Poderoso alcançou os gentios, apresenta-se desejoso de ser considerado anátema, separado de Cristo, por amor de seus compatriotas segundo a carne – “Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos” (Romanos 9:1).

O que caracteriza a pobreza espiritual de Israel e sua conseqüente incredulidade? Sem muito esforço e poder de argumentação podemos chegar a uma resposta simples e satisfatória: Israel desagradou a Deus no que diz respeito a seu passado idólatra, seu presunçoso comportamento e, sobretudo, por sua teimosia obstinada em querer justificar-se por obras da lei, e não pela justificação que vem de Deus. Vejamos alguns pontos que revelam o insucesso religioso de Israel:

ü Falta de entendimento (Romanos 10:2): A teimosia obstinada de Israel como nação escolhida, a levou a uma postura de religiosidade que age com sinceridade, porém com ignorância total e falta de entendimento, comete fanatismo religioso em nome do zelo espiritual. O zelo sem discernimento não leva ninguém a alcançar a justiça que procede de Deus – “Eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento”.

ü Falta de sujeição a Deus (Romanos 10:3-4). Não foram capazes de sujeitar-se à justiça que vem de Deus (Romanos 10:3). Não atentaram para Cristo, que é o propósito ético da lei e a finalidade absoluta da harmonia espiritual para a humanidade. Israel, tendo como fruto a falta de bom senso desconheceu a justiça que procede de Deus, para estabelecer a sua própria. Uma justiça inoperante e

sem valor algum em face à justificação que procede de Cristo; pois ele é “o fim da lei para a justiça de todo àquele que crê” (Romanos 10:4).

ü Falta de reconhecimento de que a justificação é pela fé e não por obras da lei (Romanos 10:5-11). Ao contrário, optaram por um caminho difícil e tiveram que escalar uma montanha muito mais alta a fim de obterem a justificação. Nunca reconheceram que a salvação é graciosa e jamais obtida por obras procedentes da lei. A justificação pela lei:

Sua prática – impossível (Romanos 10:5 a)

Sua observância – cega e sem entendimento (Romanos10: 2)

Seus seguidores – insubordinados (Romanos 10:3)

A justificação pela fé:

Seu autor- Cristo Jesus (Romanos 10:4)

Seu método- confissão de pecados: “Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor... (Romanos 10:9 a).

Crer de todo o coração: “e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10:9 b, 10,11)

Sua prática – pela fé (Romanos 10:6-8).

ü Falta de reconhecimento da universalidade do evangelho (Romanos10: 11-21) “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo” (Romanos 10:13) O evangelho soberano de Deus é uma expressão viva de sua bondade desde os tempos antigos. A promessa de um salvador, em Gênesis 3:15, oferece a base para a ação de Deus no Velho Testamento que assegura ao homem perdido a salvação no Filho de Deus. Os filhos de Israel, em particular, conheciam estas verdades, uma vez que a eles foram dadas às promessas diretamente e como vocação dos oráculos de Deus deviam transmitir para outros povos em todo o mundo a mensagem do Deus eterno e salvador. Entretanto Israel falhou em seu testemunho e em sua missão de se tornar uma bênção para todas as famílias da terra. A nação de Israel foi incumbida de transmitir a mensagem verificada em Isaías 45:22 – “Olhai para mim, e sede salvos, vós, todos os confins da terra; porque eu sou Deus, e não há outro” O profeta Isaías está se referindo ao convite universal do evangelho gracioso de Deus. “Vindo, porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas 4:4-5). Ao homem cabe aceitar, quer seja judeu ou gentio, o plano eterno de Deus para a salvação. (Romanos 10:12). Nos versículos finais do capítulo 10 de Romanos Paulo apresenta o método e a extensão do alcance do evangelho da graça.

Aceitação pela fé (Romanos 10:8-13) – “todo aquele que nele crer, não será confundido”.

Ao alcance de todos (Romanos 10:14-21) – Nestes versículos Paulo evidencia a grande dificuldade da evangelização teocêntrica e as quatro necessidades básicas da urgência do evangelho para o coração do homem. A necessidade de verdadeiros adoradores “como, porém, invocarão aquele em quem não creram? (Romanos 10:14 a). A necessidade da verdadeira pregação ”e como crerão naquele de quem nada ouviram? (Romanos 10:14 b). A necessidade de verdadeiros pregadores “e como ouvirão se não há quem pregue?” (Romanos 10:14 c). A necessidade da verdadeira vocação “e como pregarão se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!” (Romanos 10:15). A grande responsabilidade em face das necessidades aqui apresentadas tem a ver com a missão da igreja e seus comissionados (Romanos 10:14, 15,20). Por isso Paulo nos chama a atenção para a consciência vocacional, para que não sejamos como Israel, falhos e negligentes na missão da pregação da mensagem salvadora (Romanos 10:16-19) – “Quanto a Israel, porém, diz: todo dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente” (Romanos 10:21).

· A incredulidade de Israel e o remanescente fiel (Romanos 11:1-36)

“Pergunto, pois: terá Deus rejeitado seu povo?” Paulo introduz o capítulo 11 de Romanos com um questionamento cuja resposta é dada por ele mesmo: “De modo nenhum!” Em que Paulo alicerça sua resposta? Ele a sustenta com base em quatro provas absolutas de que Deus não rejeitou seu povo: primeiro, com base na experiência vivida pelo próprio Paulo (Romanos 11:1); segundo, a realidade do remanescente fiel que foi salvo em tempos passados (Romanos 11:2-4); terceiro, o remanescente salvo segundo a eleição da graça, isto é, através da mensagem de Cristo Jesus anunciada pela igreja (Romanos 11:5-6); quarto, em relação à doutrina do remanescente fiel que será salvo no futuro, segundo a eleição soberana e fundamentada na aliança feita com Abraão (Romanos 11:26; Gênesis 12:2). Vejamos com mais detalhes o conteúdo de cada um desses quatro argumentos:

Primeiro argumento – a salvação de Paulo (pessoal)

Segundo argumento – a salvação no Velho Testamento (passado)

Terceiro argumento – a salvação pela eleição da graça (presente)

Quarto argumento – a salvação escatológica de Israel (porvir)

ü Primeiro argumento (Romanos 11:1) A experiência pessoal de Paulo tem a ver com seu passado judaico vivido dentro da estrutura legalista do farisaísmo (Romanos 7:7-25; Filipenses 3:4-6) “Porque eu também sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim”. Foi dentro deste contexto que ele teve um encontro com Jesus que determinou sua transformação de perseguidor da igreja a pregador da mensagem do evangelho da graça. Antes deste encontro a experiência de Paulo com Deus não passava de mero conhecimento da tradição religiosa de seus pais e de suas convicções exageradas com base no fundamentalismo judaico desvinculado da graça e da misericórdia apresentadas na mensagem de Jesus Cristo. Paulo agora conheceu um Deus que se manifestou diretamente a ele. Paulo não somente ouviu a voz de Deus como este também o tocou em sua própria carne, alma e espírito (Atos 9:1-19).

ü Segundo argumento (Romanos 11:2-4). Paulo escolheu a passagem das Escrituras que fala sobre os remanescentes que foram salvos no tempo do profeta Elias sem fazer citação a outros acontecimentos. Não porque quisesse dar a entender que este tenha sido o único acontecimento isolado. Deus demonstrou misericórdia para com o seu povo desde o princípio, jamais retirou deles a sua graça e a sua fidelidade. Mesmo em face a incredulidade de Israel, Deus usou de bondade salvando todo aquele que se mostrava fiel, porque a sua misericórdia dura para sempre. O grande e vitorioso acontecimento na vida de Elias, que se deu no monte Carmelo contra Baal e seus profetas ( 1 Reis 18:20-40), o milagre da chuva em tempos de seca (1 Reis 18:41-46), e a proteção dada a Elias em tempos de perseguição são provas de que Deus nunca se afasta de seu povo – “Deus não rejeitou o seu povo a quem de antemão conheceu” (Romanos 11:2 a). O profeta alarma-se desesperado: “Senhor, mataram os teus profetas, arrasaram os teus altares, e só fiquei, e procuram tirar-me a vida” (1 Reis 19:14; Romanos 11:3). A resposta salvadora e consoladora o encoraja: “reservei para mim sete mil homens que não dobraram seus joelhos diante de Baal” (1 Reis 19:18; Romanos 11:4).

ü Terceiro argumento (Romanos11: 5-25) Sempre existiu um remanescente fiel. Alguém que repudiou outras práticas religiosas para servir com exclusividade ao Deus eterno. Paulo revela ser esta uma verdade extraordinária que pode ser verificada e vivenciada até os dias de hoje – “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça” (Romanos 5:11). Esta é uma oportunidade a mais oferecida aos judeus, o privilégio de poderem fazer parte da igreja juntamente com os gentios, e unidos formarem um só corpo, com um só propósito e com uma só convicção. O que se pode verificar é que na presente dispensação da graça a salvação é um privilégio de todos, porquanto este sempre foi o propósito de Deus em sua destinação soberana a cada criatura. Todavia a realidade dos fatos ocorridos é que Israel nunca procurou descobrir a vontade suprema de Deus para todas as nações e indivíduos da terra. A nação judaica e sua religiosidade obsoleta dentro de uma visão exclusivista buscou a salvação por sua própria e egoísta competência, mediante obras e métodos ineficazes da lei – “E se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Romanos 11:6). É inútil pretender ser salvo pelas obras da lei (Romanos 11:7 a), pois a eleição da graça para a salvação é através de Cristo Jesus. Quem para ele se volta será bem recebido e redimido do pecado – “Mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos” (Romanos 11:7b). Uma cegueira espiritual profetizada nas Escrituras que resultou na queda fatal (Romanos 11:8-10; Salmo 69:22). Contudo, em meio à cegueira espiritual de Israel, Deus lançando mão de sua justiça providenciou a salvação dos gentios – “Pergunto, pois: porventura tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum: mas pela sua transgressão veio a salvação aos gentios, para pó-los em ciúmes” (Romanos11:11). Será que os judeus caíram em desgraça total? Não. Sua queda foi parcial. Pois as promessas com respeito ao remanescente fiel ainda não se cumpriram (Romanos 9:27-29). O afastamento de Israel de Deus não é compulsório, mas voluntário. A queda de Israel não é fruto de uma manobra divina para que os gentios viessem a ser beneficiados. Deus simples e soberanamente transformou o mal em bem, a maldição em bênçãos – “Mas pela transgressão de Israel veio a salvação aos gentios” (Romanos 11:11b). A queda não foi conclusiva, e sim provisória. Israel haverá de ser restaurado ao cumprir-se a plenitude dos gentios – “Virá de Sião o libertador, ele apartará de Jacó as impiedades” (Romanos 11:26b). Se a queda de Israel resultou em bênçãos para os gentios, quanto mais a sua restauração redundará em riquezas e bênçãos para todas as nações da terra (Romanos 11:12) e trará vida dentre os mortos (Romanos 11:15; Isaías 11:9).

Olhando a salvação do ponto de vista divino ela sempre se revelou universal em sua abrangência, isto é, ao alcance de todos. Não há motivo algum para orgulho ou vaidade pessoal na obra da salvação. Deus deseja que a salvação seja ministrada a judeus e gentios e é com esta finalidade que Paulo se dirige às nações gentílicas (Romanos11: 13 a), a fim de adverti-las contra todo e qualquer orgulho e vaidade religiosa (Romanos 11:17-24). Se o gentio é salvo, é liberto pelos méritos de Cristo. Se o judeu é salvo, é agraciado também pelos mesmos méritos. Visto que a salvação pertence em absoluto ao Senhor nosso Deus, independentemente da participação humana – “Sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério” (Romanos11: 13 b). “Talvez com isto eu, Paulo, possa incitar à emulação aqueles do meu próprio povo” (Romanos 11:14). A expressão emulação significa “incentivo ao ciúme” e um despertamento quanto ao significado da verdadeira salvação em Cristo Jesus. A seguir Paulo usa três figuras para ilustrar a verdadeira posição de Israel e a verdadeira posição dos gentios.

As primícias da massa (Romanos 11:16 a; Números 15:17-21) “E se forem santas as primícias da massa, igualmente o será a sua totalidade”. As primícias, ou as primeiras colheitas de trigo representam os patriarcas e sua aliança com Deus. A sua totalidade, o todo da massa representa a nação de Israel como povo escolhido e destinado para ser uma bênção.

As raízes da oliveira (Romanos 11:16 b; Jeremias 11:16) “e se for santa a raiz, também os ramos o serão”. A figura muda, mas o significado permanece o mesmo. A raiz é o patriarca Abraão e os ramos são os filhos de Israel. Em relação à igreja, Cristo é a raiz e a videira e os ramos enxertados são a igreja. O termo “santa” é usado aqui no sentido de “separado para Deus”.

A oliveira brava (Romanos 11:17-24) “E tu, sendo oliveira brava, foste enxertado em meio deles, e te tornaste participante da raiz e da seiva da oliveira”. A figura da oliveira brava representa as nações gentílicas enxertadas nas promessas feitas a Abraão para que se cumprissem as palavras de Deus em Gênesis 12:3 “em ti serão benditas todas as famílias da terra”; “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos” (Gálatas 3:8). Paulo alerta os gentios como privilegiados para que se protejam contra três grandes perigos: “Não te glories” (Romanos 11:18-19); Paulo, tendo a responsabilidade de ministrar aos gentios (Romanos 11:13), admoesta-os para que não venham a gloriar-se contra os ramos naturais, os filhos de Israel. Estejam certos de que: “não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti” (Romanos 11:18). Nunca devem declarar com orgulho que: “alguns ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado” (Romanos 11:19). Todos os que são da fé em Cristo Jesus devem ter a consciência de que o autor de nossa salvação é também da descendência de Abraão e herdeiro de toda a riqueza terrena e celestial e como seus filhos somos co-herdeiros com Ele. Enquanto Abraão representa como figura o pai da fé dos judeus e gentios, Jesus é o próprio autor da fé e salvador de todos – “porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o autor da salvação deles” (Hebreus 2:10); e ainda; “mas acerca do Filho: o teu trono, ó Deus, é para todo sempre; e: cetro de eqüidade é o cetro do teu reino” (Hebreus 1:8). A segunda advertência de Paulo é: “não te ensoberbeças” (Romanos 11:20-24). O temor a Deus deve tomar o lugar da soberba, pois Deus não poupou a Israel, os ramos naturais, quando se ensoberbeceram contra Ele no deserto. Logo, os que são gentios devem ter o cuidado para não caírem na mesma desgraça (Romanos 11:20-21) – “Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus” (Romanos 11:22-24). A terceira advertência: “não sejais presumidos” (Romanos11: 25), ou seja, sábios ou presunçosos aos seus próprios olhos, sem observarem o que Deus pode fazer a todos sem distinção de raça e cultura. Se alguns dos próprios judeus vierem a se converter, devem ser bem recebidos e participarão de todos os direitos e privilégios da igreja como comunidade dos santos em Cristo Jesus.

ü Quarto argumento – A salvação no futuro (porvir) (Romanos 11:26-36). O cumprimento final da promessa do remanescente fiel se dará com a vinda do restaurador de Israel – “E assim, todo o Israel será salvo” (Romanos11: 26), isto é, todo aquele de todas as tribos de Israel que reconhecer que Jesus Cristo é o Senhor. Este terá suas vestes lavadas no sangue do cordeiro e reinará com ele (1 Coríntios 15:24,25; Gênesis 49:10) – “esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados” (Romanos11:27). As duas posturas de Israel como nação hoje são: Quanto ao evangelho – são inimigos (Romanos11:28 a). São contrários ao evangelho por terem rejeitado a Jesus como Cristo (João 1:10,13). Quanto à eleição – são amados por causa dos patriarcas e todas as promessas feitas a eles (Romanos 11:28b) –“porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Romanos11:29). Se os povos gentílicos, no passado e agora, desobedeceram e desobedecem a Deus, e mesmo assim muitos são escolhidos (Romanos 11:30), assim também serão eles, os judeus, alcançados pelas misericórdias de Deus – “assim também estes, agora, foram desobedientes para que, igualmente, eles alcancem misericórdia, à vista da que vos foi concedida” (Romanos 11:31). Eles foram desobedientes, e por causa disto todos os demais foram alcançados e agraciados por Deus. Eles também, os judeus, quando forem redimidos receberão as mesmas bênçãos – “porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos”. Amém! (Romanos11: 32)

· A doxologia da soberania e da sabedoria de Deus (Romanos 11:33-36)

Paulo, transbordante de gozo por causa da sabedoria de Deus, expressa, na mais alta e doce harmonia um cântico de louvor e adoração àquele que é soberano sobre todas as coisas:

Louvor e Ação de Graças pela Sabedoria de Deus

“Como são grandes as riquezas de Deus!

Como são profundos os seus conhecimentos!

Quem pode explicar as suas decisões?

Quem pode entender os seus planos?

Como dizem as Escrituras Sagradas:

Quem pode conhecer a mente do Senhor?

Quem é capaz de lhe dar conselhos?

Quem já deu alguma coisa a Deus?

Para receber dele algum pagamento?

Pois todas as coisas foram criadas por Ele,

E tudo existe por meio d’Ele e para Ele.

Glória a Deus para sempre!

Amém e Amém“!

(Versão da Bíblia na Linguagem de Hoje)

VI. A SUPERIORIDADE DO SERVIÇO CRISTÃO (ROMANOS 12:1-15:1-33)

“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto raciona. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:1, 2).

· Recapitulação:

ü A síndrome da humanidade decaída (negligência às leis de Deus)

ü A salvação em Cristo (nova vida)

ü A santificação em Cristo (novo caráter)

ü A soberania de Deus (nova ordem)

ü A superioridade do serviço cristão (nova vocação)

6.1. O serviço cristão inteligente (Romanos 12:1-2)

Quais são as potencialidades de cada um de nós no serviço cristão criativo?

· A total consagração (Romanos 12:1) O serviço cristão inteligente tem a ver com uma consagração completa que só acontecerá se houver da parte do servo uma dedicação sem reservas. Paulo aborda a responsabilidade no serviço cristão acima dos interesses pessoais e que frutifique para o reino de Deus – “Rogo-vos, pois...” nos chama a atenção para as misericórdias de Deus, visto que fomos justificados perante Ele para um viver santo através do verdadeiro sacrifício e discipulado cristão. Com estas palavras somos desafiados a pensar em tudo no conjunto e conteúdo da obra de Cristo Jesus por nós. Em tudo que ele fez para que fôssemos libertos do pecado para uma vida de felicidade e vitória espiritual no serviço cristão. A total consagração no serviço de Deus está associada ao sacrifício vivo e voluntário com base no amor a Deus. Por isso somos constrangidos pelo Espírito para a vocação do reino de Deus. Um sacrifício vocacional, santo e completo tem relação com uma entrega voluntária de nosso corpo, alma e espírito ao serviço do mestre. Sacrifício agradável e prático diz respeito a um culto racional ou inteligente em tudo que fizermos ao Senhor numa dedicação à santa vocação.

· A total renovação da mente (Romanos 12:2 a) O plano de Deus para uma vida de renovação espiritual tem dois aspectos bem definidos: “... não vos conformeis com este século...” relaciona-se com a realidade externa, o sistema em que vivemos , o molde ou modelo social, cultural e ético em que estamos inseridos. O segundo aspecto trata do que é interior, isto é, nossa vida espiritual e nossa responsabilidade para com Deus – “... transformai-vos pela renovação da vossa mente”.

· A total aprovação de Deus (Romanos 12:2b) “... para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. As experiências de grandes homens de Deus revelam que foram transformados a partir de uma nova concepção dos valores de Deus em suas vidas, resultando em dedicação voluntária ao serviço cristão.

6.2. O serviço cristão e os dons do Espírito Santo (Romanos 12:3-8)

Qual é o seu dom espiritual?

As Escrituras Sagradas nos revelam que os dons do Espírito Santo são diversos, mas o Senhor é o mesmo e confere-os ao seu povo visando um fim proveitoso. Paulo passa a relacionar uma série de dons que devem construir os valores espirituais dos membros da igreja para a edificação do corpo mediante serviço voluntário e consagração pessoal de vida.

· Dom de fé – “segundo à medida que Deus repartiu a cada um” (Romanos 12:3-5).

· Dom de profecia – pregação e exposição das escrituras (Romanos 12:6).

· Dom de ministério para ensino – “o que ensina, esmere-se no fazê-lo” (Romanos 12:7).

· Dom de exortação – “faça-o com dedicação” (Romanos 12:8 a).

· Dom de contribuição – “faça-o com liberalidade” (Romanos 12:8 b).

· Dom de presidir – “faça-o com diligência” (Romanos 12:8 c).

· Dom de misericórdia – “faça-o com alegria” (Romanos 12:8 d).

6.3. O serviço inteligente e as virtudes cristãs (Romanos 12:9-16)

· A virtude do amor (Romanos 12:9-10)

· A virtude do zelo cristão (Romanos 12:11)

· A virtude da esperança (Romanos12: 12 a)

· A virtude da paciência (Romanos12: 12 b)

· A virtude da oração perseverante (Romanos 12:12 c)

· A virtude da hospitalidade (Romanos 12:13b)

· A virtude da solidariedade (Romanos 12:13 a 14,15.,16)

Estas sete virtudes são aconselhadas por Paulo aos que foram chamados para o serviço cristão voluntário e para a edificação de vidas na igreja de Cristo Jesus. Paulo desafia a todos aqueles que estão engajados para que sejam humildes de coração e sábios de entendimento – “não sejais orgulhosos, condescendei com o que é humilde; e não sejais sábios aos vossos próprios olhos” (Romanos12: 16).

6.4. O serviço cristão e o segredo da paz interior (Romanos 12:17-21)

Qual é a reação natural do homem diante de alguma situação desagradável que o atinge? Cada ser humano ao nascer herda três instintos naturais: 1. Propagação da vida; 2. Prolongamento da vida; 3. Preservação da vida. Este terceiro instinto natural presente em cada ser humano deve ser administrado à luz do segredo da paz revelado nas Escrituras - “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Romanos 12:18). Para encontrar a chave que abre o segredo da paz e de um relacionamento amistoso faz-se necessário observar três princípios:

· O princípio do bem (Romanos 12:17). Paulo fala das “brasas vivas” que podem queimar as obras do mal e da consciência que são contrários à lei do Espírito, a fim de que se tenha um viver pacífico e harmonioso – “Não torneis a ninguém mal por mal”. O mal não pode ser corrigido com o próprio mal, pois a lei de “olho por olho” e “dente por dente” foi substituída por Jesus Cristo por uma outra lei, a do amor e da sensatez. O amor que não pensa o mal e que é benigno em tudo o que faz (Mateus 5:43-44) – “... esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens” é um desafio de Paulo à prática constante do que é bom e que deve ser exercida pelo cristão com muito zelo, amor e determinação. Isto significa dizer que o cristão deve agir pacificamente, abrindo mão de seus direitos e não praticando sua própria justiça. Alguém já disse que a melhor maneira de se livrar de um inimigo é tornar-se amigo dele, e assim vencer o mal com o bem (Romanos 12:21).

· O princípio da paz (Romanos12: 18). Uma vida vitoriosa é resultado do fruto do Espírito Santo que produz harmonia na família, na igreja e na sociedade. O esforço puramente humano para que tenhamos uma sociedade melhor e justa é vão se não estiver fundamentado e regido pelos valores cristãos – “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que ele escolheu para sua herança” (Salmo 33:12). A harmonia na igreja deve ser resultado da harmonia na família onde Cristo reina e é Senhor absoluto.

· O princípio da ira santa (Romanos 12:19-21). Está escrito: “a mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor”. Paulo exorta-nos para que levemos nossos problemas pessoais ao tribunal divino. Devemos dar lugar à ira de Deus e nunca aos nossos próprios mecanismos de defesa. Devemos dar lugar às boas ações e à coerência no trato com o próximo: “pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça”. Agostinho disse: “são as chamas ardentes da vergonha, as quais os homens sentiriam quando, depois de maltratarem os crentes, fossem bem tratados por eles”. Saibamos vencer o mal com o bem (Romanos 12:21). Estas brasas vivas devem arder em cada cidadão do reino dos céus, pois estes princípios são tochas permanentes para eliminar o mal e para guiar os passos daqueles que servem a Deus de coração.

6.5. O serviço cristão e a submissão às autoridades (Rom. 13:1-7)

As palavras de Paulo em relação à submissão devida às autoridades têm por objetivo esclarecer aos cristãos quais são os seus deveres cívicos como cidadãos crentes e membros do estado. A experiência apostólica de Paulo em termos de cidadania e temor a Deus o constrangeu a desafiar os crentes em Roma a serem submissos às autoridades. Esta missão não foi nada fácil para Paulo, pois o mesmo sentia na pele o peso desta responsabilidade e como cristão sofria as conseqüências de um apostolado sem o favorecimento das autoridades de sua época. Entretanto Paulo procurava ser um exemplo de Cristo e um modelo para o rebanho de Deus, a igreja. É mais fácil e prazeroso ser submisso a uma autoridade quando a mesma se mostra flexível aos ideais comuns. Porém, quando esta autoridade se revela tirana e déspota, como o foram os césares e Herodes dos dias de Paulo, a submissão se faz difícil, porém não impossível. Os imperadores de Roma, no que diz respeito ao trato com os cristãos, exerciam governos autocráticos e autoritários, ao ponto máximo da tirania desmedida. Foi o caso de Nero, um tirano absoluto, que praticou crueldades monstruosas através de perseguições e constantes atrocidades a cristão inocentes. Paulo, evidentemente não concordava com tais injustiças, mas também discordava daqueles que queriam usar como subterfúgio a injustiça para dar lugar à insubmissão e à desordem.

· Obediência às autoridades (Romanos 13:1-5). Não obstante a nossa cidadania celestial, devemos também considerar e respeitar a nossa posição perante as autoridades humanas. A autoridade de Deus é transferida às autoridades humanas, uma vez que estas são constituídas por Deus – “todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.” (Romanos 13:1). As autoridades foram constituídas para nosso bem e para o equilíbrio das leis sociais e morais – “visto que a autoridade é ministro de Deus para o nosso bem...” (Romanos 13:4}. Paulo nos desafia à submissão e não à rebeldia, pois os salvos pertencem ao reino de Deus e, como tal, devem dar um bom testemunho mesmo em face ao péssimo caráter de governantes desonestos e cruéis – “de modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si m esmos condenação” (Romanos 13:2). As autoridades, no contexto social dos dias atuais não causam nenhum pavor aos homens bons. Entretanto para os maus as autoridades constituem-se uma ameaça (Romanos 13:3-4) – “É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência.” (Romanos 13:5).

· Obrigações públicas (Romanos 13:6-7). A orientação de Paulo sobre a tributação e impostos romanos, estabelece critérios justos para um estado e governantes injustos e rigorosos. Os romanos impunham tributos às suas províncias com severidade. Daí a pergunta maliciosa dos fariseus e herodianos para Jesus – Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar tributo a César, ou não? Jesus, porém, conhecendo-lhes a malícia, respondeu: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:17, 18 a, 21b). O ensino de Jesus não isenta o homem de suas obrigações tributárias ao estado. Paulo apresenta a mesma reflexão sobre o ensino de Jesus – “Pagai a todos o que lhes é devido:

ü A quem tributo, tributo – obrigações das províncias para com o governo romano (Romanos 13:6,7 a)

ü quem imposto, imposto – obrigações dos cidadãos para com o governo (Romanos 13:7 b)

ü A quem respeito, respeito – reconhecimento das autoridades constituídas por Deus. A falta de respeito e consideração para com uma autoridade poderia resultar em retaliações e perdas de privilégios, até mesmo da própria vida. (Romanos 13:7 c; 1 Timóteo 2:1-3; Tito 3:1)

ü A quem honra, honra – reconhecimento do soberano que tem a responsabilidade de conduzir os destinos da pátria mãe. O apóstolo Pedro exorta-nos: “Tratai a todos com honra, amai aos irmãos; temei a Deus, honrai ao rei” (1 Pedro 2:13-17; Romanos 13:7 d).

6.6. O serviço criativo e a interação pessoal (Romanos 13:8-4; 15:13)

Nesta exposição final, Paulo tem dado ênfase especial à prática do inter -relacionamento e do valor da sinceridade no serviço cristão, pois certamente deseja fixar na memória de seus leitores princípios fundamentais para o relacionamento cristão integral. Quais são os princípios que devem nortear esta interação?

· A lei do altruísmo (Romanos 13:8-10) – “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor, com que vos ameis uns aos outros: pois quem ama ao próximo, tem cumprido a lei” (Romanos 13:8). A lei de Moisés, em relação ao próximo, “não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e se há qualquer outro mandamento...” (Romanos 13:9 a; Êxodo 20:13-17), é resumida por Paulo à luz da lei de Jesus: “Amarás ao teu próximo com o a ti mesmo” (Romanos 13:9 b,10; Mateus 22:39; Marcos 12:31;Lucas 10:27). Este é o método mais simples no cumprimento de toda a lei – “Pois quem ama ao próximo, tem cumprido a lei” (Romanos 13:8 b). Respeitando assim, as leis do relacionamento autêntico – “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Romanos 13:10).

· A lei da santidade prática (Romanos 13:11-14) – “E digo isto a vós outros que conheceis o tempo, que já é hora de vos despertardes do sono; porque a nossa salvação está agora mais perto do que quando no princípio cremos” (Romanos 13:11). Em nosso relacionamento com Deus, precisamos dar ênfase à total santificação que foi apresentada mais amplamente nos capítulos 6:1-8:1-39, e em síntese aqui nos versículos 11-14. A urgência da santidade prática é estimulada pela necessidade de santificação pessoal no cotidiano da experiência cristã. Esta experiência representava para Paulo dias de lutas e adversidades por todos os lados, porquanto a salvação mediante o processo de santificação lhe daria o privilégio do encontro imediato com Cristo e a recompensa dos galardões celestiais. Com certeza o nosso encontro com Cristo numa dimensão espiritual após a morte física se aproxima a cada instante. Agostinho, grande vulto da teologia cristã, fora levado à conversão em Cristo Jesus pelo desafio dos versículos finais do capítulo 13 de Romanos, cujo conteúdo confronta a todos os homens, a fim de que sejam, transformados pela pregação do evangelho de Cristo Jesus – “Vai alta a noite e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas, e revistamo-nos das armas da luz” (Romanos 13:12).

O abandono das obras das trevas“...não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes” (Romanos 13:13 b). E numa disposição de uma mente sadia e brilhante sejamos movidos pelo fruto do Espírito – “...nada disponhais para a carne, no tocante às suas concupiscências” (Romanos 13:14 b).

O andar renovado“...revistamo-nos das armas da luz” (Romanos 13:12 b). As armas espirituais da luz são defensivas contra os ataques do mal. Portanto, nos dão total garantia contra as investidas de Satanás às nossas convicções cristãs. “andemos dignamente, como em pleno dia...” (Romanos 13:13 a). O revestimento espiritual nos dá cobertura contra a carnalidade pois este é o modelo de Jesus Cristo para uma vida vitoriosa – “mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne...” (Romanos 13:14).

· A lei do bom senso (Romanos 14:1-23; 15:1-13). Paulo, agora seguindo a seqüência lógica de sua posição em relação ao inter-relacionamento, expõe a questão da liberdade cristã em contraste com o legalismo religioso de seus dias. É correto fazer julgamento precipitado acerca de determinados comportamentos? Alguns agem com a consciência livre no campo da liberdade cristã. Outros, entretanto, procedem como se a vida religiosa não passasse de um amontoado de leis e proibições. Devo ou não devo...?!? Posso ou não posso...?!? Isto está certo ou errado? A igreja de Jesus Cristo é formada basicamente por pessoas de todos os gêneros. Alguns suscetíveis às ofensas, outros extremamente sensíveis e alguns acentuadamente religiosos. Existem ainda aqueles que são radicalmente ortodoxos em suas posições teológicas, aqueles que são amplamente liberais e ainda aqueles que buscam sempre uma posição mais equilibrada. Como conciliar os que proclamam a vida cristã cheia de proibições com os que declaram a liberdade da mesma? Paulo não tenta dissipar o problema posicionando-se de um lado ou de outro. Pelo contrário, ele procura um ponto de equilíbrio e sensatez para que o mais fraco na fé seja acolhido no corpo de Cristo, a igreja, sem que lhe sejam causados danos na fé, sem contudo desprezar o pensamento dos que aceitam a liberdade cristã – “Acolhei ao que é débil na fé, não porém para discutir opiniões. Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu” (Romanos 14:1-3). À luz do capítulo 14 de Romanos, qual deve ser o comportamento do salvo nesta área tão delicada e séria da vida cristã? Paulo amplia sua orientação com as seguintes recomendações:

Não precipite-se no juízo (Romanos14:1-12). Os dois grupos existentes na igreja de Roma (liberais e radicais) são exortados através de um aconselhamento amoroso mas com o mesmo teor de seriedade para que usem a lei do bom senso. As duas tendências: “um crê que de tudo pode comer...” (Romanos 14:2 a), “...e julga iguais todos os dias” (Romanos 14:5). A tendência radical – “...o débil como legumes” (Romanos 14:2 b), “...e faz diferença entre dia e dia” (Romanos 14:5 a). Para os liberais Paulo aconselha: “quem como não despreze ao que não come” . Os que acreditam que podem comer apenas legumes e que se apresentam cuidadosos acerca da dieta alimentar diária, bem como a guarda de certos dias sem avaliar a grandiosidade da salvação e as riquezas das promessas nela contidas, são considerados débeis na fé e, portanto, carentes de compreensão e ajuda espiritual. Somos livres para pensar como quisermos, sem contudo esquecermos de que somos servos de Deus em Cristo Jesus para uma vida cristã completa e responsável – “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a julgo de escravidão” (Gálatas 5:1). O julgamento precipitado, as críticas e as censuras infundadas só causam divisões e descontentamentos à boa ordem no relacionamento cristão – “quem és tu, que julgas o servo alheio? Para o seu próprio Senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster” (Romanos 14:4). O centro da experiência cristã deve ser o senhorio de Cristo Jesus.

Façamos o que é conveniente para a vida cristã, fundamentada nos valores ensinados por Cristo Jesus – “Quem distingue entre dia e dia, para o Senhor o faz; e quem come, para o Senhor o come, porque dá graças a Deus; e quem não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus” (Romanos 14:6). Tanto o viver quanto o morrer pertencem a Cristo, pois Ele se faz presente em nossa existência para nos ajudar, tanto nas fraquezas como na firmeza, tanto na vida como na morte. Devemos, entretanto, levar em consideração a verdade de que somos livres, porém responsáveis. Temos liberdade, mas nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si (Romanos 14:7-9). Todos nós compareceremos perante o tribunal de Cristo Jesus (Romanos 14:10-12). Naquele dia cada um de nós, em pessoa, dará contas de si mesmo a Deus. – “Tu, porém, por que julgas a teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus” (Romanos 14:10-11).

Não ponhas obstáculo à fé de teu irmão (Romanos 14:13-26). No tópico anterior Paulo destacou como prioritário à vida cristã o bom senso no que diz respeito ao julgamento precipitado. Nada de críticas ou censuras. Ao invés disso cada um deve considerar os direitos do próximo para um relacionamento harmonioso. Considerar-se ofendido ao ser criticado é uma reação nada favorável ao amadurecimento cristão. Ao contrário, se estamos vivendo com a consciência tranqüila, devemos nos colocar à disposição de nossos irmãos mais fracos, a fim de ajudá-los a superarem as deficiências de sua vida cristã. Os princípios estabelecidos por Paulo aqui são claros e objetivos – “Tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão” (Romanos 14:13). Pois aquele que tem sua fé abalada por motivo de mal testemunho sofrerá conseqüências irreparáveis, ao ponto de perder o equilíbrio da vida cristã. É sempre valioso lembrarmos que nem todos os que comungam na igreja têm o mesmo auto-domínio, isto é, têm a mesma coerência espiritual e emocional. Alguns são mais firmes em suas convicções doutrinárias, ao passo que outros são mais fracos na fé e, por isso, tendentes à desestabilização.

O serviço cristão e o exercício pleno do mesmo no contexto da igreja local, é muito mais complexo do que às vezes imaginamos. Por isso mesmo precisamos viver em sintonia com aquele que é fonte de toda a sabedoria, a fim de que sejamos uma bênção e não motivo de escândalo no relacionamento coletivo na comunidade cristã e não venhamos a cair no indiferentismo mórbido à revelia da desunião. É com base no profundo conhecimento de Deus, e no desempenho absoluto de seu apostolado, cuja discrição é notável, que Paulo procura caracterizar o comportamento cristão e o amor fraternal de cada um de nós no corpo de Cristo. As dificuldades dos crentes em Roma, não são tão diferentes das que enfrentamos hoje. Contudo, temos um só objetivo e um só Deus, uma só fé e um só Espírito para harmonizar a todos com uma só finalidade: a edificação da igreja para a pregação do evangelho. A diretriz estabelecida por Paulo para a solução das diferentes opiniões no corpo de Cristo, a igreja, é esta: “Eu sei, e disto estou persuadido no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para este é impura” (Romanos 14:14). Não é fixada aqui uma regra geral ou uniforme, como se tudo fosse absolutamente sagrado, no sentido puritano. O puritanismo pura e simplesmente não apresenta fundamento duradouro à experiência cristã no combate à impureza social, moral e religiosa – “não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquilo outro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade” (Colossenses 2:21-23).

Havia na igreja de Roma aqueles que ainda viviam sob a influência do Judaísmo, seguindo com rigor as antigas leis judaicas. Paulo não via nenhuma dificuldade em ter cuidado com os hábitos e costumes no que diz respeito às práticas de alimentação diárias. Precisamos, todavia levar em consideração a opinião da comunidade como um todo – “Se, por causa de comida o teu irmão se entristece, já não andas segundo o amor fraternal. Por causa da tua comida, não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu” (Romanos 14:15). O salvo deve esforçar-se por estabelecer os seguintes critérios no relacionamento mútuo:

A liberdade e o amor fraternal – Somos livres, contudo respondemos por nossas próprias ações e atitudes cristãs quando estas interferem na harmonia do corpo (Romanos 14:15,21). A comunhão cristã e o amor fraternal devem estar acima de interesses pessoais e convicções particulares.

A liberdade e o comportamento exemplar – Não devemos dar motivo algum para que outros falem mal daquilo que consideramos correto. –“Não seja, pois vituperado o vosso bem” (Romanos 14:16). A expressão “vituperar” significa “expor as nossas convicções ao desprezo e à ignomínia.

A liberdade e o serviço aprovado – A verdadeira liberdade cristã é fruto de uma real experiência com Deus... – “aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens” (Romanos 14:18).

A liberdade e os interesses da comunidade – “assim, pois, seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros” (Romanos 14:19).

A liberdade e a sensatez –“Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mal para o homem o comer com escândalo” (Romanos 14:20). “A obra de Deus” aqui evidenciada diz respeito à operação do Espírito Santo na vida do salvo. Quando nos submetemos à vontade de Deus, a ação do Espírito Santo nos capacita a agirmos com sensatez mesmo em situações que geram posições controvertidas. Por isso “se por causa de comida...” ou por qualquer outro motivo, venhas a escandalizar teu irmão e fazê-lo tropeçar deves guiar-te pelo bom senso e pelo entendimento.

A liberdade e a glória de Deus – O ponto alto do ensino de Paulo deve suscitar em cada servo de Deus um desejo ardente por liberdade cristã equilibrada e que sobretudo glorifique a Deus, para isto é que fomos salvos, para um viver que procura agradar a Deus em tudo o que pensa e faz. – “...e tudo que não provém de fé é pecado” (Romanos 14:22,23). Quando Paulo escreveu à igreja de Corinto advertiu-os com estas palavras: “Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31).

Não procure seu próprio interesse (Romanos 15:1-13) – O terceiro princípio da lei do bom senso no relacionamento cristão tem a ver com o despojamento do egocentrismo para um viver centralizado em Cristo e nos interesses da comunidade cristã. Não podemos viver de nós para nós mesmos, pois como igreja somos um só corpo. Logo, temos por dever e necessidade o que é prioritário ao bem comum. A unidade de pensamento, a unidade fraternal, a unidade de alma são pré-requisitos para que o cristão tenha o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus. Quando Paulo escreveu aos filipenses desafiou-os: “Completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento. Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo” (Filipenses 2:2,3). Em face à heterogeneidade do corpo de Cristo, a igreja, só será possível alcançar um conjunto de valores satisfatórios e essenciais ao interesse recíproco se cada um de per si despir-se dos próprios direitos, levando em consideração as necessidades dos mais fracos – “Ora, nós que somos fortes, devemos suportar as debilidades dos fracos, e não agradar-nos a nós mesmos” (Romanos 15:1). Este conjunto de valores essenciais é visto na seqüência apresentada por Paulo nos versículos 1-13:

Primeiro – É uma obrigação fraterna. Precisamos levar em consideração o que de fato a Bíblia nos ensina ao declarar que devemos suportar as debilidades dos mais fracos. A exortação de Paulo tem dois sentidos bem definidos. A expressão “devemos” fala de uma dívida misericordiosa para com os mais fracos a fim de ajuda-los a superarem as deficiências de sua vida cristã. “Suportar” traz a idéia de sacrifício no sentido de ajuda mútua, como “sustentar” em Romanos 11:18 e Gálatas 6:2. É a mesma palavra empregada em Mateus 8:17, que retrata o que Cristo fez por nós, levando sobre si as nossas enfermidades – “...Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças” (Isaías 53:4). O mesmo sentido é observado na experiência de Cristo ao carregar a cruz em nosso lugar ao sacrifício – “E ele próprio, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário” (João 19:17). Agora podemos entender melhor qual é o sentido da obrigação fraternal, que é algo relacionado a um sacrifício. Paulo não está querendo dizer que devemos conviver eternamente com as fraquezas humanas sem contudo corrigi-las.

Segundo – É um princípio de edificação espiritual. “Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é para a edificação” (Romanos 15:2). Este princípio é indispensável para o inter-relacionamento, Isto é, os espiritualmente mais fortes ajudando os que são mais fracos a fim de que estes sejam edificados para o dia de Cristo Jesus.

Terceiro – É um padrão absoluto de ensino – Pois segundo Paulo Cristo Jesus nos deixou seu próprio exemplo -“...não agradou a si mesmo; antes, como está escrito: As injúrias dos que te ultrajavam caíram sobre mim” (Romanos 15:3; Salmo 69:9). No texto de Romanos 15 Paulo apresenta: O alicerce do ensino (Cristo Jesus) – “porque também Cristo...” (v. 3); “segundo Cristo Jesus...” (v. 5) “como também Cristo...” (v. 7,8) ; o alvo do ensino (unidade do corpo de Cristo) “é bom para a edificação...” (v. 2), (v. 7), “para que concordemente e a uma voz glorifiqueis ao Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus” (v. 6,7); o alcance do ensino (judeus e gentios) – “Para confirmar as promessas feitas aos nossos pais; em para que os gentios glorifiquem a Deus por causa da sua misericórdia” (v. 8,9); a aplicação do ensino (vida cristã sem divergências). Paulo concentra suas palavras num apelo contundente direcionado a todos nós que compomos a igreja de Cristo Jesus ao grande objetivo da fé cristã, que é a formação de um só corpo em um só esforço comum, onde judeus e gentios, transformados pela graça de Cristo Jesus, possam entoar harmoniosamente como um grande coral os louvores a Deus, criador nosso e Senhor de todos. O evangelho de Jesus Cristo é o tema principal desta epístola, como o é de toda a Escritura, e tem o poder gracioso de salvar judeus e gentios, sem segregação de raças, culturas, congregando-os em um só corpo a fim de que experimentem em suas vidas as virtudes da comunhão cristã. Aliás, foi com esta finalidade que Jesus veio ao mundo, não apenas para salvar as ovelhas perdidas da casa de Israel, mas dar-se em resgate de todo aquele que dele se aproximar pela fé – “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então haverá um rebanho e um pastor” (João 10:16).

A igreja primitiva era formada basicamente de judeus e gentios. Havia influência da cultura judaica em quase todas as comunidades daquela época, inclusive na igreja de Roma. Por este motivo Paulo procura esclarecer que a morte de Jesus na cruz se deu para a salvação de judeus e gentios. Não há motivo algum para divergências culturais e cerimoniais, uma vez que o fundamento da doutrina cristã é a própria pessoa do Senhor Jesus Cristo – “...e também diz: alegrai-vos, ó gentios, com seu povo. E ainda: louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e todos os povos o louvem. Também Isaías diz: Haverá a raiz de Jessé, aquele que se levanta para governar os gentios; nele os gentios esperarão. E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo” (Romanos 15:10-13).

6.7. O serviço cristão e o ministério pessoal de Paulo (Romanos 15:14-33)

“Esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não aonde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio”. (Romanos 15:20).

Ao longo de sua epístola, sem dúvida alguma a mais extensa de todas, Paulo procurou evidenciar que a salvação do cristão deve ser vista a partir de uma perspectiva integral, porquanto Deus permitiu que todos os homens fossem desobedientes a fim de usar de misericórdia para com aqueles que reconhecem em seu Filho Jesus Cristo a absolvição do pecado e da conseqüente perdição eterna. Paulo declara com convicção, autoridade e persuasão os grandes temas do evangelho de Deus. Foi ousado quando relatou a situação do homem sem Deus e das responsabilidades que acompanham o novo viver em Cristo Jesus. De fato Paulo, inspirado pelo Espírito Santo , expôs com sabedoria os principais e mais ricos tópicos da teologia cristã e explorou a contento todos os assuntos que desejou levar ao conhecimento dos crentes em Roma, ensinos indispensáveis à vida espiritual de cada salvo em seu viver diário. Diante disto, podemos verificar que Paulo chegou satisfatoriamente à abordagem final de sua epístola, que ao longo de sua exposição deixa de ser uma simples carta pessoal para ser um documento essencial no tratado das doutrinas fundamentais da fé.

· Palavras finais aos cristãos em Roma – Paulo fala dos motivos pessoais que o levaram a escrever aos romanos (Romanos 15:14-19)

ü Sua segurança – Em relação ao nível da maturidade espiritual dos cristãos em Roma – “e certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros” (Romanos 15:14)

ü Sua sinceridade – Em relação ao conteúdo da carta que lhes enviaria – “Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente, como para vos trazer isto de novo à memória, por causa da graça que me foi outorgada por Deus” (Romanos 15:15).

ü Seu sacerdócio – Em relação ao seu ministério e sagrado encargo de lhes anunciar o evangelho de Deus em Cristo Jesus – “Para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus...” (Romanos 15:16,18). A palavra “ministro” é leitourgoV (leitourgos), “alguém comissionado para comunicar as boas novas do evangelho de Cristo”.

ü Sua satisfação – Em relação ao seu orgulho e gozo em prestar serviço ao Altíssimo – “tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus” (Romanos 15:17).

ü Sua sustentação – Paulo cria que sua sustentação ministerial dependia única e exclusivamente do poder do Espírito Santo, pois sem a unção de Deus o obreiro cristão não tem autoridade ministerial para pastorear o rebanho de Cristo Jesus a ele confiado (Romanos 15:19 a).

· Propósitos ministeriais de Paulo (Romanos 15:19 b – 33)

O extraordinário e incansável ministério de Paulo na obra do Mestre o levou a anunciar o evangelho desde Jerusalém e circunvizinhança até a região do Ilírico, num tremendo esforço para que Cristo fosse conhecido por todos. Havia em Paulo uma profunda dedicação para que as boas novas do evangelho salvador fossem anunciadas em lugares de difícil acesso e que eram portanto mais necessitados. Com palavras desafiadoras ele menciona sua determinação – “Esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não aonde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio” (Romanos 15:20). Dois propósitos gloriosos passavam pela mente de Paulo. O primeiro deles era o desejo de pregar o evangelho aonde Cristo não havia sido anunciado, fazendo cumprir assim o que estava escrito: “Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícias dele, e compreende-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito” (Romanos 15:21). O segundo propósito era usar a igreja de Roma como base de sustentação missionária para sua viagem à Espanha, seu objetivo final. Paulo chega a declarar não haver mais campo de atividade nas regiões onde primeiro anunciou o evangelho de Cristo Jesus e que desejava muito visitar a igreja em Roma, a fim de seguir em frente em seu mais ambicioso projeto missionário (Romanos 15:22-26). Paulo, de fato apresenta-se como um visionário e estrategista no projeto de avanço missionário de todos os tempos. Vejamos como se desenrolaram os fatos deste contexto à luz dos versículos 22-23:

ü Um objetivo glorioso (Romanos 15:22-24). Como já observamos deixava transparecer sua ansiedade com o firme propósito de conquistar através do avanço missionário novas regiões como campo de atuação de evangelização e discipulado. A Espanha representava, no contexto daquela época, o limite do mundo civilizado, uma vez que naquela região acontecia um grande e progressista movimento intelectual promovido por homens de elevado conceito político e cultural, dentre eles, Quintiliano, Sêneca, Lucano e Marcial.

ü Um obstáculo grandioso (Romanos 15:25-29). Paulo desejava conquistar a Espanha passando primeiramente em Roma, que seria a sua base missionária para a concretização de seus ideais. Entretanto devia antes disso passar por Jerusalém – “Mas agora estou de partida para Jerusalém, a serviço dos santos”. (Romanos 15:25). Esta viagem causou-lhe muitos sofrimentos e atrasos, retardando assim os seus propósitos. Paulo devia ir a Jerusalém a fim de levar uma oferta especial que os irmãos gentios da Macedônia e da Acaia levantaram em favor dos pobres dentre os santos que viviam em Jerusalém (Romanos 15:26). Aliás, a respeito disto declarou Paulo: “Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhe são devedores; porque se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais” (Romanos 15:27). É o que Paulo considera como fruto ou resultado da pregação do evangelho entre os gentios (Romanos 15:28). Ao chegar em Jerusalém Paulo foi terrivelmente perseguido e conseqüentemente preso (Atos 21:31,32,34). Depois de preso foi transferido para Cesaréia onde permaneceu por dois anos (Atos 24:27). Neste ínterim compareceu perante reis, governadores e autoridades religiosas para que se cumprisse o que a respeito dele havia sido dito (Atos 9:15). Só depois de todos estes acontecimentos é que Paulo finalmente foi a Roma, como prisioneiro do estado (Atos 27:1-44; 28:1-31).

ü Uma oração generosa (Romanos 15:30-33). Havia em Paulo um profundo discernimento de espírito. Ele sabia que todos os seus propósitos dependiam em muito da plenitude e da bênção de Cristo Jesus para que fossem cumpridos (Romanos 15:29). Para que seus planos se tornassem possíveis apelou aos irmãos da comunidade cristã de Roma para que orassem juntamente com ele a fim de que Deus aprovasse seus objetivos no sentido da realização de sua viagem a Roma e, mais tarde, sua viagem à Espanha – “Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor, para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, e que este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos; a fim de que, ao visitar-vos, pela vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria e possa recrear-me convosco” (Romanos 15:24, 30-32).

ü Bênção apostólica – “E o Deus da paz seja com todos vós. Amém!!!” (Romanos 15:33).

VII. CONCLUSÃO (Romanos 16:1-27)

Carta de recomendação (Romanos 16:1,23)

Cumprimentos finais (Romanos 16:3-16)

Conselhos finais (Romanos 16:17-20)

Cumprimentos de alguns amigos de Paulo aos crentes em Roma (Romanos 16:21-24)

Cântico de louvor e adoração (Romanos 16:25-27)

7.1. Carta de recomendação (Romanos 16:1,2)

· “Recomendo-vos a nossa irmã Febe”. Esta irmã era uma dedicada diaconisa que servia à igreja de Cencréia, cujo nome significa “brilhante”. Provavelmente tenha sido ela a portadora desta epístola aos romanos. Alguém já comentou como é interessante notar que entre as “dobras das vestes de uma mulher estava sendo levado um dos documentos fundamentais da fé cristã ao centro do mundo civilizado daquela época”.

· “Recebais no Senhor”. Paulo orienta-os para que recebam a piedosa e auxiliadora Febe como convém a santos, ou seja, com toda a hospitalidade e amor fraternal (Romanos 16:2).

7.2. Cumprimentos finais (Romanos 16: 3-16)

· “Saudai a Priscila e a Áquila” – Estes irmãos dedicados ao Senhor são mencionados nas Escrituras por seis vezes. Paulo os conheceu em Corinto, por ocasião de sua segunda viagem missionária. Os mesmos haviam chegado recentemente a Roma em vista de ter Cláudio César decretado em cerca do ano 49 (a.D.) que todos os judeus fossem expulsos da Itália. Paulo aproximou-se deles em Corinto e, como sendo da mesma profissão, fabricantes de tendas, passou a morar com eles e trabalhavam juntos. Tendo organizado a igreja em Corinto permanecendo ali cerca de dois anos (Atos 18:5-18). Depois disto navegou para a Síria levando consigo Priscila e Áquila e passando por Éfeso, deixou-os ali. Despedindo-se, partiu para Cesaréia e depois para Jerusalém. Tendo saudado a igreja, viajou para Antioquia da Síria (a igreja missionária). Paulo termina aqui a sua segunda viagem missionária (Atos 18:19-22).

Paulo escreveu aos romanos estando em Corinto durante sua terceira viagem missionária por volta do ano 56 a.D. (Atos 20:2; 2 Coríntios 13:1). De modo que faz sentido enviar saudações para o casal, Priscila e Áquila, que já estavam de volta a Roma. Isto destrói a argumentação de que o último capítulo da epístola aos romanos, segundo alguns estudiosos, trata-se de uma pequena carta enviada a Éfeso, pois o casal servia em Éfeso e não em Roma. Eles esquecem de que vários anos haviam se passado, cerca de sete anos. Priscila e Áquila devem ter permanecido em Éfeso por quatro anos por volta dos anos 51 a 55 a.D. (1 Coríntios 16:19), ao fim dos quais retornaram a Roma.

Priscila é também chamada de Priska. É curioso observar que das seis vezes em que o casal foi mencionado no Novo Testamento (Atos 18:2,18,26; Romanos 16:3,4; 1 Coríntios 16:19; 2 Timóteo 4:19) em quatro delas o nome de Priscila aparece antes do de seu esposo. Provavelmente por ser ela mais desinibida ou por fazer parte de uma família da nobreza romana, enquanto que Áquila era um judeu do Ponto, da Ásia Menor setentrional e confeccionador de tendas de couro, uma profissão não muito importante. Entretanto estes dinâmicos irmãos em Cristo, profundamente intruídos na palavra de Deus, aparecem nas Escrituras sempre cooperando na obra do Senhor e sempre cuidando de alguma igreja. Tanto em Roma como em Éfeso a igreja se reunia em casa deles (Romanos 16:3-5; 1 Coríntios 16:19). Amém pela dedicação deste casal abnegado e cuidadoso na obra do Senhor!

· “Saudai a Epêneto” (Romanos 16:5 b). Não há qualquer registro a seu respeito fora deste versículo. Seu nome significa “louvor” e, segundo Paulo, este servo do Senhor foi o primeiro fruto conquistado para Cristo Jesus na Ásia Menor. É por isto que Paulo o trata de “meu querido Epêneto”

· “Saudai a Maria” (Romanos 16:16). Nada se sabe a respeito dela, exceto o que Paulo menciona neste versículo. Entretanto o que ficou escrito de maneira inspirada a seu respeito nos estimula a fazermos a obra do Senhor com amor e determinação – “Saudai a Maria que muito trabalhou por vós”.

· “Saudai a Andrônico e a Junias, meus parentes” (Romanos 16:7). É possível que estes dois tenham algum parentesco de sangue com Paulo. Todavia, o mais provável é que fossem apenas seus conterrâneos e companheiros de prisão. Eles converteram-se a Cristo antes de Paulo e a sua fé foi reconhecida pelos apóstolos.

· “Saudai a Amplíato, meu dileto amigo no Senhor” (Romanos 16:8). A forma de tratamento muda, contudo a essência permanece a mesma, uma demonstração viva do amor de Paulo por todos os seus irmãos em Cristo.

· “Saudai a Urbano e Estáquis” (Romanos 16:9). Urbano foi um excelente cooperador na obra do Senhor. Tornou-se tão expressivo para Paulo, que este procurou lembrá-lo com prazer. Estáquis devia ser um grande amigo de Paulo e um conhecido próximo de Urbano. Talvez seja por isso que foram lembrados e saudados ao mesmo tempo.

· “Saudai a Apeles, aprovado emCristo” (Romanos 16:10 a). Uma expressão que fala do homem de Deus aprovado depois de um teste de seu bom testemunho perante todos. A mesma expressão é usada por Paulo quando este se referiu a Timóteo (2 Timóteo 2:15).

· “Saudai os da casa de Aristóbulo” (Romanos 16:10 b). Não sabemos se este homem era crente ou não. Paulo nada diz a respeito dele. Provavelmente fosse um senhor dono de muitos escravos – “os que moravam em sua casa” provavelmente fossem escravos convertidos ao evangelho e conhecidos de Paulo.

· “Saudai a Herodião, meu parente” (Romanos 16:11 a). Este representa mais um daqueles que Paulo mencionou no versículo sete. Paulo faz apenas uma diferença entre eles. Andrônico e Junias são mencionados como salvos em Cristo, ao passo que nada é dito com relação a Herodião.

· “Saudai os da casa de Narciso” (Romanos 16:11 b). Também não sabemos se este Narciso era convertido. Os que moravam em sua casa, estes sim eram salvos em Cristo – “os da casa de Narciso que estão em Cristo Jesus”.

· “Saudai a Trifena e Trifosa” (Romanos 16:12 a). Seus nomes são estranhos, porém de profundo significado “deleitável” e “delicada”. Talvez as duas fossem irmãs gêmeas.

· “Saudai a Pérside, que muito trabalhou no Senhor” (Romanos 16:12 b). É interessante notar que dos vinte e seis nomes mencionados por Paulo, sete deles são nomes de mulheres, cujo trabalho foi apreciado por Paulo com bons olhos.

· “Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e sua mãe” (Romanos 16:13). A mãe de Rufo era provavelmente viúva.

Seria bom pararmos um pouco e pensarmos sobre o valor de todos estes nomes. Estes irmãos, homens e mulheres, representam para nós uma espécie de memorial vivo do poder transformador do evangelho de Jesus Cristo. Representam nossos inúmeros irmãos espalhados pelo mundo inteiro, alguns dos quais, tendo dificuldades de sobrevivência, necessitam de nossas orações.

· “Saudai a Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e os irmãos que se reúnem com eles” (Romanos 16:14). Em toda a lista de nomes é interessante observar que alguns grupos de cristãos são identificados em Roma.

· “Saudai a Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã, a Olimpas e a todos os santos que se reúnem com eles” (Romanos 16:15). Aqui temos mais um grupo destacado nominalmente por Paulo. Podemos declarar que todos estes nomes são conhecidos e amados pelo Senhor que vive e reina para sempre.

· “Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo. Todas as igrejas de Cristo vos saúdam” (Romanos 16:16)

7.3. Conselhos finais (Romanos 16:17-20)

Os conselhos finais à comunidade evangélica de Roma apresentam características bem definidas, sobretudo pastorais. São palavras bastante rigorosas, porquanto Paulo procurava alertar aos santos em Cristo contra aqueles que provocam divisões e escândalos (Romanos 16:17). Ele os adverte com severo apelo – “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles...” De fato, os que agem deste modo não são merecedores de confiança, pois estão em desarmonia com o padrão da unidade cristã estabelecido na Palavra de Deus. Tais pessoas apresentam caráter reprovável pois não servem a Cristo, mas a seu próprio ventre (Romanos 16:18 a). Paulo declara aqui que tais homens são contrários a Cristo e que seu serviço principal visa a satisfação do ego. A palavra “ventre” é uma expressão usada por ele três vezes em suas epístolas – “próprio ventre...”; “o deus deles é o ventre...”; “sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos” (Romanos 16:18; Filipenses 3:19; Tito 1:12). Paulo admoesta os crentes para que não acreditem neles pois suas palavras são enganadoras (Romanos 16:18).

Ao contrário destes são os filhos de Deus. Tanto na comunidade de Roma, como nos dias de hoje, nossa obediência à Palavra de Deus deve ser conhecida por todos os homens (Romanos 16:19). Paulo alegra-se por este fato e deseja que todos sejam sábios para o bem e prudentes para com o mal (Romanos 16:19 b). Tenhamos por certo que a vitória completa é nossa em Cristo Jesus quando nosso comportamento for compatível com os interesses de Deus para a boa harmonia da comunidade cristã. “E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo de vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco” (Romanos 16:20).

7.4. Cumprimentos de alguns amigos de Paulo aos crentes em Roma (Romanos 16:21-24)

Alguns desses amigos de Paulo estavam de passagem por Corinto e outros pertenciam à igreja naquela localidade. O fato é que estes irmãos aproveitaram a oportunidade da carta e resolveram mandar suas saudações aos irmãos da comunidade de Roma.

· “Saúda-vos Timóteo” (Romanos 16:24). Timóteo era um cooperador de Paulo na obra do Senhor. Foi a este mesmo Timóteo que Paulo endereçou algumas de suas epístolas. Timóteo demonstra aqui sua vocação e cuidado pastoral, saudando os irmãos.

· “Saúdam-vos Lúcio, Jason e Sosípatro meus parentes ” (Romanos 16:21 b). Esta expressão, já usada anteriormente, reforça o conceito de que estes “parentes” eram apenas conterrâneos de Paulo (Romanos 9:3; 16:7-11)

· “Saúda-vos Tércio” (Romanos 16: 22). Tércio era o amanuense particular de Paulo e redator desta epístola. Paulo ditava, provavelmente por causa de seu problema de visão, e Tércio escrevia.

· “Saúda-vos Gaio” (Romanos 16:23 a). Gaio era o anfitrião de Paulo por aquela ocasião na cidade de Corinto, em cuja casa a igreja se reunia.

· “Saúda-vos a igreja de Corinto” (Romanos16:23 b). Os irmãos da comunidade também enviam uma saudação especial aos crentes em Roma.

· “Saúda-vos Erasto, o tesoureiro da cidade” (Romanos 16:23 c).

· “Saúda-vos Quarto” (Romanos 16:23 d). Um irmão especial da igreja de Corinto, nominalmente citado por Paulo.

· A bênção apostólica - “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém!” (Romanos 16:24)

7.5. Cântico de louvor e adoração (Romanos 16:25-27)

As palavras finais de Paulo são uma exaltação à ordenança de Jesus Cristo acerca da incumbência principal da igreja. Sua missão de pregar o evangelho e ensinar seus membros a andarem nos passos de Jesus. Paulo declara isto em forma de um cântico de louvor a Deus:

· O evangelho é o poder de Deus (Romanos 16:25 a)O evangelho pregado é a

· confirmação dos santos (Romanos 16:25 b)

· O evangelho é um mistério revelado (Romanos16:25 c)

· O evangelho é boas novas para a obediência por fé (Romanos 16:26 a)

· O evangelho deve ser anunciado a todos os homens (Romanos 16:26 b)

· O evangelho deve ser divulgado para a glória de Deus (Romanos 16:27 a)

· O evangelho e a bênção apostólica – “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amem! (Romanos 16:25-27).

“Ora, aquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho

e a pregação de Jesus Cristo,

conforme a revelação do mistério

guardado em silêncio nos tempos eternos,

e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer

por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno,

para a obediência por fé, entre todas as nações,

ao Deus único e sábio, seja dada glória, por meio de Jesus Cristo,

pelos séculos e séculos,

Amém!”

Tw de dunamenw umaV sthrixai kata to euaggelion mou

kai to khrugma Ihsou Cristou

kata apokaluyin musthriou cronoiV aiwnioiV

sesighmenou

fanerwqentoV de nun dia te grafwn profhtikwn

kat epitaghn tou aiwniou qeou

eiV upakohn pistewV eiV panta ta eqnh gnwrisqentoV

monw sofw qew dia Ihsou Cristou

w h doxa eiV touV aiwnaV.

Amhn

PROS RWMANIUS 16:25-27

BIBLIOGRAFIA

BROWN, Colin - Dicionário de Teologia do Novo Testamento (vol. I-IV) Edições Vida Nova 1983 São Paulo

FRAIHA, Demétrio - Dicionário da Bíblia 2a ediição Editora Milenium, 1982 São Paulo

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda – Novo Dicionário Aurélio 2a edição Editora Nova Fronteira, 1986 Rio de Janeiro

RIENECKER, Fritz & ROGERS, Cleon – Chave Lingüística do Novo Testamento Grego Edições Vida Nova 1985 São Paulo

The Greek New Testament - Third Edition United Bible Societies 1975

BRUCE, F. F.- Romanos Introdução e Comentário 2a Edição

Editora Mundo Cristão, 1981 São Paulo

LUTERO, Martinho – Pelo Evangelho de Cristo Editora Concórdia e Sinodal 1984 Porto Alegre