A Justificação pela Fé ao Alcance de Todos
Expedito Batista Filho – Bacharel em Teologia pelo SETECEB e Pastor da Igreja Cristã Evangélica de Fortaleza
ÍNDICE
1a PARTE:
I. INTRODUÇÃO.................................................................................4
2a PARTE:
II. A SÍNDROME DA HUMANIDADE DECAÍDA.................................6
2.1.Manifestação da ira de Deus
2.2.Manifestação de Deus aos homens os torna indesculpáveis
2.3.Modos insolentes do homem sem Deus
2.4.Medida cheia de iniqüidade
2.5.Moralistas egocêntricos
2.6.Mestres da lei, porém condenados
2.7.Mundialmente mortos, universalmente condenados
3a PARTE:
III. A SALVAÇÃO DE DEUS EM CRISTO.........................................12
3.1.A fonte da salvação – Cristo Jesus
3.2.A função da salvação – Cura universal
3.3.A finalidade da salvação – Alcançar os que desejam viver por fé
3.4.A frutificação da salvação – Permanente e abundante
4a PARTE:
IV. A SANTIFICAÇÃO DO HOMEM EM CRISTO.............................20
4.1.Santificação – União com Cristo
4.2.Santificação – Unidos a Cristo e libertos do legalismo
4.3.Santificação – Unidos a Cristo e santificados pelo Espírito Santo
4.4.Santificação – Unidos a Cristo e assistidos pelo Espírito Santo
5a PARTE:
V. A SOBERANIA DE DEUS EM CRISTO.......................................33
5.1.Exórdio da Soberania de Deus
5.2.Eleição Soberana de Deus em relação a igreja
5.3.Eleição Soberana de Deus em relação a Israel
6a PARTE:
VI. A SUPERIORIDADE DO SERVIÇO CRISTÃO............................49
6.1.O Serviço cristão inteligente
6.2.O Serviço cristão e os dons do Espírito Santo
6.3.O Serviço inteligente e as virtudes cristãs
6.4.O Serviço cristão e o segredo da paz interior
6.5.O Serviço cristão e a submissão às autoridades
6.6.O Serviço cristão e a interação pessoal
6.7.O Serviço cristão e o ministério pessoal de Paulo
7a PARTE:
VII.CONCLUSÃO...............................................................................61
7.1.Carta de recomendação
7.2.Cumprimentos finais
7.3.Conselhos finais
7.4.Cumprimentos de alguns amigos de Paulo aos crentes em Roma
7.5.Cântico de louvor e adoração
I. INTRODUÇÃO
O Evangelho de Jesus Cristo ao alcance de todos os povos é a proposta principal da epístola de Paulo escrita à comunidade Cristã de Roma, e que representa um documento central e essencial à fé Cristã. Foi através dela que os mais destacados reformadores do século XVI, tais como John Huss, Martinho Lutero, João Calvino, Jerônimo Savanarola, entre outros, encontraram a corroboração e a base de sua argumentação teológica para a fundamentação de suas convicções, da necessidade de mudança na teologia da igreja estabelecida, no sentido de torná-la mais fiel às suas origens. Foi por esta singela razão que o próprio Lutero a denominou O livro Mestre do Novo Testamento, e o mais puro evangelho, digno e merecedor de que o Cristão não só o conheça de cor, palavra por palavra, como também com ele se ocupe diariamente, na qualidade de pão diário para a alma.
A carta expõe aos seus leitores a essência do evangelho de Deus em Cristo. Uma mensagem que orienta o Cristão a não mais viver à sombra do legalismo judaico e sim à luz da justificação pela fé - Ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei, segundo o pensamento de Paulo em Romanos 3: 20. A graça divina torna-se o cerne da doutrina de Paulo nesta carta. Foi acertadamente apresentada em primeiro lugar na ordem das epístolas por ser a expressão mais completa no Novo Testamento sobre as verdades do Cristianismo. Verdades essas que mudaram as vidas de grandes homens, transformando-os em servos abnegados e incansáveis na obra do Mestre. As declarações apresentadas na obra de Paulo, sem dúvida alguma, representam o que de mais profundo existe para que o homem de Deus tenha uma vida piedosa e, sobretudo, autêntica.
Paulo encontrava-se na cidade de Corinto, hospedado em casa de Gaio (Romanos 16:23), em sua terceira viagem missionária, quando a epístola aos romanos foi escrita. Ele ditava inspirado, sob a orientação do Espírito Santo, tendo Tércio como seu amanuense. Paulo vislumbrava com ansiedade e ardor missionário a possibilidade de visitar Roma, a capital imperial e centro governamental daquela época, para daí então efetuar sua mais ambicionada viagem - desejava levar o evangelho de Jesus Cristo à Espanha, o limite do mundo civilizado – e Roma representava para ele a principal base missionária e o melhor ponto de apoio na concretização de seus objetivos, além dos quais Paulo desejava lançar bases sólidas para as doutrinas da fé cristã na comunidade de Roma. A carta de Paulo aos romanos significa para a teologia cristã de nossos dias a mesma essência, valor e autoridade que representou aos crentes nos primórdios da igreja. Por esta razão não podemos deixar de estudar com firmeza e propósitos de coração, as riquezas dos detalhes desta carta. Cada um dos tópicos foi cuidadosamente selecionado para que sejamos bem instruídos e edificados acerca dos propósitos divinos para a nossa salvação, santificação e serviço cristão.
·
Tema: A simplicidade do evangelho ao alcance de todos
(Romanos 1:1 – 17)
Os caminhos do Evangelho de Deus são conhecidos, quando tomamos consciência do significado da pessoa de Jesus Cristo, dos valores por Ele ensinados e da vida oferecida em favor de todos os homens mediante o sacrifício na cruz do Calvário. Foi com este sentimento que Paulo, ministro das verdades de Deus e vocacionado para ser mensageiro aos gentios das insondáveis riquezas do Todo Poderoso escreveu esta epístola aos romanos com a finalidade de solidificar a fé e a comunhão em Cristo Jesus. O evangelho de Deus em Cristo é apresentado de maneira sintética logo nos primeiros versículos da epístola aos Romanos - “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus”. Na seqüência Paulo esboça o mesmo pensamento do tema: Evangelho de seu filho (Rom 1:9); Anunciar o evangelho (Rom 1:15), e ainda nos versos 16 e 17 do capitulo um “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê...” (Romanos 1: 16). Paulo considerava–se devedor do evangelho de Cristo tanto a gregos como a bárbaros. Os gregos eram tidos como os intelectuais da época. A despeito do conhecimento e de sua vasta cultura, não conheciam a grandeza e o poder do evangelho de Jesus Cristo para a salvação da alma, corpo e espírito. Já os bárbaros eram os ignorantes da época (verso 14). É por este motivo que Paulo estava pronto para anunciar o Evangelho não somente aos gregos e bárbaros, mas também aos judeus e gentios, que representavam o universo cultural de seus dias. A epístola aos romanos foi escrita por volta do ano 56 da era Cristã, por ocasião da terceira viagem missionária de Paulo na cidade de Corinto, na Grécia.
· Versículo chave:
“Pois não me envergonho do Evangelho porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Romanos 1:16).
II. A SÍNDROME DA HUMANIDADE DECAÍDA (ROMANOS 1:18-3:20)
“E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes” (Rom 1:28).
A primeira divisão da epístola de Paulo aos romanos começa por apresentar a real situação do mundo perante Deus. Um quadro que retrata a pecaminosidade e as tendências doentias do homem sem o temor a Deus. Este estado contrário aos princípios divinos é apresentado por Paulo, manifestando a indignação de Deus:
2.1. Manifestação da ira de Deus:
“A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Rom 1:18).
· A ira de Deus: É um sentimento consciente, inerente de Deus, cuja santidade é absoluta e cuja natureza não abriga o pecado. O termo ira no original grego orgh (orguê) é usado para exprimir a indignação de Deus contra o pecado. A ira de Deus é santa: -"Ó Deus, por que nos rejeitaste para sempre? Por que se acende a tua ira contra o rebanho do teu pasto?” (Salmo 74:1).
· A ira de Deus é disciplinadora: Tem por objetivo a educação do homem no âmbito social, espiritual e psicológico, com a finalidade de preservar a pureza na sociedade e, em particular, na igreja. (Salmo 6:1; 38:1).
· A ira de Deus é amorosa: Deus disciplina porque ama –"Não tornarás a vivificar-nos, para que o teu povo se regozije em ti?” (Salmo 85:6); “ Dirás naquele dia: Graças te dou, ó Senhor; porque, ainda que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me confortaste.” (Isaías 12:1).
· A manifestação futura da ira de Deus: Destaca o aspecto escatológico do Grande e Terrível Dia do Senhor – O dia da grande ira de Deus, um dia de vingança! – “O Senhor, à tua direita, quebrantará reis no dia da sua ira. Julgará entre as nações; enchê-las-á de cadáveres; quebrantará os cabeças por toda a terra". (Salmo 110:5,6) “...e esperardes dos céus a seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira vindoura.”(1 Tessalonicenses 1:10).
· A ira de Deus é justa dikaioV (díkaios) Proveniente de um caráter justo (Romanos 1:18; 5:9; 9:22; Efésios 5:6; Colossenses 3:6; 1 Tessalonicenses 2:16; Hebreus 3:11; 4:3). Deus tem o tempo certo para manifestar sua indignação a todos aqueles que desobedecem as suas leis. Não cabe ao homem determinar vingança ao seu semelhante dentro da ordem de sobrevivência no campo dos relacionamentos e das incompatibilidades. Deus ama a todos e sabe como agir!
2.2. Manifestação de Deus aos homens os torna indesculpáveis: (Romanos 1:19, 20).
Deus revela-se aos homens através de seus atributos. Eles são:
· Seus atributos invisíveis: Deus é Eterno (Salmo 90:2); Infinito (Salmo 145:3); e Imutável (Tiago 1:17; Salmo 102:27; Malaquias 3:6). Deus é invisível, mas se revela pessoalmente ao homem através de Jesus Cristo, a encarnação e manifestação do Todo Poderoso – “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas” (Hebreus 1:3).
· Seu eterno poder: (Salmo 21:13; 66:7; 93:1). O poder de Deus é revelado no Evangelho de Jesus Cristo mediante a ação de Deus em todos os tempos para a salvação graciosa de todos os povos – “porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou” ( Romanos 1:19 ). Na pessoa e no ministério de Jesus Cristo os homens puderam contemplar a manifestação e as realizações do poder visível de Deus – “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens” (João 1:4).
· Sua própria divindade: (Salmo 19:1-4) –“Claramente se reconhecem desde o princípio.” Isto é, são facilmente percebidos. A manifestação de Deus é evidente aos homens desde o princípio da criação. A terra e os céus, bem como tudo que Deus criou, seus atributos visíveis e invisíveis revelam a existência de Deus e seu grande e eterno poder. Assim a humanidade não poderá desculpar-se quando comparecer diante de Deus por ocasião do Juízo Final.
2.3. Modos insolentes do homem sem Deus (Romanos 1:21-23)
· Não glorificam a Deus.
· Não lhe dão graças.
· Nulos em seus próprios raciocínios.
· Não possuem mente sã.
· Não reconhecem o valor da verdadeira adoração, são por isso idólatras.
2.4. Medida cheia de iniqüidade (Romanos 1:24-32)
· Pecado de idolatria: “Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente, amém!”. (Romanos 1:25).
· Pecado de homossexualidade feminina: “Porque até as suas mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas, por outro contrário à natureza” (Romanos 1:24-26). A ilha grega de Lesbos era o reduto da homossexualidade feminina da Grécia antiga, daí o termo “lesbianismo” referir-se hoje em dia à prática da inversão sexual – tais criaturas mergulharam na licenciosidade de seus desejos carnais, a fim de praticarem toda sorte de aberrações sexuais, contrárias à natureza.
· Pecado de homossexualidade masculina: “Semelhantemente os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição de seu erro" (Romanos 1:27).
“Semelhantemente...” omoiwV (rómoiós) define que o versículo anterior está tratando especialmente da inversão feminina, e não de qualquer outra perversão sexual, como se poderia deduzir da expressão “mudaram o modo natural de suas relações íntimas, por outro contrário à natureza...” O termo “semelhantemente” justapõe os dois versículos no mesmo tema.
“Se inflamaram...” exekauqhsan (aoristo passivo do verbo ekkaios) significa literalmente “atear fogo”; “ser consumido”. É o que acontece com o prazer libertino, que é contrário à vontade divina. “Semelhantemente os homens arseneV (ársenes) mutuamente se inflamaram... cometendo torpeza aschmosunen (askheimossunen), homens com homens, e recebendo em si mesmos a merecida punição de seus erros” (romanos 1:27).
“Por isso Deus entregou tais homens à imundícia...” O que significa dizer que Deus permitiu que os mesmos sofressem em seus próprios corpos as conseqüências de seus pecados. O texto não declara que Deus aceita ou consente tais pecados.
· Pecado contra o próximo:
“Cheios de toda injustiça...” Esta frase abre um leque de pecados que a humanidade sem o temor a Deus tem praticado contra o seu semelhante. Por que motivo? “Por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes” (Romanos 1:29).
“Disposição mental reprovável...” adokimon noun (adókimon noûn). A expressão significa “uma mente reprovada, que não passa no teste” Vejamos na seqüência o significado das palavras dos versículos 29 a 31:
“Injustiça” - adikia (adikia) Indica os vários tipos de danos que o ser humano pode causar ao seu próximo.
“Malícia” - kakia (kakia) Tendência maligna de um indivíduo que procura pensar apenas o pior em relação ao seu semelhante. Uma espécie de má vontade que desperta atitudes de sagacidade.
“Avareza” - pleonexia (pleonexia) Apego ao dinheiro, falta de generosidade, mesquinhez. Desejo ganancioso para possuir bens materiais. Ambição cobiçosa desmedida para com as riquezas.
“Maldade” - ponhria (ponería) Representa o espírito de perversidade, crueldade e malvadeza contra o próximo.
“Inveja” - fqonou (fthonou) Paulo usa o termo mestouV (mestous) “cheios” indicando assim a completa imersão da mente humana no pecado de inveja. Descreve os motivos malignos daqueles que entregaram Jesus para ser crucificado (Mateus 15:10).
“Homicídio” - fonou (fónou) Ou “assassinato” , que é o ato de tirar a vida do semelhante. Resultado de uma atitude de desprezo para com a vida humana.
“Contenda” - eriV (éris) Questões pessoais que produzem discussões e que resultam em agressão física.
“Dolo” - dolou (dólou) Revela o espírito enganador da humanidade. Tem um sentido totalmente negativo. Jesus elogiou a Natanael, porque nele não havia dolo, esperteza ou espírito de falsidade (João 1:47).
“Malignidade” - kakohqeiaV (kakoetheias) O termo aparece uma única vez neste versículo e trata de um sentimento pernicioso, sendo uma perversão do espírito e da alma do homem, pelo maligno. É Satanás que leva o ser humano a deleitar-se na maldade.
“Difamadores” - yiquristaV (psithyristás) Língua ferina, serpente venenosa... São aquelas difamações que as pessoas sem o temor de Deus fazem em segredo (cochichadores), em outro sentido, expressa a atitude do homem que destila seu veneno contra o próximo, ou com intenções negativas em relação ao próximo.
“Caluniadores” – katalalouV (katalalous) São aqueles que fazem murmurações, críticas e difamações, abertamente; em outras palavras, são fofoqueiros.
“Insolentes” - ubristaV (ybristás) Este termo denota uma mistura de crueldade e orgulho; representa a insolência orgulhosa e o desprezo por outras pessoas, que revela-se na crueldade do sádico prazer de contentamento diante do sofrimento alheio.
“Soberbos” - uperhfanouV (hyperefánous) Pessoas que se conduzem com arrogância e orgulho, insultando e humilhando os incapazes e indefesos.
“Presunçosos” – alazonaV (alazónas) Atitude de vanglória, egoísmo, jactância; o termo originou a palavra “alazão” aplicado a determinada raça de cavalo em referência a seu porte garboso, altivo, orgulhoso.
“Inventores de males” – efeuretaV kakon (efeuretás kakôn) Revela o espírito do homem que é intelectual e espiritualmente oposto aos princípios da Palavra de Deus; fala da insensibilidade moral e espiritual do homem sem o conhecimento de Deus. O termo pode ser ainda empregado para se referir a alguém que age com infidelidade, um quebrador de pactos e alianças.
“Pérfidos” – asuvetouV (asýnetous) Indivíduos que se dão a enganar a boa fé do próximo, ou seja, pessoas que agem com falsidade e espírito de engano, traindo a confiança alheia.
“Sem afeição natural” - astorgouV (astórgous) Aqueles que não se importam com o bem-estar do semelhante. Fala da desumanidade que impera na raça humana. Nos dias de Paulo esse quadro era bem vivo e real, pois se via com freqüência todo tipo de atrocidades sendo cometidas contra pessoas inocentes e indefesas.
“Sem misericórdia” – anelehmonaV (aneleémonas) A palavra misericórdia significa “ter compaixão de” ; representa o sentimento que se derrama em amor para com aqueles que necessitam de ajuda. Uma pessoa “sem misericórdia” é aquela que se encontra longe do caminho de praticar tais bondades. A propósito, conta-se que Nerus Publius, imperador romano, ainda na infância se divertia torturando insetos, arrancando-lhes as asas, as pernas, etc., obtendo disto, prazer.
· Pecado contra Deus (Romanos 1:30)
“Aborrecidos de Deus” – qeostugeiV (theostugueis) Termo utilizado somente aqui neste versículo, representando a face diabólica daqueles homens que são odiadores de Deus, sem afeição natural.
“Impiedade” (18 a) Fracasso religioso.
“Perversão” (18 b) Fracasso moral...Injustiça.
· Pecado contra os pais (Romanos 1:30):
“ Desobedientes aos pais”. Veja o que declara Efésios: 6:1-4.
“Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. Neste caso, qual é a sentença de Deus para os que tais coisas praticam? A resposta é muito clara: a morte eterna! “Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem”
2.5. Moralistas egocêntricos (Romanos 2:1-16)
Nesta divisão da epístola, Paulo trata especificamente sobre aqueles que se consideram detentores das verdades moralizadoras.Tais são conhecidos como auto-suficientes e egocêntricos, semelhantes a alguns dos fariseus, segundo as palavras de Jesus no evangelho de Lucas 18:11.Tais falsos moralistas são julgados por Deus, porquanto suas vidas não representam aquilo que declaram ser. Deus tem outros critérios de julgamento, bem diferentes dos arrogantes. Vejamos alguns desses critérios divinos de julgamento:
· Julga segundo a verdade (Romanos 2:2-4).
· Julga com certeza absoluta (Romanos 2:5).
· Julga com eqüidade (Romanos 2:6-8).
· Julga sem fazer distinção (Romanos 2:9-11)
· Julga de conformidade com o evangelho (Romanos 2:12-16).
2.6. Mestres da lei, porém condenados (Romanos 2:17-3:8)
Os judeus, apesar de conhecedores da lei de Moisés, de se auto-intitularem professores da lei, são, pela própria lei, condenada. Os princípios de justiça divina são igualmente aplicáveis aos judeus, sem levar em consideração os privilégios por eles gozados, nem suas pretensões pessoais. Paulo declara que a religião verdadeira é aquela que emana do mais íntimo do coração que teme a Deus e obedece a sua palavra com sinceridade e verdade, ao contrário da que se fundamenta no puro ritualismo formal (Romanos 2:28-29).
· Os cinco motivos de vanglória dos judeus:
ü Gloriam-se em Deus (Romanos 2:17 c).
ü Aprovam as coisas excelentes (Romanos 2:18 a).
ü São instruídos na lei (Romanos 2:18 b).
· As cinco vantagens dos judeus: “Estão persuadidos de que são...”
ü Guias de cegos (Romanos 2:19 a).
ü Luz dos que se encontram em trevas (Romanos 2:19 b).
ü Instrutores de ignorantes (Romanos 2:20 a).
ü Mestres de crianças (Romanos 2:20 b).
ü Tendo na lei a forma de sabedoria e da verdade (Romanos 2:20 c).
· As cinco verdades não vividas pelos judeus:
ü Não praticam aquilo que ensinam (Romanos 2:21 a).
ü Não vivem aquilo que pregam (Romanos 2:21 b).
ü Exortam sobre o adultério e são adúlteros (Romanos 2:22 a).
ü Abominam os ídolos e são ladrões dos templos (Romanos 2:22).
ü Gloriam-se na lei, e são transgressores da lei (Romanos 2:23).
· As cinco verdades de valor da teologia de Paulo:
ü A circuncisão sem lei não tem valor algum (Romanos 2:25).
ü O incircunciso que observa a lei é considerado circuncidado (Romanos 2:26).
ü A religião do formalismo pode ser julgada pela incircuncisão (Romanos 2:27).
ü A aparência exterior nada representa para Deus (Romanos 2:28).
ü A verdadeira circuncisão é interior (Romanos 2:29).
· As vantagens do judeu aumentam, ainda mais, a sua condenação:
Este argumento de Paulo é demonstrado através de um diálogo aberto, evidenciando os privilégios do judeu e sua inevitável condenação (Romanos 3:1-8). Segundo Scofield “para provar a culpa do mundo sem o temor de nosso Deus, Paulo apresenta o testemunho da revelação divina de três formas distintas:
ü Contra o pagão, o testemunho da criação (Romanos 1:19-20)
ü Contra o moralista, o testemunho da consciência (Romanos 2:15).
ü Contra o judeu, o testemunho das Escrituras (Romanos 3:2)”.
2.7. Mundialmente mortos universalmente condenados:
“Como está escrito: Não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus” (Romanos 3:9-20).
· Os Judeus e os gregos estão debaixo do pecado:
ü Falso patrimônio religioso - O judeu e sua cultura religiosa (Romanos 3:9 a)
ü Falsa sabedoria intelectual – O grego e seu vasto conhecimento que envolve ecletismo religioso e vãs filosofias (Romanos 3:9b).
· O mundo inteiro está debaixo do pecado:
ü A universalidade do pecado (Romanos 3:10-12).
ü A totalidade do pecado na vida humana (Romanos 3:13-15).
ü A história humana sob a penalidade do pecado (Romanos 3:16 -18).
· O veredicto final:
“Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que se cale toda boca e todo o mundo fique sujeito ao juízo de Deus; porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado" (Romanos 3:19-20).
III. A SALVAÇÃO DE DEUS EM CRISTO (ROMANOS 3:21-5:1-21)
“Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores (Romanos 5:8).
O segundo tema principal da epístola aos romanos, revela ao homem que a solução para o seu estado de pecaminosidade é a salvação em Cristo. Ele é a única alternativa de justificação para o homem perdido no pecado. Se o homem não apegar-se às promessas e verdades da palavra do Senhor, torna-se impossível alcançar a nova vida em Cristo.
3.1. A fonte da salvação - Cristo Jesus (Romanos 3:21-28):
O tema principal – A salvação em Cristo (Nova Vida!).
O ensino principal – A justificação em Cristo (Nova posição!).
Para que esta fonte possa jorrar e as bênçãos decorrentes da justificação venham a fluir manifesta-se o tribunal divino, que julga e justifica retamente.
· O reto juiz (Romanos 3:21, 22,25 b, 26) – É aquele que exige a ação da verdadeira justiça... Quem é o juiz que julga retamente? Deus, o Todo Poderoso e guardião de nossas almas. Dele procede a decisão para julgar.
“Justiça” - dikaiosunh (dikaiosúnê) O adjetivo“justo” dikaios (díkaios) revela
o caráter de quem decide com eqüidade em favor da humanidade. A obra expiatória de Cristo torna possível o ato de justificação em favor do homem, pois Deus clama dos céus por justiça, e esta encontra sua resposta na pessoa de Jesus Cristo.
· O réu acusado (Romanos 3:19-23) – É aquele que transgride a lei sem justa causa, por isso é processado pela ordem judicial divina. O gênero humano é o maior infrator da lei desde o princípio.
“Justificação” - dikaiosiV (dikaiósis) Significa “vindicação” ou “absolvição” - Declarar justo o pecador de sua culpa. Somente Deus tem autoridade absoluta para declarar absolvição ao homem (Romanos 3:26). Este ato de reconhecimento só será viabilizado mediante a redenção em Cristo Jesus.
· O reto advogado (Romanos 3:24; 1 João 2:1) – É aquele que se apresenta como redentor do réu. O reto advogado defende com base no amor, que é sem igual. O redentor usa dois meios para efetuar a absolvição do réu sentenciado. Seus métodos não são humanos, nem tão pouco são obras da lei (Romanos 3: 27-28). Os meios possíveis são:
“Redenção” - lutrwsin (lútrôsin) – Significa literalmente “conceder redenção ou livramento” (Lucas 1:68) e “livramento na forma intensiva” apolutrwsiV (apolútrosis). O preço pago para que fosse possível a libertação do réu resultou em derramamento de sangue, compensação exigida pela redenção e propiciação de nossos pecados.
“ Propiciação” - ilasterion (hulasteríon) Romanos 3:25; 1 João 2:2 - Ato de ser favorável, mediante a expiação dos pecados. Deus é propício ao homem por meio da graça e do perdão.
3.2. A função da salvação (Cura universal):
“Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:23; 3:29-31).
· A salvação dos judeus (Romanos 3:29 a) – “É, porventura, Deus somente dos judeus?” De maneira alguma! A vontade de Deus é que todos sejam salvos.
· A salvação dos gentios (Romanos 3:29 b, 30) – “Não o é também dos gentios? Sim, também dos gentios!” O mundo é dividido nestas duas grandes culturas. Uma tornou-se grande, inumerável, como a areia do mar, pelo fato de ser a nação escolhida de Deus. A outra, o alvo do amor de Deus para a formação da igreja, que, nos primórdios da fé cristã, veio pela união de judeus e gentios – “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus...” (1a Pedro 2:9 a).
ü O alcance da doença do pecado é universal.
ü O alcance do remédio contra o pecado também é universal.
ü O alívio da conseqüente enfermidade do pecado encontra-se na pessoa de Jesus Cristo.
Nota: A função da justificação pela fé não é anular a lei de Deus, mas, sobretudo confirmá-la no coração humano (Romanos 3:31).
3.3. A finalidade da salvação (Alcançar os que desejam viver por fé):
· O Testemunho de Abraão (Romanos 4:1-5, 9-25).
Abraão é notavelmente reconhecido em toda a história do Velho Testamento como um homem justo e de boas obras. Entretanto não foi justificado por aquilo que realizou.
ü Sua justificação se deu unicamente pela fé (Romanos 4:4, 9).
ü Sua justificação não dependeu de esforço humano (Romanos 4:5).
ü Sua justificação não dependeu do sinal visível da circuncisão (Romanos 4:9-12).
Nota 1 A grande misericórdia de Deus que se revelou aos homens através dos tempos, demonstra que Ele sempre esteve preocupado com o homem e sua história. Abraão não foi o único a experimentar a bondade e a misericórdia de Deus, mas todos quantos se aproximaram dele encontraram refúgio e salvação.
Nota 2 A circuncisão, sinal visível da aliança de Deus com o povo de Israel, não conferiu nenhuma bem-aventurança, mas simplesmente confirmou a justificação pela fé, já consumada em sua vida. Pois não é pela prática da circuncisão nem pela observância da lei de Moisés que o homem é justificado diante de Deus. Sua justificação resultou em bênçãos (Romanos 4:13-25).O resultado da justificação habilita-nos para uma herança incorruptível com valores superiores.
A herança prometida (Romanos 4:13, 14). Abraão recebeu a promessa de ser herdeiro do mundo. “Porque não foi pela lei que veio a Abraão, ou à sua descendência, a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo, mas pela justiça da fé" (Romanos 4:13).
A herança foi prometida mediante a fé (Romanos 4: 16 a) “... a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência...”
A herança foi conferida aos herdeiros legais. Quem são os falsos herdeiros? Aqueles que tentam herdar através das obras da lei (Romanos 4:14). Quem são os verdadeiros herdeiros? Aqueles que são descendentes de Abraão segundo a fé. A exemplo disto temos o caso de Sara, (Romanos 4:16, 18-22) e que tem sua confirmação nos redimidos em todos os tempos (Romanos 4.16,17, 23-25).
· O Testemunho de Davi (Romanos 4:6-8):
Abraão foi reconhecido em toda a sua história como o “amigo de Deus” e Davi, um homem “segundo o coração de Deus”. Quais foram as declarações que Davi fez em relação à justificação em Cristo?
Bem aventurado é o homem que é justificado por Deus - “Aquele a quem Deus atribui justiça independente de obras”. (Romanos 4:6; Salmo 32:1-2; Romanos 10:10). E bem aventurados são aqueles cujos pecados são perdoados por Deus - Suas iniqüidades são perdoadas e seus pecados são cobertos. (Romanos 4:7; Coríntios 2:10 Romanos 3:23; Levítico 16:6; Êxodo 29:33). Bem aventurado o homem a quem Deus não atribui culpa - “Aquele a quem o Senhor jamais imputará pecado” (Romanos 4:8).
3.4. A frutificação da salvação (Permanente e abundante):
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1).
A salvação em Cristo, mediante o ato de justificação, tem uma suficiência universal, isto é, provisão potencial em favor de toda a humanidade. Todavia, sua eficiência é limitada aos que são justificados pela fé. Quais os resultados da justificação pela fé?
· Produz paz com Deus (Romanos 5:1)
O estado de desespero em que se encontra a humanidade, seus conflitos,
crises, pecaminosidade e frustrações, levaram Deus a providenciar por intermédio de Jesus Cristo o caminho pelo qual o homem pode ter paz interior. “Justificados, pois...”
“Temos paz com Deus” - A nossa paz com Deus é a certeza de que nossos pecados foram expiados. A obra redentora de Cristo produz reconciliação entre Deus e o homem, pondo fim na inimizade (Romanos 5:10, 11).
“Por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” - Jesus Cristo, o justo, é o único mediador entre Deus e os homens. Ele nos habilita para que tenhamos acesso ao Pai. “... por meio de Jesus Cristo...” ( Romanos 5:1 ) - “Portanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos” ( 1 Timóteo 2:5,6 ).
· Produz privilégios (Romanos 5:2-5)
Uma das vantagens da justificação é a garantia que temos do acesso gratuito à presença de Deus.
Um novo e vivo caminho (Romanos 5:2) “... acesso pela fé, a esta graça na qual estamos firmes...”
Podemos apresentar diariamente nossas vidas e problemas a Deus, Senhor e salvador nosso e gozamos os favores de Deus através de Cristo Jesus. Ele é o bem maior da nossa existência e autor de todas as coisas boas que nos acontecem.
Um gozo tremendo (Romanos 5:2 b) A satisfação da comunhão com Deus é sentida quando se experimenta a presença da glória de Deus, representada pelo brilho da face de Cristo. As Escrituras declaram-nos que na manifestação futura de Cristo presenciaremos a glória de Deus vestida na pessoa de Jesus em sua totalidade. Uma esperança para todos nós!
Uma vida vitoriosa (Romanos 5:3-5) A nossa nova posição em Cristo capacita-nos para uma vida vitoriosa sobre as aflições na vida presente. Não temos que temer nada, pois o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Romanos 3:5).
· Produz posição de destaque para os salvos:
Nosso estado anterior – O que éramos?
“Éramos fracos” (Romanos 5:6). Vivíamos nas práticas impiedosas de nossos atos carnais.
“Sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8) Sem vida espiritual “... mortos nos delitos e pecados...” (Efésios 2:1-3).
“Porque, se nós, quando inimigos...” (Romanos 5:10) Não tínhamos nenhuma comunhão com Deus.
Nosso estado presente. O que somos agora?
“Justificados pelo seu sangue” – A justificação mediante a fé tem como confirmação o sacrifício através do derramamento do sangue (Romanos 5:9);
“Fomos reconciliados com Deus” - Cristo assumiu voluntariamente os nossos pecados perante o Criador para nos livrar da ira de Deus (Romanos 5:7-10).
· Posições divergentes entre Cristo e Adão:
Adão (Cabeça federal da raça humana - Romanos 5:12-14).
Criado para ser perfeito – Deus criou o primeiro homem, perfeito, e o destacou como coroa de toda a Sua obra criadora – “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou...” (Gênesis 1:26-27).
Caiu em pecado voluntariamente – “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos 5:12). Quando Adão desobedeceu à ordem divina, comendo do fruto proibido, pecou contra Deus e perdeu a sua condição de inocência. Ele mesmo e sua mulher sofreram em primeira instância as conseqüências terríveis do pecado. Perdeu sua legítima identidade, sua comunhão com Deus, ofuscando assim a imagem e semelhança de Deus em sua vida (Gênesis 1:26) o que culminou com a decadência moral de toda a humanidade – O pecado de Adão espalhou-se para todos os segmentos da sociedade que formava o mundo antigo das primeiras civilizações, ocasionando desequilíbrio social, ruína moral e espiritual, de modo que todos os seres viventes começaram a envelhecer e a morrer – “... porque todos pecaram” (Romanos 8:22-23).
Nota : (Romanos 5:13-14) De fato, não havia nenhum mandamento em forma de ordenanças até o regime da lei. A lei só foi entregue por Deus a Moisés e a todo o povo de Israel no monte Sinai, aproximadamente 2.513 anos depois da queda de Adão e sua conseqüente expulsão do jardim.
E agora? Se não há lei os pecados ficam impunes? De maneira alguma! Porque todos pecaram, não à semelhança do pecado de Adão, mas como resultado da transgressão de nossos primeiros pais e por causa da licenciosidade de sua própria natureza pecaminosa. A culpa, sem restrição nenhuma, é de todos!
Cristo (Cabeça federal da raça eleita - Romanos 5:15-21). Nestes versículos, Paulo apresenta os contrastes entre o primeiro Adão e o segundo Adão, que é Jesus Cristo em pessoa e obra. ( 1 Coríntios 15:21, 22,45-49).
Culpa e graça - O primeiro Adão mortificou todos os homens em seus delitos e pecados – “... pela ofensa de um só...” ; “...somente um pecou...” (Romanos 5:14,15,17). O segundo Adão vivifica, mediante sua morte, todo aquele que o aceita pela fé – “...o dom gratuito...” ; “...muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Cristo Jesus...” (Romanos 5:15-17).
Condenação e justificação – O primeiro Adão, em sua desobediência a Deus, trouxe como conseqüência o julgamento para a condenação de todos os homens e a inevitável morte espiritual – “... uma só ofensa...” ; “...pela desobediência de um só homem...” As duas palavras usadas por Paulo destacam muito bem a decadência moral, social e espiritual de toda a raça humana.
“Pecado” amartia (hamartia) Que significa literalmente “errar o alvo”
“Ofensa” paraptwma (paráptôma) A palavra aparece sete vezes somente neste parágrafo e significa basicamente “perder o caminho” - O desequilíbrio social; “faltar com a verdade” – O desequilíbrio ético; “falhar no dever” – O desequilíbrio moral. Isto se deu na vida de Adão e se perpetuou por toda a raça humana.O segundo Adão, em seu caráter perfeito e justo, torna-se justificador daqueles que são pertencentes a Ele por direito de herança, mediante a salvação que sua morte vicária proporcionou –“...pela graça para a justificação...” (Romanos 5:16) ; “...a abundância da graça e o dom da justiça...” (Romanos 5:17); “... um só ato de justiça...” (Romanos 5:18); “...por meio da obediência de um só...” (Romanos 5:19). Assim: O primeiro Adão trouxe culpa e morte. O segundo Adão, justiça e vida (Romanos 5: 20-21). A graça de Deus e a vida em Cristo resgatam a maior esperança para a humanidade perdida. Paulo coloca em destaque esta verdade usando uma frase maravilhosa – “Mas onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus”. Amém e amém!
Os caminhos de Deus aos justos (Romanos 5:12-21)
Suas origens:
ü O dom de Deus (Romanos 5:15-16).
ü A graça de Jesus (Romanos 5:15-18, 20,21).
ü A obediência de Cristo Jesus (Romanos 5:19).
Seus favorecidos:
ü Alcançam uma real justiça (Romanos 5:17,18,21).
ü Alcançam o ato da justificação (Romanos 5:16,18). A justificação é o resultado da real justiça divina.
ü Alcançam a posição de justos (Romanos 5:19). O salvo recebe a declaração de justo mediante a justificação em Cristo.
ü Alcançam a vida (Romanos 5:17,18,21). A vida eterna é o resultado da obra redentora de Cristo Jesus, onde são incluídos os favores acima citados.
“E, na verdade, aqueles foram feitos sacerdotes em grande número, porque pela morte foram impedidos de permanecer, mas este, porque permanece para sempre, tem o seu sacerdócio perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, porquanto vive sempre para interceder por eles.Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime que os céus; que não necessita, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados, e depois pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez por todas, quando se ofereceu a si mesmo.Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens que têm fraquezas, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, para sempre aperfeiçoado.” (Hebreus 7:23-28).
Os caminhos do homem injusto (Romanos 5:12-21)
“Há caminho, que parece direito ao homem, mas afinal é caminho de morte” (Provérbios 16:25)
Suas origens: (O homem na trilha do engano!)
ü A desobediência à ordem divina – Uma tendência verificada no homem desde os primórdios da criação. Deus estabeleceu uma ordem para o homem e sua mulher (Gênesis 2:16-17), porque os considerou capazes de obedecê-la. Ele os criou homem e mulher para que provassem da doce obediência aos seus princípios, que resultaria na participação ativa de suas bênçãos e do prazer de viver a longa vida para a qual foram destinados. Entretanto, o homem escolheu, por sua livre e espontânea volição, seu caminho de desobediência.
ü A desobediência por vontade própria (Gênesis 3:6; Romanos 5:19). Adão, sendo o cabeça da raça humana, errou o alvo principal para o qual fora criado, não por imposição ou determinação divinas, mas por vontade própria, no uso espontâneo de seu livre arbítrio. Deus, como supremo criador, planejou que o homem gozasse o prazer de viver livre e absoluto sobre a terra...Viver e viver! Nunca, porém, morrer eternamente.
Suas conseqüências (O homem perante o tribunal divino)
A palavra tribunal vem do grego bhma (bêma), que significa o lugar do julgamento (Romanos 14:10; 2 Coríntios 5:10; Filipenses 2:10-11; Isaías 45:23).
ü Julgamento ou juízo krima (kríma) Juízo de uma ofensa para condenação (Romanos 5:16-18).
ü Condenação katakrima (katákrima) O veredicto ou castigo divino pela ofensa praticada (Romanos 5:16,18).
ü Morte qanatoV (thánatós) É o salário do pecado.“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram. Porque antes da lei já estava o pecado no mundo, mas onde não há lei o pecado não é levado em conta. No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão o qual é figura daquele que havia de vir. Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, abundou para com muitos. Também não é assim o dom como a ofensa, que veio por um só que pecou; porque o juízo veio, na verdade, de uma só ofensa para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida. Porque, assim como pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos pecadores, assim também pela obediência de um muitos serão constituídos justos. Sobreveio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; para que, assim como o pecado veio a reinar na morte, assim também viesse a reinar a graça pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor.” (Romanos 5:12-21).
IV. A SANTIFICAÇÃO DO HOMEM EM CRISTO (Romanos 6: 1-8:1-39)
“Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação, e por fim a vida eterna” (Romanos 6:22).
Salvação – Nova vida! A salvação é obra exclusiva de Cristo Jesus.
Santificação – Novo caráter! A santificação é obra do Espírito Santo que em nós habita. Paulo, escrevendo aos Filipenses, nos capítulos 1 e 2 de sua carta, desafia-os para que desenvolvam a salvação como receita vitalizante para o progresso do Evangelho – “...desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor...”
(Filipenses 2:12 b). Aqui Paulo apresenta o princípio mais prático da santificação, que é o processo da salvação.
A santificação é abordada nas Escrituras como sendo o mais profundo desejo do coração de Deus para o salvo (1Tessalonicenses 4:3). A santificação não é uma opção de vida, é, todavia, a única alternativa para se ter uma vida vitoriosa no cotidiano da experiência cristã. O crente é salvo para ser santo, e esta santificação deve começar logo no princípio de sua vida cristã, e perdurar num processo crescente até a vinda do Senhor Jesus Cristo (1 Tessalonicenses 3:13), quando atingiremos a fase final da perfeição em Cristo.
Os ensinamentos expositivos dos capítulos 6, 7 e 8 de Romanos oferecem-nos o alicerce para um viver santo mediante a união com Cristo em sua morte e ressurreição.
SANTIFICAÇÃO – agiasmoV (haguiasmós), que significa a s-e-p-a-r-a-ç-ã-o do mal para um viver de retidão na presença de Deus. O termo “Santo” postula valores éticos, como expressão da santidade de Deus. A expressão hebraica Adonai Kadosh (O Senhor é Santo) denota o contraste entre o santo e o profano. Para facilitar nosso entendimento, mais uma vez dividiremos o tópico em subtítulos.
4.1. Santificação – União com Cristo (Romanos 6:1-13)
“Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (Romanos 6:4)
A união com Cristo é fruto do abandono constante, sem reservas, do velho homem sem o conhecimento e temor a Deus, para um viver interior abundante. Quando alguém se torna cristão, passa a experimentar uma transformação radical ao ponto de desejar reproduzir o caráter de Cristo em sua vida. São conseqüências desta nova experiência de vida:
· Uma luta enérgica contra o pecado. No contexto de Romanos 5:20,21-6:1-2, Paulo conduz seus leitores a um sério questionamento.
Paulo pergunta: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?”. E o mesmo Paulo responde: “De modo nenhum!” ( Romanos 6:1,2 ). Esta resposta de Paulo anula todo e qualquer pensamento libertino; toda e qualquer tendência para o mal. O pecado foi e será para sempre o causador da desgraça humana, entretanto, todas as vezes que o homem tomar consciência de seus pecados e se dispor a confessá-los, Cristo Jesus está sempre pronto para cobri-los com o seu sangue a fim de perdoá-lo de todo pecado. O pecado é um engano, promete plena satisfação e destrói a alegria humana; o pecado é pernicioso, promete grandeza e alimenta o homem com falsa esperança; o pecado é ardiloso, insinua o prazer e despreza com a recompensa do sofrimento; o pecado é tendencioso, promete o bem e paga com o mal; o pecado é ganancioso, promete riquezas, e deixa na miséria; o pecado é destruidor, promete vida e causa a morte – “porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” ( Romanos 6:23 ).
· Uma identificação genuína com Cristo. Para Deus mostrar sua misericórdia não há necessidade alguma da prática do pecado, como estímulo à graça de Deus. A graça de Deus opera no salvo independentemente da obra satânica do pecado, pois do poder do pecado fomos libertos para uma vida de profunda identificação com Cristo, e não para um viver contrário aos padrões de Deus (Romanos 6:3-4).
Fomos batizados em Cristo (Romanos 6:3). Batizados na sua morte! O teólogo F.F. Bruce acredita que fomos incorporados em Cristo, quando nos tornamos membros do seu corpo, a igreja – Bruce argumenta: “...e assim, por vossa união com ele pela fé, compartilhastes daquelas experiências que historicamente lhe pertenciam, sua crucificação e sepultamento, sua ressurreição e exaltação” - “Fostes incorporados nele, vos tornastes membros do seu corpo” (1 Coríntios 12:13)
Fomos sepultados com ele (Romanos 6:4). Na morte pelo batismo! Esta é uma afirmação que diz respeito à doutrina bíblica do batismo nas águas, batismo por imersão. O sepultamento de Cristo foi prova máxima de sua inequívoca morte física. O batismo nas águas simboliza o sepultamento do velho homem e todas as suas paixões carnais para uma nova vida de identificação com Cristo. Assim como Cristo tornou-se vitorioso sobre o pecado e sobre a morte, ressuscitando dentre os mortos, andemos nós em novidade de vida.
Fomos unidos com ele (Romanos 6:5). Na semelhança de sua morte! Mediante a morte de Cristo é possível se ter uma experiência de vida transformada, fazendo morrer a velha natureza para um novo caráter, com procedimentos fundamentados em padrões divinos. Na semelhança de sua ressurreição! Sendo Cristo as “primícias dos que dormem” , haveremos de ressuscitar em glória para uma semente incorruptível. Os que dormem em Cristo ressuscitarão primeiro e os que ficarem vivos, até o dia de Cristo, serão trasladados. (1 Coríntios 15:20; 1 Tessalonicenses 4:13).
· Uma consciência absoluta da nova posição em Cristo. Paulo chama a atenção do novo homem em Cristo para uma vida conscienciosa fundamentada no profundo conhecimento dos novos valores para um viver santo. Um policiamento cuidadoso contra os perigos e concorrências que cercam a identidade do novo homem. Na concepção de Paulo o salvo tem a consciência da legitimidade desta nova fonte de valores – “Sabendo isto...” (Romanos 6:6); “sabedores que...“ (Romanos 6:9); “assim também considerai-vos...” (Romanos 6:11); “não sabeis que...?” (Romanos 6:16).
A palavra de Deus, a obra de Cristo e a instrumentalidade dos servos de Deus, não foram postas à disposição do salvo, apenas como fonte de pesquisa, mas sobretudo como arma ao seu alcance a fim de que ele possa honrar e defender a sua nova posição obtida pelos méritos de Cristo Jesus.
Servos do pecado? De modo nenhum! “Sabendo isto, que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado” (Romanos 6:6).
“O velho homem” – Já foi crucificado com Cristo! A declaração aqui apresentada tem relação com a nossa nova natureza, antes escravizada pelo pecado, agora, porém, crucificada com Cristo. (Efésios 4:22; Colossenses 3:9). O conceito do velho homem está basicamente relacionado com o pecado original de Adão e a transferência de sua natureza corrupta para todos os homens, em todos os âmbitos da sociedade do mundo antigo até os dias de hoje.
“O corpo do pecado” – Já foi destituído, ou seja, tornou-se impotente e toda a sua instrumentalidade para a obscenidade ficou sem efeito algum (Romanos 6:12-13); a não ser quando o novo homem em Cristo permite a ação dos antigos valores em sua vida, e esta não é a vontade de Deus para o salvo (1 Tessalonicenses 4:3; 1 João 2:1-2). Para que possamos resistir às tendências do corpo do pecado, que às vezes nos sobrevêm por meio da velha natureza, faz-se necessário dependermos de Deus e da força de seu Espírito, mediante a obra de santificação que assiste o salvo desde o momento de sua conversão.
Nota: No tocante à vida vitoriosa, o salvo deve reconhecer que o velho homem, além de ter sido crucificado com Cristo, deve ser despojado dia a dia com suas paixões e desejos estimulados pelo pai da mentira e do engano, para renovar-se no Espírito a fim de que seja revestido do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade (Efésios 4:22-24).
Servos de Cristo? Com prazer e determinação. A posição de servos de Deus é garantida pela perfeição da obra de Cristo Jesus – “Assim também, considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus” (Romanos 6:11).
Observe o quadro na página seguinte:
SERVOS DO PECADO PARA A MORTE (Nunca jamais) | SERVOS DE DEUS PARA A VIDA (Para sempre) |
* Nova posição – Justificado está do pecado (Romanos 6:7). * Nova vida – A base da nova vida é Cristo (Romanos 6:8-11). * Novo senhorio – Os membros do corpo devem ser oferecidos como instrumentos de justiça (Romanos 6:13,18). * Nova doutrina – Obediência de coração à doutrina da verdade (Romanos 6:17). * Novo procedimento – Com base na justiça divina (Romanos 6:20). | |
LEI | GRAÇA |
· O salvo não está debaixo da lei (Romanos 6:14-15). | * O salvo está debaixo da graça (Romanos 6:14 b e 15 b). |
OUTRORA | AGORA |
· Escravos do pecado (Romanos 6:17,19). · Isentos de justiça (Romanos 6:20). | * Libertos do pecado (Romanos 6:18,22) * Instrumentos de justiça (Romanos 6:20) |
MORTE · O salário do pecado é a morte (Romanos 6:23). | VIDA * Dom de Deus em Cristo Jesus (Romanos 6:23) |
4.2. Santificação – Unidos a Cristo e libertos do legalismo (Rom. 7:1-25)
“Assim, meus irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, e deste modo frutifiquemos para Deus” (Romanos 7:4).
A união com Cristo, simbolizada na morte pelo batismo, é fruto da transformação ocorrida no salvo mediante o novo nascimento – “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” (João 3:5). A água a qual Jesus se refere aqui é a palavra de Deus. Paulo faz a mesma referência a esta água que tem o poder regenerador e santificador (Efésios 5:26). A Palavra é a substância regeneradora, e o Espírito Santo é o agente santificador, que convence o homem da necessidade de conversão (João 16:8), e o santifica a fim de que este homem viva e frutifique para Deus em novidade de vida (Romanos 7: 4,6).
O salvo está, portanto, liberto da lei no que diz respeito às implicações cerimoniais e legalistas e unido a um novo senhorio. Paulo exemplifica esta verdade absoluta, fazendo de sua argumentação uma analogia da desobrigação matrimonial com a desobrigação à lei, e em seguida, para elucidar seu pensamento, apresenta sua própria autobiografia.
· Analogia de Paulo – Lei conjugal e desobrigação conjugal comparadas à subserviência à lei e submissão a Deus. A obrigação conjugal é desfeita com a morte do marido – Paulo apresenta o casamento como ilustração. Numa paráfrase, “façamos uma comparação: Ora... a mulher casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele viver...” (Romanos 7:2). Temos aqui, sem sombra de dúvidas, um princípio nos termos da lei. A lei divina, em todos os sentidos, favorece a unidade conjugal que deve ser absoluta e indissolúvel - “Se, contudo... o marido morrer, a esposa ficará desobrigada da lei conjugal” (Romanos 7:2 b). A morte de um dos cônjuges põe fim, de uma vez para sempre, na lei matrimonial. Paulo destaca a morte do marido para legitimar sua analogia (Romanos 7:3).
A obrigação da subserviência à lei é desfeita pela morte de Cristo Jesus – Para situar melhor o contexto do pensamento de Paulo, lembremos que o apóstolo falava aos seus irmãos em Cristo recém-convertidos à fé cristã, mas que viviam ainda arraigados ao legalismo judaico. Neste parágrafo usa por duas vezes a expressão que caracteriza seu zelo pastoral e seu amor cristão em relação à família da fé – “Porventura ignorais, irmãos...?” (Romanos 7:1); “Assim, meus irmãos...” (Romanos 7 : 4). Ele emprega toda sua experiência apostólica para evidenciar algo muito mais profundo e necessário para o novo viver em Cristo.Quando uma pessoa morre (refiro-me à morte física) a lei não tem mais sobre ela nenhum poder, desobrigada está de qualquer julgamento legal. Em se tratando do novo senhorio de Cristo sobre o salvo, equivale dizer que sua morte vicária desfaz completamente o jugo de servidão da lei sobre o homem. No pensamento de Paulo a lei judaica era uma espécie de marido ou senhor absoluto sobre os seus seguidores; porém, a morte de Cristo e o morrer com Cristo, resultam em total libertação do legalismo verificado na lei farisaica.
A insistência de Paulo em se pronunciar repetidas vezes contra o legalismo judaico infiltrado no meio dos cristãos, não diz respeito a uma simples questão religiosa, e sim a um princípio de vida cristã desvinculado de todo e qualquer fanatismo religioso. Não há mais lugar na vida do salvo para práticas religiosas dissociadas da pessoa de Cristo. O brilho da vida do salvo não se restringe a um amontoado de códigos e exigências, mas ao poder da palavra e do Espírito mediante a santidade em Cristo Jesus – “morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo...” (Romanos 7:4), “...para que não venhamos mais frutificar para a morte” (Romanos 7:5). O fruto de nossa existência pertence agora a um outro senhor, ao qual servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra.
· Autobiografia de Paulo (Romanos 7: 7-25). Nesta seção Paulo passa a descrever sua própria experiência outrora vivida, no sentido mais restrito da palavra, dentro dos princípios farisaicos aos quais fazia parte com extremo zelo e dedicação - “Se bem que eu poderia até confiar na carne. Se algum outro julga poder confiar na carne, ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei fui fariseu; quanto ao zelo, persegui a igreja; quanto à justiça que há na lei, fui irrepreensível.” (Filipenses 3:4-6).
Sua frustração religiosa - (Romanos 7:7-11) - Paulo, conhecido como Saulo em sua religião anterior, foi um cidadão extremamente obstinado, fanático e zeloso, ao ponto de aceitar como forma de vida preceitos religiosos obsoletos, dedicando-se a eles até as últimas conseqüências – “...quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo que há na lei, perseguidor da igreja...” (Filipenses 3:5 b e 6 a). Paulo supostamente acreditava viver segundo a lei, mas na verdade representava para Deus um fora da lei. Pois quanto ao zelo (falso zelo) era um perseguidor da igreja e de Jesus Cristo – “...Saulo! Saulo! Por que me persegues?” (Atos 9:4). A ele foi dada a incumbência de manietar os cristãos e encerrá-los em cárceres, arrastá-los aos tribunais e condená-los à morte sem justa causa. Por isso ele afirma – “Outrora, sem a lei eu vivia...” (Romanos 7:9). Isto conseqüentemente gerou sua morte espiritual ao ser ele julgado pela verdadeira lei de Deus (Romanos 7:7-11).
A lei conscientiza, porém não moraliza – Paulo não sugere a idéia de que as leis de Deus sejam más (Romanos 7:7), porém afirma que a lei em si mesma não tem a função de moralizar, e sim de apontar o caminho da graça de Deus. A lei é uma espécie de aio ou guia para conduzir o homem a Cristo Jesus – “de maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo...” (Gálatas 3:24).
A lei é santa, porém não santifica – O Espírito Santo é quem santifica o salvo, fazendo dele um referencial de vida, levando-o a produzir o fruto do Espírito: “Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito. Não nos tornemos vangloriosos, provocando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros.” (Gálatas 5:22-26); (Romanos 7: 12-13).
A lei é espiritual, porém o homem é carnal – Portanto, todas as vezes que a velha natureza tende a tripudiar sobre a pessoa do novo homem em Cristo, as conseqüências são inevitáveis, levando-o a frustrações e derrotas espirituais. O próprio Paulo experimentou em sua carne os efeitos danosos da influência da velha natureza sobre o novo homem. Ele diz: “Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.” (Romanos 7:14). Deus nos tem chamado para uma vida vitoriosa, processo natural da santificação pela lei do Espírito santo.
Sua nova experiência religiosa. Antes da conversão de Paulo ao Cristianismo, sua luta fora movida por um objetivo puramente pessoal e por uma questão estritamente religiosa. Agora, porém, em sua nova vida em Cristo, sua luta espiritual passa a ser contra as hostes opostas à natureza divina: O que ele preferia versus o que detestava (Romanos 7:15-16); O bem versus o mal (Romanos 7:17-20); A lei da mente versus a lei dos membros do corpo (Romanos 7:21-23). As duas naturezas, carnal e espiritual, se confrontam cotidianamente. No entanto, se lançarmos mão das armas espirituais e dos princípios básicos da fé cristã, seremos vitoriosos e o mal não se estabelecerá em nossa conduta. O que Paulo descreve nos versículos 15 a 25 trata-se de sua própria experiência em face às tendências da velha natureza. Ele reconhece a existência de duas naturezas militando em sua vida cristã – o velho Paulo e sua natureza corrompida contra o novo Paulo e sua natureza espiritual.
O Paulo carnal. Vejam como ele fica embaraçado quando tenta explicar sua luta interior – “Porque nem mesmo compreendo meu próprio modo de agir... ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa” (Romanos 7:15-16). O Paulo carnal é aquele que age na força do ego e suas complexidades espirituais. O pronome eu aparece nesse contexto para destacar o lado carnal da personalidade de Paulo e de todos nós (Romanos 7:14, 18, 20); “...de maneira que eu, de mim mesmo, com a mente sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne da lei do pecado”. (Romanos 7:25 b ). No capítulo 7 Paulo torna óbvio o valor da lei de maneira interessante. Vejamos, a palavra no original grego traduzida por “boa” (verso 16) não é a mesma palavra geralmente traduzida por “bom”, como encontrada no verso 12. Neste versículo Paulo evidencia o propósito benéfico da lei, que vem da palavra grega agaqh (agathê). Em Romanos 7:16 Paulo apresenta um outro enfoque – a beleza e a nobreza moral da lei, que vem do original grego kaloV (kalós). O instinto moral do íntimo concorda com a beleza e nobreza moral da lei, a qual igualmente condena a ação indesejada, mas que apesar de tudo é realizada.
O Paulo espiritual – Paulo, de maneira alguma, estava obrigado a viver segundo a carne, pois a nova vida em Cristo lhe garantia vitória sobre a velha natureza – “desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7:24). É relevante observar que Paulo não diz o que, mas quem me livrará? A resposta surge com um sabor de vitória – “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Romanos 7:25). Jesus Cristo garantiu a vitória espiritual, de Paulo e de todos quantos vivam por fé, quando da sua morte na cruz do calvário. Ele é o autor absoluto de todas as nossas vitórias. Amém!
4.3. Santificação – Unidos a Cristo e santificados pelo Espírito Santo (Romanos 8:1-27) -“Porque a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte” (Romanos 8:2).
Santificação é a ação de Deus através do Espírito Santo na vida do salvo, dando-lhe condições plenas para que no decurso de sua vida cristã venha a desenvolver com ardor e dedicação a salvação plena. Os três estágios da santificação são:
· Santificação inicial – (1 Tessalonicenses 4:7; Hebreus 10:14) fala da nossa posição e postura perante Deus no princípio da vida cristã.
· Santificação seqüencial - (Filipenses 2:12; 2 Coríntios 7:1; Filipenses 3:15-16) fala do processo ou desenvolvimento pleno da salvação.
· Santificação final (1 Coríntios 15:44, 51-53; Efésios 5:27; Filipenses 3: 12-14, 21) fala da perfeição final mediante a glorificação – “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:13).
Cap. 6 – Santificação – União com Cristo e nossa posição inicial – Começa a partir da experiência em aceitar e confessar voluntariamente a Cristo como Senhor e salvador – “A saber:se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10:9).
Cap 7 – Santificação – União com Cristo e libertação do legalismo da lei – Toda e qualquer participação humana numa tentativa em querer santificar-se, quer seja por obras da lei quer por esforços próprios não tem valor algum diante de Deus. A santificação por motivação humana não leva absolutamente a nada, mas provoca apenas frustrações de ordem espiritual e psicológica.
Cap 8 - Santificação – União com Cristo e santificação pelo Espírito Santo – A participação integral do Espírito Santo é condição sine qua non para a santificação e aperfeiçoamento espiritual. No capítulo 8 a pessoa do Espírito Santo aparece dezenove vezes. Em textos anteriores é mencionado apenas uma única vez (Romanos 5:5).
ü A origem da santificação (Divina)
ü A obra da santificação (Espírito Santo)
ü O objeto da santificação (O salvo).
· Para uma vida de liberdade integral: (Romanos 8:1-3)
“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1).
Cap. 5:1 – “Justificados, pois, mediante a fé...” – fala da nossa posição perante Deus.
Cap. 8:1 – “Agora, pois, já nenhuma condenação há...” – fala de nossas garantias como salvos.
“Agora, pois, já nenhuma condenação há...” – No grego katakrima (katákrima). O que esta declaração nos traz à luz não é o julgamento do réu, mas a sentença condenatória. Não há mais nenhuma sentença contra o salvo; não há mais risco de insegurança para com a salvação, que é sobretudo segura e eterna.
ü Sentença – “Nenhuma condenação” (Romanos 8:1 a)
ü Segurados – “Os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1 b)
ü Segurador – “O Filho de Deus” (Romanos 8:3)
ü Sancionador– “O Espírito da vida” (Romanos 8:2).
· Para uma vida vitoriosa no poder do Espírito Santo (Romanos 8:4-13)
“Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que porventura seja do vosso querer” (Gálatas 5:17).
Vitória sobre a natureza carnal (Carne versus Espírito) - Os que se inclinam para a carne (Padrão de vida negativo)
Padrão negativo 1 – Carnais por natureza “cogitam das coisas da carne” (Romanos 8:5).
Padrão negativo 2 - Espiritualmente mortos “...o pendor da carne dá para a morte...” (Romanos 8:6 a).
Padrão negativo 3 – Inimigos de Deus – “...o pendor da carne é inimizade contra Deus” (Romanos 8:7); “... não agradam a Deus” (Romanos 8:8).
O termo “carne” no grego sarx (sarx), basicamente significa a “natureza humana decaída e corrupta” herdada de nossos primeiros pais, Ada e Eva. “Inclinação” fronhma (frónema), “ato ou efeito de inclinar-se, ter disposição, tendências ou propensão para compreender, sentir, pensar e aceitar” as coisas da carne (Colossenses 3:2-3; 1 Coríntios 13:11). As inclinações que o salvo não deve cultivar para com a natureza carnal é contrário à disposição mental reprovável de Romanos 1:28, que literalmente fala de uma mente degenerada por completo. No capítulo 8 Paulo refere-se ao domínio de nossas tendências para que se conquiste uma vida vitoriosa no poder do Espírito Santo -“Pois os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser; e os que estão na carne não podem agradar a Deus.Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça.” (Romanos 8:5-10).
Vitória mediante o viver no Espírito (Espírito versus Carne) - Os que se inclinam para o Espírito são guiados pelo Espírito (Padrão de vida positivo)
Padrão positivo 1 - (Romanos 8:4, 5 b). O salvo deve dar lugar em seu viver aos valores espiritualmente aceitos por Deus. No confronto das duas naturezas, velha e nova, o andar no Espírito garante a vitória absoluta sobre as obras da carne.
Padrão positivo 2 - (Romanos 8:6b, 10). O salvo tem como fruto de sua nova vida em Cristo a paz interior. “Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz.”
Padrão positivo 3 - “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vós” (Romanos 8:9). Somos favorecidos por esta garantia no momento em que declaramos que Jesus Cristo é o Senhor e salvador de nossas vidas.
Padrão positivo 4 – Somos transformados para a vida em Cristo a fim de que o Espírito Santo habite em nosso corpo mortal e nos dê a garantia da vivificação. Os que se inclinam para o Espírito são filhos de Deus.
ü Autor da vida eterna - Jesus Cristo (Romanos 8:1).
ü Agente da vida eterna – Espírito Santo (Romanos 8:2).
ü Alvo da vida eterna – O homem (Romanos 8:3-4).
ü Absoluta segurança – nenhuma condenação (Romanos 8:1).
Vitória ou derrota espiritual (Romanos 8:12-13)
A vitória espiritual do salvo tem a ver com a natureza renovada pelo Espírito Santo, desobrigada da carne para uma vida abundante e vitoriosa, que frutifica para a justiça e glória do Deus Eterno – “Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida por causa da justiça.” (Romanos 8:10).
A derrota espiritual, é a conseqüência da natureza corrompida do homem, que o faz escravo das paixões e desejos, conduzindo-o a caminhos de perdição e morte – “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.” (Romanos 8:8).
· Para um vivo relacionamento de filho legítimo (Romanos 8:14-17)
As sagradas Escrituras revelam-nos que, “vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.” (Gálatas 4:4-5)
ü Posição – Filho legítimo (Romanos 8:15-16). Na regeneração o salvo recebe a natureza de filho de Deus através do processo de adoção, no qual é reconhecido como filho legítimo, ou seja, é colocado na posição de filho gerado legitimamente pela Palavra, no poder do Espírito Santo.
ü Proteção – Cuidado paternal (Romanos 8:14). Somos identificados como filhos de Deus mediante o selo do Espírito Santo que nos dá a garantia de proteção, provisão e sustentação da vida, para um relacionamento agradável e permanente com Deus - “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai!” (Romanos 8:15).
ü Privilégio – Herança eterna (Romanos 8:17). Quando ingressamos na família de Deus nos tornamos membros deste grande corpo, mediante o espírito de adoção, que é uma disposição para aceitar as dificuldades presentes tendo em vista a herança eterna, reservada e testificada pelo Espírito Santo a favor dos filhos de Deus (Romanos 8:16). – A palavra usada para “filhos” no versículo 16 vem do Grego teknia (teknia), que quer dizer “crianças”, e não uioi (huioi), que é traduzido por “filhos”, como é apresentada no versículo 14. No entanto, é perfeitamente aceitável o uso dos dois substantivos para enfatizar a mesma verdade. Segundo F.F. Bruce, em Gálatas 3:23-4:7 “Paulo, na verdade, faz distinção entre o período da infância, quando seus leitores estavam sob a tutela da lei, e a obtenção de seu estado de responsabilidade como filhos uioi (huioi) de Deus, agora que foram introduzidos no evangelho. Mas o estado anterior dessas pessoas é classificado pelo termo vepioi (nepioi) “bebês” e não teknia (teknia) “crianças”. Portanto, não há motivo algum para o questionamento das duas palavras usadas por Paulo em Romanos 8:14-17. Os salvos, como filhos de Deus, são de fato herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo de uma herança autêntica e, sobretudo, eterna. Esta é a nossa real expectativa para que, à semelhança de Cristo Jesus sejamos glorificados para o louvor de nosso Deus e Pai (Romanos 8:17)
· Para uma viva esperança na glória futura (Romanos 8:18-25)
“Porque na esperança fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? (Romanos 8:24)
A nossa ardente expectativa fundamenta-se na esperança de que um dia seremos totalmente transformados. Quando esta realidade se manifestar em nossas vidas já não mais existirá sofrimentos, angústias, perseguições ou qualquer outra aflição, pois as nossas limitações estão sendo reduzidas de glória em glória mediante o processo de santificação – “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Coríntios 3:18), para uma viva e completa glorificação a ser revelada em nós (Romanos 8:18).
ü Redenção dos filhos de Deus (Romanos 8:18,19,23-25).
Paulo emprega a palavra redenção, do Grego apolutrwsin (apolytrossin) para expressar a idéia do resgate final, onde o nosso corpo mortal será transformado em corpo glorificado, à semelhança do corpo ressurreto de Jesus Cristo. (1 Tessalonicenses 4:13-18). Os que dormem em Cristo ressuscitarão e os que estiverem vivos até a trasladação da igreja serão transformados num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta (1 Coríntios 15:51-53). “...semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória..” (1 Coríntios 15:42-44).
ü Restauração completa de toda a criação de Deus (Natureza - Romanos 8:19-22). Levando em consideração que as conseqüências do pecado foram universais, afetou todas as áreas das coisas que foram criadas por Deus (João 1:3; Colossenses 1:15-16). Por isso a criação, reino animal irracional, seres humanos, reino vegetal e reino mineral a um só tempo geme e suporta angústias até agora, aguardando a redenção (Gênesis 3:17-19; Romanos 8:20-22).
No entanto, para que a redenção de todas as coisas criadas por Deus venha a acontecer, é necessário que se cumpram literalmente as profecias reveladas nas Escrituras sagradas. O clímax destas profecias está intimamente relacionado à parousia da igreja, isto é, o eminente arrebatamento daqueles que confessaram a Jesus como Senhor e salvador de suas vidas – “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus” (Romanos 8:19). A ordem dos acontecimentos a ser aguardada por nós é a seguinte:
O arrebatamento da igreja (Os vivos e os que dormem em Cristo serão trasladados para o encontro do Senhor Jesus nos ares).
As bodas do cordeiro (União de Cristo e sua igreja para a experiência maior da vida cristã – no céu).
A grande tribulação (Período de sete anos de intenso sofrimento – na terra).
A volta gloriosa de Jesus com sua igreja em glória – do céu para a terra.
O julgamento das nações (Ao final da grande tribulação)
A implantação do reino milenar (Restauração dos salvos da grande tribulação – “... e reviveram e reinaram com Cristo durante mil anos.” (Apocalipse 20:4).
Recriação de toda a natureza (Isaías 11:1-10).
Reinado de Cristo e sua igreja sobre as nações da terra.
4.4. Santificação – Unidos a Cristo e assistidos pelo Espírito Santo
(Romanos 8:26-27).
“Também o Espírito, semelhantemente nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8:26).
Este é um dos ministérios do Espírito Santo em favor dos salvos. Além de convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8), ensinar (João 14:26), santificar (Romanos 15:16), é também de sua competência o consolo dos fracos e dos oprimidos (Romanos 8:26; João 14:16-17), bem como ajudar-nos a orar, pois não sabemos orar como convém.
· Seu ministério como consolador – “...nos assiste em nossa fraqueza...” O termo “consolador” vem do grego paraklhtoV (parákletos), que significa “alguém chamado para ficar ao lado e ajudar”. Portanto, um ministério de ajudador, conselheiro, orientador e consolador. A participação do Espírito Santo em nossas vidas está também relacionada à assistência em nossas fraquezas espirituais, enfermidades físicas e psicológicas. É evidente que o Espírito Santo nos foi dado para nos assistir em todas as circunstâncias de nossas vidas, na saúde e na doença, na bonança e na escassez e em todas as áreas dos relacionamentos humanos.
· Seu ministério como intercessor – “...o mesmo Espírito intercede por nós...” (Romanos 8:26).
Com intensidade – “sobremaneira” – Uma expressão que demonstra a extraordinária preocupação de Deus com as nossas necessidades. Devemos assim fazer a nossa parte e não apenas esperarmos pelas bênçãos de Deus. O ensino prático que o Espírito Santo deixa para os salvos é que, à luz do seu exemplo, devemos cultivar em nossa experiência cristã o ministério de intercessão em favor uns dos outros e constante comunhão com o nosso Deus.
Com lamentações – “gemidos inexprimíveis” – O ensino de Paulo nesta frase evidencia-nos que em nossa limitação humana não somos claros e objetivos em nossas orações e às vezes também não gozamos de uma íntima comunhão com Deus. Por isso, em nossas fraquezas o Espírito Santo intercede por nós com gemidos inexprimíveis. A intercessão é totalmente compreendida por Deus, pois Ele conhece a mente do Espírito Santo - “E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito Santo, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos” (Romanos 8:27).
V. A SOBERANIA DE DEUS EM CRISTO - (Romanos 8:28-39 – 11:1-36)
“Com está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, e aquele que nele crer não será confundido” (Romanos 9:33)
5.1. Exórdio da Soberania de Deus (Romanos 8:28)
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.”
O eterno Deus, em sua soberania e graça, coopera conjuntamente em todas as coisas para o bem de seus filhos, daqueles que aguardam pela fé as promessas e a redenção final do corpo para a glorificação e herança eterna a ser revelada.
5.2. Eleição soberana de Deus em relação à igreja:
“Portanto, aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito dentre muitos irmãos” (Romanos 8:29).
Estamos diante de uma verdade questionada e argumentada por eruditos e pais da igreja, reformadores e teólogos contemporâneos. Esta verdade tem sido tema de estudo e discussão durante o decorrer da formação histórica e doutrinária da igreja. Todavia, é preciso levar em consideração que a beleza do estudo da soberana eleição de Deus em Cristo deve ser entendida e fundamentada à luz das verdades bíblicas e não meramente por particular interpretação.
Para nossa metodologia e melhor compreensão, desejo dividir o assunto da eleição da seguinte maneira: Eleição da igreja; comunidade cristã formada por Jesus Cristo e Eleição de Israel, nação historicamente estabelecida por Deus com a finalidade de manifestar a glória de Deus e suas verdades morais, mediante suas promessas infalíveis. Numa distribuição e exposição correta da hermenêutica, pretendo conscientizar aqueles que tiverem acesso a este comentário de que a minha pretensão é apresentar uma exegese fundamentada na doutrina bíblica à luz das verdades e das intenções de Deus para o seu povo - “portanto, aos que de antemão conheceu, também os predestinou.” (Romanos 8:29). A doutrina da eleição do homem por Deus em Cristo Jesus está diretamente vinculada à sua presciência vestida na pessoa do Senhor Jesus por meio da graça estabelecida no Gólgota – “Recordando-nos, diante do nosso Deus e Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição” (1 Tessalonicenses 1:3-4).
· O conhecimento de Deus:
O conhecimento divino tem como alicerce a graça de Deus em Cristo, isto é, quando o Eterno se predispõe a manifestar o seu conhecimento para com aqueles que criou, interpõe entre Ele, o Criador, e o homem, a criatura, sua misericórdia e graça, que se materializa na pessoa do Filho, expressão exata do ser de Deus e encarnação da própria vontade do Eterno. Por conseguinte, Deus potencializa o conhecimento que tem de todas as coisas estabelecidas por Ele com uma destinação superior, na força da expressão do seu amor. Pois Deus é amor, e este amor é um de seus atributos absolutos. “O conhecimento de Deus é um sentimento capaz de fazer vibrar o coração do homem”, disse J. I. Packer, e, em seu eterno conhecimento, Deus traz à existência as verdades por Ele previamente estabelecidas, que são consumadas por meio de Cristo Jesus na plenitude dos tempos – “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8).
O conhecimento de Deus tem a ver com a sua presciência, que por sua vez abre caminho para a eleição. No entanto, para que a eleição, segundo o plano de Deus, seja justa e não seletiva, ou pré-condenatória, e Deus não seja entendido como injusto numa eleição pré-classificatória, as Escrituras declaram que a eleição do homem, idealizada por Deus, vem a lume mediante a vontade e graça de Jesus Cristo, que favorece o homem através da fé – “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele.” (Efésios 1:4). Consulte ainda os seguintes textos: 2 Tessalonicenses 2:13; 1 Pedro 1:10.
· A predestinação em Cristo:
Predestinação é um termo grego proorisein (proórisein) que põe em destaque a determinação idealizada por Deus de conduzir os justos à vida eterna por meio de Jesus Cristo – “Predestinou para serem conformes a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Romanos 8:29). Deus determina na eternidade o que vai acontecer no tempo por intermédio de Cristo Jesus. A ação da mente é divina materializada na pessoa do Filho de Deus – “...e em amor nos predestinou para ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade...” (Efésios 1:4,5). Logo, a predestinação é uma porta franca e graciosa que se abre propositalmente para a salvação do homem perdido, e a oportunidade é oferecida por meio de Jesus Cristo. A salvação é uma dádiva universal, ou seja, sua suficiência é para todos, mas sua eficiência é para os que ouvem a palavra de Deus, crêem no Senhor Jesus e o recebem como Senhor e salvador - “...a fim de sermos para o louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, e tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, até o resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.” (Efésios 1:12-14).
A doutrina da predestinação para a salvação nos ensina a singular verdade de que a eleição para a condenação do homem perde a sua força nas Escrituras quando o amor de Deus é visto como base da predestinação. De maneira alguma há injustiça por parte de Deus, pois não é da vontade dEle que um só homem pereça sem que seja beneficiado com a mensagem de esperança e fé do evangelho da graça – “Porque o Filho do homem veio salvar o que estava perdido (Mateus 18:11). “Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos (Mateus 18:14). Esta vontade soberana de Deus tem a sua consumação na chamada do homem para a salvação.
· A chamada para a salvação:
“E aos que predestinou, a estes também chamou...” (Romanos 8:30 a; Efésios 1:3-14).
O chamado de Deus ao homem para a salvação está proporcionalmente direcionado à eleição em Cristo. A eleição é uma escolha soberana estabelecida por Deus, mediante o Filho, para a salvação dos que aceitam seu sacrifício como oferta pelo pecado (Hebreus 2:3,10; Tito 2:11). Mais uma vez, verificamos que o tema da tão grande salvação, é apresentado como uma oportunidade franqueada a todos os homens e associada aos méritos de Jesus Cristo na cruz do calvário. A salvação torna-se legal pela justificação – “...e aos que chamou, a estes também justificou...” (Romanos 5:1-12; 8:30). A salvação tem como alvo absoluto a glorificação do homem – “...e aos que justificou, a estes também glorificou.” (Romanos 8:18-27,30).
· Considerações parciais:
ü A eleição tem por base o conhecimento eterno de Deus (Romanos 8:29).
ü A eleição para a salvação descarta totalmente a participação do homem e de suas obras (Efésios 2:8-10).
ü A eleição foi planejada antes da fundação do mundo e consumada em Cristo Jesus na plenitude dos tempos (Efésios 1:4-14).
ü A eleição revela ao homem a graça de Deus em Cristo Jesus e nunca a reprovação ou condenação do homem (João 3:16; Romanos 5:5-8; Colossenses 3:12-17; 2 Pedro 1:3-4).
ü A eleição tem como finalidade atrair os homens ao amor de Deus em Cristo Jesus (Mateus 11:28-30).
ü A eleição tem por objetivo nos conduzir à santificação para o aperfeiçoamento do homem interior, até que todos que aceitam Jesus como Senhor e Salvador cheguem à estatura do varão perfeito mediante o processo da santificação e obediência a Deus (1 Coríntios 1:30-31; 2 Coríntios 3:18; 2 Tessalonicenses 2:13).
ü A eleição tem como alvo final a glorificação dos filhos de Deus, à semelhança de Cristo Jesus, para a redenção eterna (Romanos 8: 18-25, 30; Efésios 4:12-13, 15; 2 Tessalonicenses 2:14; 1 João 3:2).
· A segurança dos salvos:
“Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8:31).
O soberano Deus é o nosso juiz – Nele temos todas as garantias e favorecimentos que nos dão total segurança de que, salvos em Jesus Cristo, somos protegidos do mal para uma vida abundante e vitoriosa (Romanos 8:31-34). A pergunta no versículo 31 – “...se Deus é por nós, quem será contra nós?...” principia uma série de outras perguntas e respostas que asseguram aos salvos a total proteção de Deus no decorrer da vida cristã – “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?” Ninguém, pois Deus é nosso juiz. “Quem nos condenará? Ninguém, pois Cristo Jesus é nosso advogado, ou melhor, foi Ele quem morreu, ressuscitou e vivo está à direita de Deus e intercede em nosso favor (Romanos 8:32,34; 1 João 2:1-2). “Quem nos separará do amor de Cristo?” nada, absolutamente nada. As dificuldades, os sofrimentos, as perseguições, a fome, a pobreza, o perigo, e até mesmo a morte, não poderão nos separar do amor de Cristo, Senhor e guardião de nossas vidas (Romanos 8:35,38,39).
O soberano Deus é a nossa vitória (Romanos 8:36,37) “Como está escrito” no versículo 36. Paulo lança mão da palavra escrita sob o domínio e autoridade da inspiração bíblica para evidenciar a realidade da experiência cristã, em face aos sofrimentos decorrentes da mesma – “Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro”, uma citação do salmo 44:22. Não obstante a isto somos assegurados por Deus de que a vitória é nossa – “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Romanos 8:37). Esta é, sem sombra de dúvidas, a melhor resposta para toda e qualquer insegurança que porventura nos assalte. Vale a pena buscar segurança e proteção em Deus.
5.3. A eleição soberana de Deus em relação à Israel:
“Mas relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo” (Romanos 9:27).
A nação de Israel foi escolhida por Deus em Abraão para ser uma bênção e uma potência missionária para todas as nações e famílias da terra – “De ti farei uma grande nação, e te abençoarei e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:2,3). Deus escolheu soberanamente a nação de Israel prometendo-lhe grandeza, prosperidade e bênçãos sem medida. Deus exigiu apenas que a nação eleita em Abraão tivesse uma participação fundamental na tarefa de evidenciar ao mundo os verdadeiros valores de Deus e seus padrões morais – “Sê tu uma bênção!”. Jamais devia correr o risco de falhar em seu dever como nação. Devia, entretanto, honrar, obedecer e confiar inteiramente nas santas promessas de Deus, porque com certeza a sua fidelidade, amor e proteção os acompanharia como nação e povo escolhido por toda a eternidade.
Deus nunca falhou em suas promessas e propósitos, e jamais falhará. Infelizmente, o mesmo não aconteceu com Israel, historicamente conhecida como nação e povo do Eterno Deus, a nação de Israel não foi capaz de cumprir sua responsabilidade e missão dada por Deus. Ao contrário, apresentou-se como um povo de coração rebelde e contumaz, restando apenas a esperança do cumprimento de todas as promessas de Deus em seu favor. O trono de Davi continua desocupado, e as profecias finais relativas a Israel ainda não se cumpriram. Nos capítulos 9 a 11 de Romanos, Paulo passa a rememorar com tristeza e dor no coração a trágica rejeição de Israel para com Deus. Vejamos a idéia central de cada capítulo:
Cap. 9 – A incredulidade de Israel e a soberania de Deus.
Cap. 10 – A incredulidade de Israel e a salvação para todos os povos.
Cap. 11 – A incredulidade de Israel e o remanescente fiel.
· A incredulidade de Israel e a Soberania de Deus: Romanos 9:1-33). O passado de Israel revela-nos que a soberania de Deus não pode ser questionada pelo homem – “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?” (Romanos 9:20).
A profunda tristeza de Paulo em face à incredulidade de Israel (Romanos 9:1-5).
ü Sua dor e solicitude (versos 1-3).
ü Sua verdade sobre Israel (versos 4-5).
Israel havia sido alvo de tantos privilégios e valores divinos mas por sua incredulidade e desvio distanciou-se do fruto da gloriosa bênção de Deus. Paulo destaca estes privilégios:
Adoção – Deus sempre se identificou como Pai e os chamou de filhos numa relação íntima e familiar (Êxodo 4:22).
Glória – O sinal misterioso da presença de Deus shekinah, foi uma demonstração da graça e proteção para os filhos de Israel (Salmo 147:20).
Alianças – Os judeus foram os únicos privilegiados quanto às alianças de Deus no passado. Abraão, o grande patriarca, e Moisés, o extraordinário líder, são demonstrações do chamado e do cumprimento de todas as promessas de Deus (2 Samuel 7:13).
Lei – A lei foi dada por Deus por intermédio de Moisés a um povo, cuja destinação e valores deviam ser a manifestação da glória de Deus às demais nações da terra, mediante testemunho e vida reta perante o Todo Poderoso, pela obediência e fé nas promessas do Eterno.
Culto – A instituição das cerimônias religiosas, com a finalidade de produzir adoração verdadeira do povo ao Deus único, através do acesso ao templo e do ministério dos sacerdotes, tem por objetivo a união e o fortalecimento da nação perante Deus e a valorização do culto monoteísta. Enquanto as outras nações serviam a deuses pagãos, a nação eleita de Israel deveria servir ao Deus único e verdadeiro, criador dos céus e da terra.
Promessas – As bênçãos de Deus aos patriarcas, profetas e ao restante do povo têm por base as promessas feitas a Abraão e todos aqueles que se destinaram à obediência a Deus e uma vida de fé. A partir destes objetivos previamente estabelecidos por Deus, tomando por base as promessas feitas a Abraão, estas bênçãos deveriam alcançar os demais povos da terra e o cumprimento da promessa do reino messiânico e seu estabelecimento literal para todos os povos da terra - “O cetro não se arredará de Judá nem o bastão de entre os seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos” (Gênesis 49:10).
Patriarcas – Os grandes pais da nação judaica, Abraão, Isaque e Jacó, foram escolhidos para dar seqüência aos planos de Deus na formação de uma grande nação.
Cristo Jesus – O libertador que trouxe salvação para todos os povos. O maior privilégio de todos, pois ele é Deus bendito para todo o sempre, mediante graça e benevolência, estende o favor de Deus aos carentes e necessitados – “...Deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!” (Romanos 9:5).
A posteridade natural não representa o verdadeiro Israel de Deus (Romanos 9:6-18).
Paulo passa a explicar que a rejeição de Israel ao Deus Eterno e verdadeiro, não põe em dúvida as promessas das Escrituras e a fidelidade do Todo Poderoso. Paulo faz uma apologia contra a acusação de que Deus tenha sido infiel.
A fidelidade de Deus e a infidelidade de Israel: Nunca foi propósito de Deus que todos os descendentes de Abraão fossem agraciados com suas promessas. Os descendentes incluídos nas promessas foram os da fé, na qual viveram Abraão e aqueles que descenderam dele em obediência perante Deus. Os filhos espirituais foram os escolhidos e não os carnais. Isto é uma demonstração da grande misericórdia e fidelidade de Deus (Romanos 9:6,7,14-6). Prova absoluta – O nascimento de Ismael e Isaque, e o nascimento de Esaú e Jacó (Romanos 9:8-13). O fator principal da escolha não foi o nascimento de nenhum deles, mas a promessa de Deus. Por exemplo, o que aconteceu em relação a Abraão, em que a promessa foi feita antes da concepção de Isaque – Assim, a criança nasceu por causa da promessa, e não a promessa fora dada porque a criança nasceu (Romanos 9:8-9).
ü A fidelidade de Deus e sua escolha soberana (Romanos 9:10-13).
Quando Deus escolheu soberanamente Israel como nação, a destinação não dependeu de méritos pessoais de quem quer que seja. Esaú e Jacó, nascidos do mesmo pai e da mesma mãe, não tinham praticado bem ou mal, para que a escolha viesse a ser direcionada a Jacó. O fato de Esaú ter sido rejeitado não muda de forma alguma os propósitos e a fidelidade de Deus em relação ao destino histórico das nações (Romanos 9:10-12).
Prova Absoluta – “Como está escrito: amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú”. O termo bíblico “aborreci” é usado aqui para demonstrar que os propósitos de Deus têm absoluta primazia. “aborreci” no sentido comparativo (Lucas 14:26; Mateus 10:37)
ü A fidelidade de Deus e sua misericórdia (Romanos 9:14-18).
Nestes versículos Paulo procura conciliar a absoluta soberania de Deus em relação à sua misericórdia e o livre arbítrio do homem. Paulo aceita o fato da soberania de Deus, mas não descarta a realidade em que se encontra o seu povo. No caso específico da nação de Israel, o remanescente fiel será salvo. Não há injustiça em Deus – “Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!” (Romanos 9:14). No contexto de Romanos 9:15 em conexão com Êxodo 33:19 a misericórdia de Deus em relação a Moisés e o remanescente fiel se apresenta indubitável. Logo, não há de que reclamar o fato da justa e soberana punição de Deus ter sido aplicada aos que transgrediram a lei, o culto e a santidade daquele que é eterno. A disciplina e a misericórdia de Deus têm o mesmo objetivo: Ele disciplina porque ama e age com misericórdia porque é longânimo.